sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Aspeto




ASPETO

EXPLICAÇÃO

EXEMPLO

IMPERFETIVO

Refere um processo em realização, inacabado.

Valor aspectual de um enunciado que representa uma atividade, um estado ou um evento prolongado, construídos como homogéneos, quer estejam em curso (ex.1) ou não (ex.2 e 3).

A duração das situações imperfectivas pode ser determinada extrinsecamente por locuções adverbiais durativas (ex.2 e 3).

O imperfectivo pode combinar-se com os valores temporais de simultaneidade (ex.1 e 4), anterioridade (ex.2 e 6) e posterioridade (ex.3 e 5).

Em (1), (2), (3) e (5), o ponto de referência identifica-se com o tempo da enunciação.

Em (4) o ponto de referência, que é interior à situação, é expresso linguisticamente pela locução adverbial temporal proposicional quando a vi.

Se, no enunciado (2), se substituir a locução adverbial durativa (da forma 'durante x tempo') por uma locução adverbial de completamento (da forma 'em x tempo'), obtém-se um enunciado com valor perfetivo (ex.6). Neste último exemplo, a locução adverbial age sobre a atividade ler, que adquire características de evento, passando a significar "aprender a ler": é construída uma transição que corresponde ao atingir de uma finalidade, neste caso a aquisição de uma capacidade.

Estudo numa capital europeia.

(1) A Maria está a ler o livro.

(2) A Maria leu durante duas horas.

(3) Esta tarde, a Maria vai nadar até ao pôr do Sol.

(4) A Maria estava a ler um livro quando a vi.

(5) A Maria vai estudar com o João.

(6) A Maria leu em 15 dias.

PERFETIVO

Apresenta um processo completo, terminado no momento da enunciação.

Diz-se que um enunciado tem valor aspectual perfectivo quando representa um evento construído como um todo completo a partir de um ponto de referência que lhe é exterior. Por esta razão, o perfectivo pode combinar-se com os valores temporais de anterioridade e de posterioridade mas não de simultaneidade.

O aspeto perfectivo implica a construção de um estado resultante (ex.1, 2 e 3).

O pretérito perfeito simples e as formas de futuro são geralmente marcadores linguísticos de valor perfectivo quando se combinam com eventos instantâneos e com eventos prolongados.

A compatibilidade (ou incompatibilidade) com determinadas locuções adverbiais aspectuais constitui um teste empírico para a identificação do valor perfectivo ou imperfectivo de um enunciado.

O valor perfectivo é compatível com locuções adverbiais de completamento - da forma 'em x tempo' - em duas horas (ex.4), mas não com locuções adverbiais durativas homogéneas da forma 'durante x tempo' - durante duas horas (ex.5).

Este último exemplo mostra que, ao concorrer com uma locução adverbial durativa, o valor aspectual que, em (1), é perfectivo passa a ser imperfectivo, pois deixa de implicar a construção de um estado resultante.

(1) A Maria leu o livro. implica O livro está lido.

(2) A Maria vai ler o livro esta tarde. implica O livro vai estar lido esta tarde.

(3) A Maria desmaiou. implica A Maria está desmaiada.

(4) A Maria leu o livro em duas horas. implica o livro está lido

(5) A Maria leu um livro durante duas horas.

(o livro ainda não está lido)

GENÉRICO

Diz-se que um enunciado tem valor genérico quando refere uma pluralidade infinita de situações, construídas como atemporais e verdadeiras em toda e qualquer situação de enunciação.

O verbo ocorre geralmente no presente do indicativo, designado, nestes casos, por presente genérico.

As expressões nominais sobre as quais incide a predicação são interpretadas referencialmente como classes e não como indivíduos específicos (ex.1 a 5).

Em (4), a 2ª pessoa do singular pode ter interpretação genérica.

O enunciado (5) exemplifica uma relativa genérica.

O enunciado genérico exprime igualmente definições e outras propriedades universais nos diversos domínios da ciência (ex.6).

