segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Memorial do Convento - «Eu, Blimunda» (recriação)

        Eu, Blimunda, estava naquele auto de fé onde minha mãe, Sebastiana Maria de Jesus, acusada de heresia e feitiçaria pelo Santo Oficio, por ter um dom, que tal como eu, que não escolheu ter. Eu sentia a sua ânsia e preocupação em saber onde estaria eu. É seu nome Blimunda, onde estará, onde estás Blimunda, se não foste presa depois de mim, pensava minha mãe. 

        Naquele dia minha mãe tinha o desejo que eu conhecesse Baltasar, não saberia eu naquele momento que se viria a tornar o amor da minha vida. 

            Baltasar não tinha conhecimento do meu dominsistiu para que eu lhe contasse, ao que eu lhe disse, eu posso olhar as pessoas por dentro. Inicialmente Baltasar sentiu-se enganado, pois não acreditava em tal coisa, mas na manhã seguinte comprovei a sua veracidade. 

            O Padre Bartolomeu Lourenço, o génio da passarola, no momento de destinar as tarefas de cada um na construção da passarola, pediu-me algo que eu nunca antes tinha feito, verás a vontade dentro das pessoas, disse o Padre. 

            A epidemia tinha acabado há pouco tempo, depois de recolher duas mil vontades, caí doente, não tinha dores, nem sentia febre, ficando apenas bastante magra e muito pálida. 

           Encontrei abrigo num convento, depois de muito andar e chorar consegui descansar, fui surpreendida pelo barulho de algo, de seguida senti o frade a aproximar-se para cometer a atrocidade de violar uma mulher, quando num movimento rápido e certeiro, empurrei com as duas mãos o espigão, enterrando-o entre as costelas. 

              Durante nove anos procurei Baltasar, quando à sétima passagem por Lisboa, no Rossio, num auto-de-fé apercebi-me de que, apesar da queimada já ir longa, no extremo ardia um homem a que faltava a mão esquerda. Apenas recolhi a sua a vontade. 

 

Afonso Claudino, 12º B

 

Referências Bibliográficas: 

Cap V – Pag.55  

Cap VII – Pag.81  

Cap XI – Pag.135  

Cap XV – Pag.200  

Cap XXIV – Pag.386  

Cap XXV – Pag.399 

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