quarta-feira, 26 de abril de 2023

Personagens queirosianas

 Perfil biográfico de Carlos da Maia e Gonçalo Mendes Ramires

- deixa aqui o teu texto - 

Os Maias by Eça de Queirós | Goodreads

A Ilustre Casa de Ramires - 1

13 comentários:

Anónimo disse...

O meu nome é Carlos da Maia. Hoje, regresso a Lisboa, passados dez anos. Em Paris, consegui espairecer e assentar as minhas ideias. Mas Maria Eduarda continua presente na minha mente. Como o tempo é fugaz! Dez anos passaram, olho para Lisboa e tudo se encontra na mesma, se não ainda mais decadente e decrépito. Nada mudara!
O Ega, o meu velho amigo Ega, já está há mais tempo do que eu em Lisboa e o seu sentimento é o mesmo, pois “Não há nada, com efeito, que caracterize melhor a pavorosa decadência de Portugal, nos últimos trinta anos”.
Vou ter com o Ega para passearmos por esta Lisboa à qual não pertenço. Não posso pertencer. Tudo parece inútil!
Descemos os dois a Avenida. E quem vimos? Dâmaso “barrigudo,nédio, mais pesado de flor ao peito, mamando um grande charuto(…)”, “Chic a valer!” este Dâmaso.
Decidi ir até ao Ramalhete, mas não sei o que me espera. Ega continua a acompanhar-me e, quando entrámos nas portas daquele casario abandonado… Que dor! “Eram quatro horas, o sol curto de inverno tinha já um tom pálido”.
Comovido, avistei todo aquele espaço abandonado e todo o passado me veio à memória. A presença do meu avô Afonso, apesar de morto, continua ali. A ele devo toda a minha educação e personalidade. Criou-me, em Santa Olávia, a bela quinta do Douro. Sempre foi um homem rígido, mas graças a ele, formei-me em medicina e aqui estou hoje.
Se hoje sou um homem diletante, não é pela educação que recebi, mas sim pela sociedade em que vivo. Tudo me parece inútil e deixo sempre tudo pela metade. Cheio de projetos profissionais, como instalar um laboratório, construir um consultório para exercer a minha atividade de médico, e até fundar uma revista…Tudo ficou pela metade. Caí no diletantismo e na inatividade.
Olho para Ega e, naquela solidão do Ramalhete, digo-lhe: “É curioso! Só vivi dois anos nesta casa, e é nela que me parece estar metida a minha vida inteira!” Recordo, enfim, o grande amor de minha vida - a minha irmã Maria Eduarda, que, a esta hora, está casada. Sim, Ega, Maria Eduarda casou. Num silêncio profundo, recordamos agora, as nossas aventuras e paixões fracassadas.
Ega, olha para mim e diz-me:
- “E que somos nós? Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de Latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão…”
Rimos ambos. Depois, outra vez sério, dei a minha teoria de vida, que agora me governa: “-Nada desejar e nada recear… Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo… Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo não ter contrariedades “.
Ega concordou comigo, da inutilidade de todo o esforço, “ Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder…”.
E agora partíamos para outro esforço: apanhar o americano.
Tiago Silva 11ºD

Anónimo disse...

(1)