(1) O homem é mortal

(2) Um homem não chora

(3) Homem prevenido vale por dois

(4) Se queres a paz, prepara a guerra

(5) Quem cala consente

(6) Dois e dois são quatro

HABITUAL

Diz-se que um enunciado tem valor habitual quando refere uma pluralidade teoricamente infinita de situações que se sucedem durante um período construído como ilimitado. Corresponde geralmente à predicação de uma propriedade sobre um indivíduo ou um grupo de indivíduos.

A pluralidade de situações construídas pode ter como ponto de referência o tempo da enunciação e, nesse caso, o verbo ocorre no presente do indicativo (ex.1 e 2);

e pode ter como ponto de referência uma coordenada temporal distinta do tempo da enunciação e, nesse caso, o verbo ocorre no pretérito imperfeito do indicativo (ex.3 e 4).

O valor habitual combina-se frequentemente com o valor iterativo.

O valor habitual é um valor aspectual imperfectivo.

(1) O João joga futebol aos domingos.

(2) Os irmãos do João costumam almoçar na escola.

(3) O João almoçava na escola quando estava no ciclo.

(4) O pai do João costumava fumar um charuto depois do jantar.

PONTUAL

Indica um processo que dura apenas um instante.

O aspeto pontual pode ser expresso pelo conteúdo lexical ou por advérbios ou locuções adverbiais.

Um enunciado tem aspeto pontual quando a situação representada pelo seu conteúdo proposicional é construída sem qualquer duração e portanto sem estrutura interna (ex.1).

Quando o termo 'pontual' caracteriza o aspeto lexical de uma expressão predicativa, a situação representada identifica-se geralmente com um evento instantâneo.

O aspeto pontual só é compatível com o aspeto imperfetivo quando o enunciado tem valor iterativo (ex.2 e 3).

Em (3), o valor iterativo é indissociável da interpretação distributiva do grupo nominal soldados.

O rapaz desmaiou na escola. (pretérito perfeito + conteúdo lexical)

A bomba explodiu. (pretérito perfeito + conteúdo lexical)

O Carlos caiu. (pretérito perfeito + conteúdo lexical)

Repentinamente falou. (adverbio)

(1) A Maria chegou às duas horas.

(2) A Maria chega sempre atrasada à aula das oito.

(3) Chegaram soldados durante horas.

DURATIVO

Exprime uma ação que perdura no tempo.

O aspeto durativo pode ser expresso pelo tempo, por uma perifrástica, pela repetição do verbo ou por advérbios ou locuções adverbiais

Caracteriza-se o aspeto lexical de uma situação como durativo quando o tempo que lhe é associado se estende durante um período de tempo necessariamente diferente de zero.

As situações durativas são delimitadas intrinsecamente - no caso dos eventos prolongados (ex 1) - e são delimitáveis extrinsecamente - no caso dos estados (ex 2) e das atividades (ex 3).

Ele dorme profundamente. (presente)

Está a dormir. (conjugação perifrástica)

Ele esperava ansiosamente notícias. (pretérito imperfeito)

Ele tem treinado muito. (conjugação perifrástica)

O João vai jogar toda a tarde. (conjugação perifrástica)

Voava, voava. (repetição da mesma forma verbal)

A pouco e pouco esqueceu os desgostos. (locução adverbial)

(1) O João vai ler um romance policial esta tarde.

(2) O João teve uma casa na praia durante as férias.

(3) O João jogou no Benfica na época passada.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Adj., p'rós amigos

 
Que céu tão estranho!
 
 
Ainda sobre os adjetivos - «adj.» para os amigos
 
Na continuação dos registos da aula, deixo algumas informações e «testes» adicionais


Os adjectivos qualificadores:
— indicam uma propriedade não definidora;
— podem apresentar prefixo negativo (desagradável, intolerante, impróprio);
— podem ter origem num particípio passado ou num particípio presente (arranjado, reluzente);
— são graduáveis;
— têm, em geral, antónimos;
— têm os valores semânticos de:
modalização (claro, possível, certo)
avaliação (espantoso, lamentável, fantástico)
intensificação (profundo, intenso, tremendo)
autenticação (genuíno, típico).
 
