Como referi o termo «canção» tem um significado próprio no tempo de Camões, enquanto composição poética, não sendo sinónimo de «cantiga». Assim:
"A canção italiana ou clássica aparece na Renascença e é cultivada em
Portugal do século XVI até ao século XVIII. Esta forma poética obedecia a
certas regras formais: era composta por texto e finda, ou então,
introdução, texto e finda. A introdução continha um carácter de ordem
geográfico no qual se descrevia ou indicava o lugar onde se encontrava o
poeta. (...)
A nível da estrutura formal, a canção
consta de cinco ou mais estrofes regulares (com o mesmo número de
versos) e como metro obrigatório utiliza o heróico clássico, o qual
alternava com o respectivo quebrado (seis sílabas).
Como expoente máximo
português da canção clássica, assinalamos Camões e textos como
“Manda-me Amor que cante docemente” e “Junto de um seco fero e estéril
monte”. A temática da canção clássica portuguesa inclui ainda o
sofrimento de amor, a fugacidade da vida, a mudança, o tempo que passa
irremediavelmente e outros temas afins."
prof. Carlos Ceia, in e-Dicionário de Termos Literários
A mais conhecida Canção de Camões - a canção X, das suas Rimas, faz um balanço à vida e é um dos mais importantes elementos de consideração na sua obra e na sua biografia.
"Vinde cá, meu tão certo secretário
dos queixumes que sempre ando fazendo,
papel, com que a pena desafogo!
As sem-razões digamos que, vivendo,
me faz o inexorável e contrário
Destino, surdo a lágrimas e a rogo.
Deitemos água pouca em muito fogo;
acenda-se com gritos um tormento
que a todas as memórias seja estranho.
Digamos mal tamanho
a Deus, ao mundo, à gente e, enfim, ao vento,
a quem já muitas vezes o contei,
tanto debalde como o conto agora;
mas, já que para errores fui nascido,
vir este a ser um deles não duvido.
Que, pois já de acertar estou tão fora,
não me culpem também, se nisto errei.
Sequer este refúgio só terei:
falar e errar sem culpa, livremente.
Triste quem de tão pouco está contente! (...)"
dos queixumes que sempre ando fazendo,
papel, com que a pena desafogo!
As sem-razões digamos que, vivendo,
me faz o inexorável e contrário
Destino, surdo a lágrimas e a rogo.
Deitemos água pouca em muito fogo;
acenda-se com gritos um tormento
que a todas as memórias seja estranho.
Digamos mal tamanho
a Deus, ao mundo, à gente e, enfim, ao vento,
a quem já muitas vezes o contei,
tanto debalde como o conto agora;
mas, já que para errores fui nascido,
vir este a ser um deles não duvido.
Que, pois já de acertar estou tão fora,
não me culpem também, se nisto errei.
Sequer este refúgio só terei:
falar e errar sem culpa, livremente.
Triste quem de tão pouco está contente! (...)"
1 comentário:
Boa tarde,
Finda é o mesmo que fim ?
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