Carlos Eduardo da Maia é um dos personagens principais do romance “Os Maias” de Eça de Queirós, publicado em 1888, e representa a elite da sociedade portuguesa no final do século XIX. É filho de Pedro da Maia, um homem medroso, “nervoso”, de certa “fraqueza” e que possuía uma “linda face oval de um trigueiro cálido, dois olhos maravilhosos e irresistíveis” que o assemelhavam a “um belo árabe”, e de Maria Monforte, uma mulher loira e de beleza avassaladora. É neto de Afonso da Maia, um “velho já, quase um antepassado, mais idoso que o século” que defendia o liberalismo.
Devido ao suicídio do seu pai, Carlos é criado pelo avô em Santa Olávia, na Quinta do Douro. Afonso queria que o seu neto recebesse a educação que não conseguiu dar ao filho para que este viesse a “ser útil ao seu país”, para isso, chama o Sr. Brown para educar o neto à inglesa. O Sr. Brown por sua vez dá primazia ao exercício físico - “Primeiro forrça! Forrça! Músculo...”, e às regras duras que Afonso impõe ao neto. Além do exercício físico, o ensino de Carlos tem como base o contato com a natureza — “(…) correr, cair, trepar às árvores, molhar-se, apanhar soalheiras”; a aprendizagem de línguas vivas como o inglês — “Nada mais absurdo que começar a ensinar a uma criança numa língua morta (…)”; o rigor, método e ordem — “(…) tinha sido educado com uma vara de ferro!”, “Não tinha a criança cinco anos já dormia num quarto só, sem lamparina; e todas as manhã, zás, para dentro de uma tina de água fria (…)”; a submissão da vontade ao dever — “Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me vou deitar! (…) Carlos, tenha a bondade de marchar já para a cama”; e o desprezo do conhecimento teórico — “É saber factos, noções, coisas úteis, coisas práticas...”. Assim, Carlos cresce com uma educação moderna e laica e cursa Medicina em Coimbra, tornando-se um homem culto, inteligente, bem-educado, corajoso, frontal, refinado e de gostos requintados.
Carlos é descrito como um "formoso e magnifico moço, alto, bem feito, de ombros largos, com uma testa de mármore sob os anéis dos cabelos pretos, e os olhos dos Maias, aqueles irresistíveis olhos do pai, de um negro líquido, ternos como os dele e mais graves”, de barba “muito fina, castanho-escura, rente na face, aguçada no queixo” e com um “bonito bigode arqueado aos cantos da boca”, apresentando “uma fisionomia de belo cavaleiro da Renascença.”
Após terminar o curso, onde conhece o seu grande amigo João da Ega, faz uma viagem de um ano pela Europa. De regresso ao Ramalhete, em Lisboa, Carlos traz em mente grandiosas ideias e projetos profissionais, como: montar um consultório e um laboratório — “Carlos pensara em arranjar um vasto laboratório”, “no Rossio, o consultório do Dr. Maia”, escrever um livro de nome “A Medicina Antiga e Moderna” e uma revista. Contudo esses planos não são concretizados — “Má estreia, filho, péssima estreia! (…) Carlos pensava nestas palavras, dizia também consigo: ‘Péssima estreia’ E nem só a estreia do Ega era péssima; também a sua.” e a personagem acaba se conformando com uma vida mundana e sem sentido.
Carlos é um médico bem-sucedido e um membro respeitado da alta sociedade lisboeta. Porém não deixa de ser profundamente insatisfeito com a sua vida e com o que o rodeia, não encontrando um propósito para a sua existência. É uma personagem idealista e romântica que defende ideais como a liberdade e a igualdade entre as pessoas. É ainda descrito como progressista, que acredita que a ciência e a tecnologia têm um papel fundamental no progresso humano. Os seus ideais acabam por refletir a mentalidade da classe social a que pertence, a elite.

S.M. 11ºD

Anónimo disse...

(2)

Em relação aos afetos, Carlos é um homem romântico, apaixonado e admirado pelas mulheres. Depressa fascina a condessa de Gouvarinho, uma senhora de “(…) cabelos crespos e ruivos, o narizinho petulante, e olhos escuros, de um grande brilho, uma pele muito clara, fina e doce (…)”, com a sua aparência e comportamento, e acabam por ter uma relação adúltera. Todavia, esta relação acaba quando Carlos conhece Maria Eduarda, uma mulher “alta, como uma carnação ebúrnea, bela como uma deusa”, por quem se apaixona verdadeiramente. Ao saber a verdadeira identidade de Maria Eduarda, consome o incesto voluntariamente por não ser capaz de resistir à sua intensa atração, renunciando a preconceitos e colocando o amor em primeiro lugar. Este envolvimento com Maria Eduarda é retratado, para Carlos, como um momento de felicidade e realização, enquanto a morte prematura da sua amada afeta-o profundamente, contribuindo para a sua melancolia e desespero.
Carlos e Ega, apesar de serem o oposto em muitos aspetos, compartilham várias críticas a Portugal e à sociedade portuguesa — “o país é uma choldra”. As críticas proferidas abrangem o conformismo e a falta de ação da elite portuguesa que, apesar de possuir uma grande educação e recursos financeiros, não consegue transformar/mudar a sociedade em que vive, pois esta prende-se ao passado e não evolui — “Creio que não há nada de novo em Lisboa (…) desde a morte do senhor D. João VI”, “(…) reentrando na intimidade daquele velho coração da capital. Nada mudara. A mesma sentinela (…) Os mesmos reposteiros (…) O Hotel Aliança conservava o mesmo ar mudo e deserto.”, “(...) arrasta os seus derradeiros dias, caquéctica e caturra, a velha Lisboa fidalga!”.
Os dois criticam ainda a política, as finanças e sociedade rendida ao dinheiro — “A política! Isso tornara-se moralmente e fisicamente nojento, desde que o negócio atacara o constitucionalismo como uma filoxera! Os políticos hoje eram bonecos de engonços, que faziam gestos e tomavam atitudes porque dois ou três financeiros por trás lhes puxavam pelos cordéis.”, “O novo Portugal só compreendia a língua da libra, da massa. Agora, filho, tudo eram sindicatos!”, assim como o facto de Portugal imitar costumes estrangeiros — “(…) essa simples forma de botas explicava todo o Portugal contemporâneo. (…) Tendo abandonado o seu feitio antigo, à D. João VI, que tão bem lhe ficava, este desgraçado Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas, sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, feitio próprio, manda vir modelos do estrangeiro”, “É de um reles, de um postiço! Sobretudo postiço! Já não há nada genuíno neste miserável país, nem mesmo o pão que comemos!”.
Afonso, antes de falecer, também opina e critica com três conselhos — “aos políticos: ’menos liberalismo e mais carácter’; aos homens de letras: ‘menos eloquência e mais ideia’; aos cidadãos em geral: ‘menos progresso e mais moral’.” A morte do avô assombra Carlos e este decide instalar-se em Paris, onde assume a posição de um homem rico que “falhou na vida”, em parte, devido à sociedade em que vive, que é ociosa e acabaria por contagiá-lo, levando-o a viver para a satisfação do prazer dos sentidos e a renunciar ao trabalho e às ideias pragmáticas que os dominavam — “(…) falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação.”