Os adjectivos relacionais:
— são, em geral, derivados de um NOME, inclusivamente, derivados de nomes próprios, como pessoano, derivado de Pessoa, Fernando);
— são complementos do nome;
— ocupam posição pós-nominal;
— podem denotar nacionalidade ou região de origem;
— não têm antónimos;
— não são graduáveis;
— podem ter prefixo de valor numérico: unicelular, monocromático, poliglota.


Mais TESTES para identificar adjetivos relacionais
 
Em síntese:

Derivam geralmente de um nome - diário (deriva de «dia»)
Ocorrem sempre em posição pós nominal (jornal regional)
Não admitem grau (*O Badaladas é um jornal regionalíssimo)
Não têm antónimos

De forma mais completa, os adjetivos relacionais:

I – Do ponto de vista da morfologia:
a) São derivados de um nome, através de um sufixo - camiliano=Camilo+ano;
b) Não têm flexão em grau;



II – Se tivermos em conta a sintaxe:
a) Não ocorrem antes do nome a que se associam: «doce conventual» e nunca «*conventual doce»;
b) Raramente ocorrem em posição predicativa.
c)  Podem ocorrer como predicativos denotarem nacionalidade ou região de origem - A aluna é alemã ou outros como «O jornal é diário», «A revista é mensal»


III – Do ponto de vista léxico-semântico:
a) não têm antónimos
b) Traduzem valores de:
a) Origem – «bandeira americana»; «doce conventual»;
b) Autoria (agente) – «discurso presidencial» (=«O presidente discursou…»);
C) Tema/área – «A construção naval»

 
 
 
Fonte: Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.URL:http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=26134
As obras refereciadas como fonte científica estas definições foram:
Mateus el al. 2003 — Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho.
Neves, M. H. M. — Gramática de Usos do Português, São Paulo, Editora Unesp.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Dúvida da Ana Gomes
(...) uma autobiografia não tem necessariamente que ser ordenada de forma cronológica (...) mas tem que ter o mínimo de uma ordem cronológica que faça o mínimo sentido certo ?


 
 
 

Embora o relato autobiográfico tenha, em geral, um carácter mais expressivo do que informativo, possui um fio temporal, em geral, cronológico. O autor pode recuar no tempo, relembrar, a propósito, qualquer episódio, mas retoma a ordem normal do tempo.







 No caso das MEMÓRIAS, a relevância do acontecimento narrado tem um valor documental mais acentuado  que na autobiografia: os autores das MEMÓRIAS, em geral, revelam-se mais conscientes da importância que as memórias têm enquanto testemunho dum tempo e dum meio, somando ao relato de casos pessoais e familiares o relato de acontecimentos históricos e políticos, dando um fundo histórico-cultural, como se o memorialista prestasse um serviço aos vindouros, deixando-lhes um testemunho. de si e do seu tempo.

Daí que nas MEMÓRIAS a cronologia ainda seja mais evidente.

No caso dos DIÁRIOS - as entradas não têm de corresponder a dias seguidos; mas o seu alinhamento é feito cronologicamente, seguindo o fio do tempo.

Todavia, nos Diários:

Há um carácter fragmentário - não há, necessariamente, um encadeamento lógico entre os registos e a leitura do registo de um determinado dia não obriga à leitura dos registos anteriores, sem afectar a compreensão.

Mais dúvidas

O João colocou dúvidas sobre a correção do Q. da página 142 em relação à "leitura do texto".

Daqui a pouco, darei aqui a resposta. Se ficarem dúvidas, digam.

Amanhã irei mais cedo, para qualquer dúvida de última hora.

domingo, 26 de janeiro de 2014

A fábrica das palavras

Quem esteve doente vai dar especial atenção e passar tudo para o caderno. Mas os outros também podem completar ou consolidar o que demos em aula.

