quinta-feira, 10 de junho de 2010

A propósito da sugestão das colegas que leram Ilse Losa e do vosso trabalho sobre os retratos, deixo este excerto da autora:



Nós somos feitos uns dos outros (...). Formamo-nos pela vida fora das parcelas que são os outros e somos, por nossa vez, uma parcela desses mesmos outros. É assim a comunicação humana, muito mais funda do que se supõe, por não se fazer dum jacto, mas lenta e persistentemente. Eu seria diferente sem os fanáticos desumanizados que me agrediram num tranquilo dia de Primavera. A sua brutalidade vive em mim, viverá sempre em mim, mas a minha inocência daquele momento, a dor e a minha solidão, por sua vez, vivem neles, por mais rudes e duros que possam ser.



Ilse Losa (1987). Sob Céus Estranhos. Porto: Afrontamento. p.17.

Imagem: Steven Kenny (2008). The Accessory.

Reproduzido do blogue «Bicho-carpinteiro»






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5 comentários:

  1. Ana Marta Carmona 10.º B18 de abril de 2010 às 17:12

    Aqui vai os meus versos elaborados na aula de sexta a propósito de alguns temas já muito 'batidos':
    Uma gota de água sobre a sociedade
    Tentando melhorá-la
    Mas sempre acabando ignorada
    Assim vejo eu a Liberdade

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  2. A liberdade assemelha-se a um passarinho,
    por mais que o agarrémos
    este voa e segue o seu caminho.

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  3. Amor, que o gesto humano na alma escreve

    Amor, que o gesto humano na alma escreve,
    Vivas faíscas me mostrou um dia,
    Donde um puro cristal se derretia
    Por entre vivas rosas e alva neve.

    A vista, que em si mesma não se atreve,
    Por se certificar do que ali via,
    Foi convertida em fonte, que fazia
    A dor ao sofrimento doce e leve.

    Jura Amor que brandura de vontade
    Causa o primeiro efeito; o pensamento
    Endoudece, se cuida que é verdade.

    Olhai como Amor gera, num momento
    De lágrimas de honesta piedade,
    Lágrimas de imortal contentamento.

    Luís de Camões


    Patricia Antunes Nº18 10ºA

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  4. Tomou-me vossa vista soberana

    Tomou-me vossa vista soberana
    Aonde tinha as armas mais à mão,
    Por mostrar que quem busca defensão
    Contra esses belos olhos, que se engana.

    Por ficar da vitória mais ufana,
    Deixou-me armar primeiro da razão;
    Cuidei de me salvar, mas foi em vão,
    Que contra o Céu não vale defensa humana.

    Mas porém, se vos tinha prometido
    O vosso alto destino esta vitória,
    Ser-vos tudo bem pouco está sabido.

    Que posto que estivesse apercebido,
    Não levais de vencer-me grande glória;
    Maior a levo eu de ser vencido.

    Luís de Camões

    Emanuel Antunes 10ºA nº9

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  5. Belo trecho, aquele de Ilse Losa. A lembrar aquele conceito que trabalhámos em Filosofia: só os humanos fazem humanos; a nossa humanidade depende do contacto com a humanidade existente em cada um daqueles com quem convivemos. Daí a importância da polis. Por isso foi na polis (na Ágora, mais concretamente)que nasceu a filosofia e tudo o que há de mais nobre na civilização humana. A razão nasce e cresce no contacto (que é frequentemente confronto de razões e pontos de vista. No isolamento da selva nascem o obscurantismo e o misticismo.

    Jorge Rocha

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