S.M. 11ºD

Anónimo disse...

Carlos Eduardo da Maia, filho de Pedro da Maia e de Maria Monforte, é um dos protagonistas da obra "Os Maias" de Eça de Queirós. Ele é uma personagem complexa e multifacetada, que representa a elite da sociedade portuguesa no final do século XIX. Esta personagem, devido à sua centralidade, tem direito a um tratamento privilegiado por parte do narrador.
Carlos é um homem "Alto, bem feito, de ombros largos, com uma testa de mármore sob os anéis dos cabelos pretos, e os olhos dos Maias, aqueles irresistíveis olhos do pai, de um negro líquido, ternos como os dele, e mais graves. Trazia a barba toda, castanha-escura, rente na face, aguçada no queixo - o que lhe dava, com o bonito bigode arqueado aos cantos da boca, uma fisionomia de belo cavaleiro da Renascença". Revelando-se, também, uma pessoa culta, bem-educada, de gostos requintados, corajosa e frontal, e amante da ciência e das mulheres. Carlos também é um idealista e romântico, que defende a liberdade e a igualdade entre as pessoas, e um progressista, que acredita na ciência e na tecnologia como sendo uma chave essencial para o progresso da humanidade. Tendo assim tudo para ser um bom exemplo como homem.
A mentalidade de Carlos deve-se muito à educação que teve, uma educação inglesa, escolhida por seu avô, quem cuidava dele. Uma educação que valorizava o “amor da virtude” e “da honra” como convinha a “um cavalheiro” e a “um homem de bem” e que procurava "criar a saúde, a força e os seus hábitos", priorizando o corpo e o espírito, dando, assim, primazia ao exercício físico e ao contacto direto com natureza.
O protagonista é um homem cheio de projetos profissionais - instalar um laboratório, exercer a sua atividade de médico, “faze r um livro de ideias gerais que se devia chamar «Medicina Antiga e Moderna»”, mas acaba por cair no diletantismo e na inatividade. Não devido à sua educação, mas sim, à sociedade em que se viu inserido. A ausência de motivações e o próprio estatuto económico, que não lhe exigia qualquer esforço, e a paixão romântica que o seduziu, foram motivos suficientes para, apesar de culturalmente bem formado, desistir, sentir o desencanto e afastar-se das atividades produtivas.
Carlos tem uma relação fugaz com a condessa de Gouvarinho, a qual nutre por ele uma intensa paixão, mas que não era correspondida por ele. Depois, Carlos vive de forma exacerbada e intensa a sua grande paixão por Maria Eduarda. “Carlos falava daquele grande amor, ele sentia-o profundo, absorvente, eterno, e para bem ou para mal tornando se daí por diante, e para sempre, o seu irreparável destino.” Estes vivem um grande amor, que posteriormente se vem a descobrir incestuoso, pois Maria Eduarda é, na verdade, sua irmã. Carlos mesmo depois de saber quem Maria Eduarda realmente é, pratica o incesto voluntariamente, pois não é capaz de resistir à atração que sente por ela.
João da Ega, é um amigo, confidente e cúmplice inseparável de Carlos que o traz sempre de volta à realidade, e que o ampara e ajuda nos momentos mais difíceis e dolorosos, não só em termos psicológicos, mas também na resolução de problemas práticos.