 
Para que precisamos de aprender os processos de formação de palavras?

Para compreender que existem padrões e regras para formar palavras e que se as soubermos podemos:

      construir palavras novas;

  inferir o significado de palavras desconhecidas;

      analisar a sua estrutura interna e compreender melhor o seu   significado e os conceitos a elas associados.
              
Poderás treinar/consolidar os teus conhecimentos realizando a Ficha nº 11 do Caderno de Atividades (pp. 28, 29 e 30)

Derivação
Processos que envolvem adição de constituintes morfológicos:
Afixação
Prefixação
Sufixação 
Parassíntese

Processos que não envolvem adição de constituintes morfológicos:
Conversão
Derivação não-afixal (sem recursos a afixos)

Composição
Composição morfológica
Composição morfossintática


NOTAS:
Base ou forma de base: é o constituinte morfológico a partir do qual se formam novas palavras. Inclui obrigatoriamente um radical. Ex.: infeliz, laranjeira, alojamento
Afixo: ocorre obrigatoriamente ligado a uma forma de base.

Fotografia de Edward Weston
A – DERIVAÇÃO
A derivação consiste na adição de afixos a um elemento designado por base (palavra já existente ou “palavra primitiva”).

1. AFIXAÇÃO
A afixação é um processo que consiste na formação de palavras por meio de afixos prefixos e/ou sufixos.
Os afixos são unidades mínimas de significação utilizadas para a formação de palavras derivadas, daí resultando um novo significado.
Os prefixos são afixos que se colocam no início de uma palavra de base: reler, pré-história.
Os sufixos são os afixos que se acrescentam no final de uma forma de base: civilizado, selvagem.

1.1. Prefixação
A derivação por prefixação é um processo de formação de palavras no qual um prefixo ou mais são acrescentados à palavra base.
ex.: descansar, imprudente.

1.2. Sufixação
A derivação por sufixação é um processo de formação de palavras no qual um sufixo ou mais são acrescentados à palavra base.
ex.: realmente, beberagem.

1.3. Parassíntese
A derivação parassintética é um processo de formação de palavras que ocorre quando um prefixo e um sufixo são acrescentados à palavra base, de tal modo que os dois afixos devem ser usados ao mesmo tempo, não se podem separar, pois sem um deles a palavra não tem significado. 
ex.: anoitecer (prefixo a- e sufixo -ecer) – neste caso, não existem as palavras *anoite e *noitecer; os afixos que criam a nova palavra não se podem separar.

2. DERIVAÇÃO NÃO AFIXAL
A derivação não afixal é um processo de formação de palavras através do qual se formam nomes a partir de verbos, e em que a palavra derivada resultou de uma redução da palavra base:
- desaparece o sufixo verbal
- surge no seu lugar uma vogais -o, -a ou -e.
ex.: encostar/ encosto, alertar/ alerta, alcançar/ alcance.


3. CONVERSÃO
A conversão (antes designada - derivação imprópria) consiste na mudança de classe ou de subclasse de certas palavras acompanhada de uma mudança de significado, sem qualquer alteração da forma.
Branco – geralmente adjetivo (Comprei um vestido branco), para nome (O branco é a cor da paz)
Nota: As definições e exemplos a cinza (menos visíveis) não serão objeto do próximo exercício escrito.

B – COMPOSIÇÃO
É um processo que consiste na formação de uma palavra complexa através da junção de duas ou mais formas de base:

Morfológica
Junção de radical + radical ou radical + palavra.
Pode haver uma vogal de ligação -  i ou o
Ex.: geologia; agricultura; sociocultural
Só o elemento posicionado à direita regista alterações de género e/ou número. Ex: socioculturais; eurodeputada.
 
