quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Diário - pensamentos, ideias, fantasias


"Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta. Mas pergunto-me: escreverei alguma vez coisa de importância? Virei a ser jornalista ou escritora? Espero que sim, espero-o de todo o meu coração. Ao escrever sei esclarecer tudo, os meus pensamentos, os meus ideais, as minhas fantasias."
 
Anne Frank


Sábado, 22 de Janeiro de 1944
Querida Kitty:
 
Podes tu dizer-me porque é que a maioria das pesoas
esconde tão ciosamente o que lhe vai no íntimo? E como
se explica que eu me porte, junto das outras pessoas, tão
diferentemente do que deveria ser? Deve haver razões
para isso. Mas acho horrível não nos confiarmos inteiramente,
mesmo àqueles que nos são mais queridos. Tenho
a sensação de ter ficado mais velha depois daquele sonho,
de ter agora mais "personalidade". Com certeza ficas
admirada por eu te confessar que até vejo os van Daans
com outros olhos. Não vejo as suas discussões e os seus
atritos só do nosso ponto de vista parcial. Porque será
que estou tão modificada?
Mas escuta. Reflecti sobre tudo isto e cheguei à conclusão
de que o nosso convívio podia ser diferente, se
minha mãe fosse a Mamsi ideal. Bem sei que a sra. van Daan
não é uma pessoa delicada. Mas talvez metade dos conflitos
se pudessem ter evitado se a mãe não fosse tão difícil
nas suas relações com os outros e se tivesse mais tacto nas
conversas, pois a sra. van Daan tem também o seu lado
bom: apesar do egoísmo, da mesquinhez e da mania das
discussões, consegue-se fàcilmente levá-la a ceder. O
principal é que a gente a não irrite nem espicace. Não é
que esta receita dê sempre resultado mas, com um bocado
de paciência, a coisa vai. Questões sobre educação, mimos,
comida, etc., deviam ter sido todas abordadas com franqueza
e amizade. Assim não teríamos chegado a este ponto
nem veríamos só os lados desagradáveis dos outros.
Sei exactamente o que me queres dizer, Kitty!
-Mas, Anne, estas palavras são tuas. Então não tens
recebido tantas censuras dos de lá de cima? Não te
lembras já de todas as injustiças?-Sim, sim, lembro!
Mas, mesmo assim, as palavras são minhas. Quero eu
própria aprofundar tudo e não papaguear o que dizem
os mais velhos... Não! Quero observar os van Daans e
verificar o que é verdade e o que é exagero. Se depois disto
ainda continuar desapontada, concordarei com os pais.
Mas se os van Daans forem melhores do que nos têm
parecido a nós, tentarei emendar a opinião errada do pai
e da mãe; e se mesmo isto não der resultado, hei-de continuar
a manter a minha opinião e o meu parecer. Hei-de
aproveitar, de agora em diante, todas as ocasiões para falar
com a sra. van Daan e não me acanharei de dizer-lhe
sempre o que penso. Pois sempre fui considerada uma
rapariga atrevida.
Não penses sequer que quero agir contra a minha
própria família, mas fazer má-língua e ter preconceitos não
é coisa que me agrade por mais tempo. Até agora,julgava
firmemente que os van Daans eram os culpados de tudo,
mas não nos cabe a nós alguma culpa também? Pode ser
que tenhamos razão em princípio. Mas as pessoas razoáveis
-e julgo que nós somos pessoas razoáveis-devem fazer
os possíveis para conviver com toda a espécie de gente.
Reconheço isto e espero ter ocasião de poder aplicar as
minhas ideias na prática.
Tua Anne.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite professora,

Eu no meu caderno coloquei que uma autobiografia não tem necessariamente que ser ordenada de forma cronologicamente, mas (por exemplo) não se pode num momento estar a falar do autor com 30 anos e depois falar do autor com 10 anos e depois com 50 anos, pois não ?
Tem que ter o mínimo de uma ordem cronológica que faça o mínimo sentido certo ?

Obrigado,
Ana Gomes

Noémia Santos disse...


Obrigada, Ana

Vou responder na página principal.

Até amanhã