(1ª parte)

C.B. 11D

Anónimo disse...

Carlos tem uma visão crítica principalmente ligada à decadência do país. Depois da sua viagem pelo mundo, quando regressa a Portugal e dá um passeio com Ega, estes fazem inúmeras reflexões sobre Portugal, como: a sensação de total imobilismo da sociedade portuguesa – “Nada mudara”, a falta de fôlego nacional para acabar os grandes empreendimentos, a imitação acrítica do estrangeiro, e a decadência dos valores genuínos. No final da obra, Carlos e Ega chegam à conclusão que “não vale a pena viver”, porque por mais que se tente lutar para mudar a vida, não vale a pena o esforço, pois tudo são ilusões e poeira.
Em suma, Carlos da Maia é uma personagem complexa e idealista, que vive em conflito entre suas ideias e a realidade. Mesmo sendo um jovem bonito, inteligente, cobiçado e culto, com tudo o que é necessário para se tornar um vencedor, Carlos é destinado, tal como o seu pai, Pedro, a fracassar. Acabando, assim, por falhar como ele próprio admite – “falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação”, este fracasso representa o fracasso de toda uma geração que prometia mudanças das mentalidades e das instituições.

(2ª parte)

C.B. 11D

Noémia Santos disse...

Obrigada pelos vossos textos.
Darei a cada um de vós indicações de melhoria, se for o caso.

Anónimo disse...

Gonçalo Mendes Ramires, personagem principal d’A Ilustre Casa de Ramires, assume traços de grande especificidade no universo da obra, primeiramente porque, quase toda a história se encontra relacionada com os seus pontos de vista, as suas ações e os seus sonhos ou objetivos. Para além disso, são também constantes as invasões no mundo interior do protagonista, pelo facto de Gonçalo ser a única personagem do romance a revelar uma verdadeira densidade psicológica.
O destaque de Gonçalo decorre ainda do facto de ser ele, paralelamente, o autor de uma outra história inserida no romance, a novela histórica A Torre de D. Ramires, que foi um desafio dado por José Lúcio Castanheiro.
Gonçalo Ramires, também conhecido como “o Fidalgo da Torre”, estudou em Coimbra, «moço muito afável, esbelto e louro, de uma brancura sã de porcelana, com uns finos e risonhos olhos que facilmente se enterneciam, sempre elegante e apurado». Tem uma inclinação para o partido Regenerador e um grande objetivo de pertencer à política. Empenhado neste projeto Gonçalo decide entrar na carreira das Letras como meio para atingir fins políticos. É logo na sua juventude que se propõe a escrever o romance histórico «fundado nos anais da sua casa, num rude feito de sublime orgulho de Tructesindo Mendes Ramires». O projeto é concretizado e finalizado anos mais tarde, depois de Gonçalo se formar «bacharel com um R no terceiro ano» e de voltar a instalar-se na Torre que, «fundada em glória e força» remete simbolicamente para as gerações que o antecederam.
Apesar de ser autónoma em relação à história principal, a novela A Torre de D. Ramires, apresenta uma grande relevância, porque, ao longo da sua escrita, são frequentes as considerações acerca do ato de escrever e suas dificuldades, incluindo-se nelas o trauma do plágio. Gonçalo evolui, repensa a sua vida e o seu legado histórico, estabelece-se uma comparação entre os valores do passado (como a honra, a lealdade e a vingança) e a sua ausência no presente. Confronta-se, constantemente, com valores dos seus antepassados, que obrigam ao cumprimento da palavra dada e, certos comportamentos desleais de Gonçalo contrastam com esses valores e negam a fidelidade ao nome histórico da sua família.
Gonçalo para alcançar o objetivo de se tornar deputado, reconcilia-se com André Cavaleiro (ex. amante da sua irmã, Gracinha, que a abandonou de forma cruel) de modo a ganhar as eleições. Assim foi, Gonçalo conseguiu vencer, e pouco depois de se ter instalado em Lisboa, surpreende todos e “Silenciosamente, quase misteriosamente, arranjara a concessão de um vasto prazo de Macheque, na Zambézia, hipotecara a sua quinta histórica de Treixedo, e embarcava em começos de junho no paquete Portugal, com o Bento, para a África”, abandonando a sua condição de deputado.
Ao fim de quatro anos, este regressa "ótimo", "mais homem", incutido de "um entusiasmo de fundador de Império", com cabedais para restaurar o seu património.
Por fim, Gonçalo Mendes Ramires, sob a perspetiva de, João Gouveia (um grande amigo seu), é descrito como “aquele todo de Gonçalo” incluindo as suas contradições, “assim todo completo, com o bem, com o mal” e é visto como uma semelhança simbólica com Portugal.