Morfossintática
Associação de palavra + palavra(s)
Ex.: girassol; casa de banho; fim de semana; maldizer; louva-a-deus



Há outros processos de formar palavras, chamados

Processos irregulares de formação de palavras


Acrónimo - ONU,ONG
Amálgamacibernauta (cibernética+astronauta)
Truncação foto (fotografia) moto(motocicleta), metro(metropolitano)
Empréstimo pizza, dossier
Extensão semântica navegar (na internet), rato (do computador)


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Diário - pensamentos, ideias, fantasias


"Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta. Mas pergunto-me: escreverei alguma vez coisa de importância? Virei a ser jornalista ou escritora? Espero que sim, espero-o de todo o meu coração. Ao escrever sei esclarecer tudo, os meus pensamentos, os meus ideais, as minhas fantasias."
 
Anne Frank


Sábado, 22 de Janeiro de 1944
Querida Kitty:
 
Podes tu dizer-me porque é que a maioria das pesoas
esconde tão ciosamente o que lhe vai no íntimo? E como
se explica que eu me porte, junto das outras pessoas, tão
diferentemente do que deveria ser? Deve haver razões
para isso. Mas acho horrível não nos confiarmos inteiramente,
mesmo àqueles que nos são mais queridos. Tenho
a sensação de ter ficado mais velha depois daquele sonho,
de ter agora mais "personalidade". Com certeza ficas
admirada por eu te confessar que até vejo os van Daans
com outros olhos. Não vejo as suas discussões e os seus
atritos só do nosso ponto de vista parcial. Porque será
que estou tão modificada?
Mas escuta. Reflecti sobre tudo isto e cheguei à conclusão
de que o nosso convívio podia ser diferente, se
minha mãe fosse a Mamsi ideal. Bem sei que a sra. van Daan
não é uma pessoa delicada. Mas talvez metade dos conflitos
se pudessem ter evitado se a mãe não fosse tão difícil
nas suas relações com os outros e se tivesse mais tacto nas
conversas, pois a sra. van Daan tem também o seu lado
bom: apesar do egoísmo, da mesquinhez e da mania das
discussões, consegue-se fàcilmente levá-la a ceder. O
principal é que a gente a não irrite nem espicace. Não é
que esta receita dê sempre resultado mas, com um bocado
de paciência, a coisa vai. Questões sobre educação, mimos,
comida, etc., deviam ter sido todas abordadas com franqueza
e amizade. Assim não teríamos chegado a este ponto
nem veríamos só os lados desagradáveis dos outros.
Sei exactamente o que me queres dizer, Kitty!
-Mas, Anne, estas palavras são tuas. Então não tens
recebido tantas censuras dos de lá de cima? Não te
lembras já de todas as injustiças?-Sim, sim, lembro!
Mas, mesmo assim, as palavras são minhas. Quero eu
própria aprofundar tudo e não papaguear o que dizem
os mais velhos... Não! Quero observar os van Daans e
verificar o que é verdade e o que é exagero. Se depois disto
ainda continuar desapontada, concordarei com os pais.
Mas se os van Daans forem melhores do que nos têm
parecido a nós, tentarei emendar a opinião errada do pai
e da mãe; e se mesmo isto não der resultado, hei-de continuar
a manter a minha opinião e o meu parecer. Hei-de
aproveitar, de agora em diante, todas as ocasiões para falar
com a sra. van Daan e não me acanharei de dizer-lhe
sempre o que penso. Pois sempre fui considerada uma
rapariga atrevida.
Não penses sequer que quero agir contra a minha
própria família, mas fazer má-língua e ter preconceitos não
é coisa que me agrade por mais tempo. Até agora,julgava
firmemente que os van Daans eram os culpados de tudo,
mas não nos cabe a nós alguma culpa também? Pode ser
que tenhamos razão em princípio. Mas as pessoas razoáveis
-e julgo que nós somos pessoas razoáveis-devem fazer
os possíveis para conviver com toda a espécie de gente.
Reconheço isto e espero ter ocasião de poder aplicar as
minhas ideias na prática.
Tua Anne.