B.A 11º A

Anónimo disse...

Gonçalo Mendes Ramires, ou "Fidalgo da Torres" (p.7), protagonista da obra "A Ilustre Casa de Ramires" caracteriza-se fisicamente por ser um "[...] moço muito afável, esbelto e louro, de uma brancura sã de porcelana, com uns finos e risonhos olhos que facilmente se enterneciam, sempre elegante e apurado na batina e no verniz dos sapatos [...]" (p.12).
No desenlace do romance, o "Fidalgo da Torre" apresenta falta de autoconfiança e, consequentemente cobardia, levando-o a exagerar a verdade até à mentira de modo a que ficasse bem visto. É exemplo a noite em que Manuel Relho, já embriagado, atira pedras para as janelas da livraria de Gonçalves, assustando o mesmo. Este escondera-se por uma noite mas, ao relatar o sucedido a Gracinha, irmã por quem tanto tinha estima, e ao cunhado, a história já seria diferente: "Eu desci, e num instante a Torre ficou desembaraçada de Relhos e de barulhos" (p.101)
A sua instabilidade e o modo como era influenciável fazem parte do seu caráter, relacionando-se de certa forma com as características mencionadas anteriormente. O modo como era influenciável retratava-se na origem de um novo projeto: candidatar-se a deputado. O protagonista assume a ideia de João Gouveia, grande amigo, como um querer próprio. A sua instabilidade reflete-se na sucessão de acontecimentos seguintes ao mais recente projeto, onde Gonçalo aceita concílio com Cavaleiro, pessoa por quem mantinha implicância devido ao desgosto amoroso que provocara a sua irmã, Gracinha.
Apesar de manifestar cobardia, falta de autoconfiança e inconstância, o herdeiro do nome histórico Ramires apresentava ser um homem bom, justo e caridoso sendo exemplo a ajuda que este forneceu a um cavador de enxada que "[...] se arrastava penosamente, coxeando.". Gonçalo emprestou o cavalo como meio de transporte e foi a pé, ao lado do cavador.
Ao assumir ter grande talento na escrita da novela histórica "A Torre de D. Ramires" e, como evidenciado na caracterização física, ser cuidadoso com os pormenores do seu vestuário, Gonçalo demonstra ser vaidoso.
A partir do capítulo X, Gonçalo muda drasticamente de atitudes expondo ser uma personagem redonda. A sua significativa mudança associa-se principalmente à sua grande vitória na eleição, que o levou a tomar consciência do seu verdadeiro valor, pondo de lado a sua volubilidade e insegurança.
Com isto, Gonçalo é considerado um protagonista complexo, sendo comparado a Portugal por João Gouveia: "[...] Assim todo completo, com o bem, com o mal, sabem vocês quem ele me lembra? -Quem? -Portugal." (p.420/421). Representando o bem por ser um homem bondoso, caridoso e justo, e o mal pela sua cobardia, tendência a mentir e falta de autoconfiança, Gonçalo pode até mesmo ser uma tentativa de demonstração figurada, por parte de Eça, da capacidade de superação, regeneração e renascimento de um país, neste caso, de Portugal.




Biografia baseada na 1º edição (março, 2014) da Bertrand editora.
A.C. 11ºD

Anónimo disse...

Uma visão de Carlos à sua vida

Eu sou Carlos, nasci em Portugal. Passei minha vida a viver com o meu avô, Afonso da Maia, o senhor da nossa casa. Nos últimos anos vivemos no Ramalhete, mas antes estávamos a viver na casa de Santa Olávia situada nas margens do rio Douro, onde o meu avô ensinou-me as normas ingleses, graças a essa educação sou um homem prático, racional e 100 vezes melhor do que o Eusébio, que nem se quer conseguia dormir sozinho quando era criança.

Entretanto, fora destes questões, eu acabei o meu curso de medicina em Coimbra ao mesmo tempo do que o meu melhor amigo João de Ega, que se formou em direito, era um bom rapaz até o meu avô gostava dele. Depois disso, fui visitar a Europa e quando voltei a minha mente estava cheia de «ideias colosais de trabalho, armado como um lutador: era o consultório, o laboratório, um livro iniciador e mil coisas fortes...». Por isso, com a ajuda do meu avô, abri um consultório no Rossio, mas estive muita dificuldade para começar esta carreira.

Depois dessa viagem, consegui ainda ver que o meu país estava cheio dos atrasos sociais, os portugueses imitam muito, mas o pior é que não sabem imitar bem. Um dia, quando fui ver a corrida dos cavalos, lá aquilo estava um horror, pois, até disse ao meu amigo Craft, «que diabo, para corridas é necessário cacottes e champanhe. Com esta gente séria e água fresca não vai!». Lá a maior parte das mulheres tinham vestido sérios de missa. Por mim «aquela corrida insípida, sem cavalos, sem jóqueis, com meia dúzia de pessoas a bocejar em roda» era inaceitável. Eu acho que as mulheres portuguesas não sabem vestir bem. Há pessoas que até dizem que o Portugal é «a mais miserável raça da Europa» e a Lisboa «não é a cidade, é a gente. Uma gente feiísimia, encardida, molenga, reles, amarelada, acabrunhada!».

Em relação à minha vida pessoal, gostava de uma mulher que morava numa casa de Rua São Francisco, a Maria Eduarda, uma mulher bonita, linda e morena. Passamos muito tempo em conjunto e queríamos viver juntos para sempre, mas, infelizmente descobrimos que eramos irmão e irmã, por isso estivemos de acabar com a nossa relação.

A partir dei, a minha vida virou a página, sem pensar em nada saí de Lisboa e só hoje, depois de 10 anos voltei e estou aqui na mesma cidade. Acho que «já não há nada genuíno neste miserável país, nem o mesmo pão que comemos!». Não consegui fazer nada que tinha pensado, mesmo nada, dos meus grandes projetos, só agora é que eu percebo que «falhei a vida».

Kartik, 11ºD

Noémia Santos disse...

Obrigada pelas colaborações. Estão muito interessantes e penso que vos ajudaram a interiorizar a personagem e a ação.

Atenção, Kartik, colossal, com 2 as; sobretudo, rever a utilização de 2 utilizações de "estivemos", verbo estar, em vez de "tivemos, verbo "ter". Este Português 🤭

Noémia Santos disse...

Colossal com 2 ss, claro!!!

Unknown disse...

Carlos da Maia é o protagonista do romance "Os Maias", de Eça de Queirós, um dos romances mais importantes da literatura portuguesa. Carlos, filho de Pedro da Maia e neto de Afonso da Maia, nasceu em Lisboa, no final do século XIX. Devido à fuga da
mãe para França e ao posterior suicídio do pai, cresceu educado pelo avô, na sua quinta do Douro, onde este lhe dá uma excelente educação à inglesa.
Com o tempo, Carlos torna-se um homem elegante, bem-educado e com bons valores, sendo cortejado por mulheres de alta sociedade. Era conhecido pela sua aparência impressionante, com olhos e cabelos negros, que lhe conferiam uma imagem bela e atraente. No entanto carlos era um diletante, ou seja, tinha muitos conhecimentos, mas não aproveitava nenhum.
Concluído o curso de medicina em Coimbra, Carlos regressa a Lisboa e instala-se com o avô no Ramalhete. Afonso monta-lhe um consultório e um laboratório para que este possa exercer a sua função de médico. Porém, Carlos vive uma vida social intensa em jantares, aventuras com senhoras casadas, passeios e conversas com o seu amigo Ega.
Finalmente Carlos encontra aquela que viria a ser o amor da sua vida, Maria Eduarda, com quem mantém uma relação intensa e apaixonada. Vão para uma linda casa, a Toca, onde vivem um grande amor sem desconfiar que o destino iria ser fatal.
No entanto esta relação está marcada pela tragédia que paira sobre a família Maia. Guimarães, amigo de Ega, revela-lhe que conhecera em Paris a mãe de Carlos e Maria Eduarda. É com espanto e horror que Ega compreende que estes dois são irmãos, pois ela era a menina que Maria Monforte tinha levado consigo quando fugiu. Ega conta a Carlos o que descobriu através de uma carta que tinha sido deixada por Maria Monforte e este compromete-se a contar a Maria Eduarda que esta é sua irmã. No entanto, chegando ao pé dela não contém a sua paixão e comete incesto consciente e voluntário. Carlos revela esta verdade ao avô que morre com o desgosto.
Carlos e Maria Eduarda separam-se e este parte numa longa viagem com Ega pelo mundo. Passado dez anos, voltam os dois a Lisboa onde reconhecem que a cidade continua na mesma e que nenhum dos dois realizou os seus sonhos.

11A M.M.

Anónimo disse...

Os maias é uma das obras mais conhecidas de Eça de Queirós. A obra retrata a história de uma arcaica família portuguesa ao longo de três gerações, que habitavam em Lisboa, na Casa do Ramalhete, no Outono de 1875. Esta narrativa centra-se na última geração da família protagonizada por Carlos da Maia, filho de Maria Monforte e de Pedro da Maia, que tem um tratamento privilegiado do narrador.
Carlos da Maia cresce com o acompanhamento do seu avô, Afonso da Maia, pai de Pedro da Maia. Afonso educa-o à moda inglesa, com uma rígida educação moderna e laica, que nunca foi aprovada pelos amigos da família, mas que sempre desejou. A prioridade na sua educação era o exercício físico e as regras que o seu avô lhe imponha, visto que o seu objetivo era educá-lo “para ser útil ao seu país”.
O protagonista estudou medicina em Coimbra, onde conhece o seu grande amigo, João da Ega, e viveu uma vida boémia. Ambos realizam uma longa viagem pela Europa, e ao regressarem, Carlos destaca-se pela sofisticação do seu gosto, “era decerto um formoso e magnífico moço, alto, bem feito, de ombros largos”. Ele é vaidoso em relação à sua aparência e é conhecido por se vestir elegantemente. Com esses feitos, Carlos consegue conquistar a sociedade lisboeta e deixar o seu avô orgulhoso.
Apresenta a sua ideia de criar um consultório e um laboratório em Lisboa a Afonso, vontades que com a sua ajuda conseguiu concretizar. Neste seu espaço cria planos para mudar a sociedade portuguesa com a criação de uma revista que “pesasse na política, regulasse a sociedade, fosse a força pensante de Lisboa”.
Luxo, prazeres, excesso e intensidade faziam parte da vida que Carlos da Maia tomava como garantida. Viveu uma aventura com a condessa de Gouvarinho, com a qual manteve uma relação amorosa ao longo do livro. Esta relação era baseada na aparência em vez de num amor verdadeiro. “A condessa ia-se tornando absurda com aquela determinação ansiosa e audaz de invadir toda a sua vida”, o que levou Carlos a se sentir preso e entediado naquele relacionamento.
Contudo, “de uns olhos negros e cabelos louros”, Maria Eduarda foi o grande amor da vida de Carlos. Cada batimento do seu coração batia por Maria Eduarda. Carlos da Maia apaixona-se por Maria Eduarda, a quem compara a “uma deusa marchando pela Terra” e jamais esquecerá. Por ela dispõe-se a renunciar a preconceitos e a colocar o amor em primeiro plano.
Ao descobrir a verdadeira história que partilhava com Maria Eduarda, sente-se incrédulo, pois de “entre todas as mulheres do mundo, essa justamente há-de ser minha irmã!”. No entanto, acaba por consumar o incesto voluntariamente, por não ser capaz de resistir à grande atração que sentia por ela.
Durante a sua jornada, Ega torna-se o seu confidente e alguém de confiança, é uma amizade inseparável e de grandes afinidades. Ega está sempre presente na vida de Carlos, pelo que tem nela um papel fundamental. É quem o ampara e ajuda nos momentos mais difíceis, como quando foi difamado no jornal Corneta do Diabo: “Carlos contava com Ega”. Para além disso, Ega dirige-se àquela amizade sempre que necessita e Carlos encontra-se sempre disponível para o ajudar. Podem contar um com o outro, sem exceção.

(1ª parte)

B.V. 11ºD