Neste trabalho, foi-me
solicitado que escolhesse uma personagem da obra, "Frei Luís de
Sousa" de Almeida Garrett, e escrevesse o diário dessa personagem,
encarnando o seu papel, e contando a história de acordo com o que essa mesma
personagem vive e sente. Escolhi Telmo Pais, pois foi uma das personagens que
mais me chamou à atenção pela forma como se apresenta na obra, e também pelas
suas características .
Dia 1
Há já cerca de 21 anos que desaparecera meu amo, D. João de
Portugal, na guerra de Alcácer Quibir. Nunca foram encontrados vestígios da sua
morte, como tal, eu acredito que ele ainda possa estar vivo, e reaparecer um
dia.
Eu, como seu aio fiel, fiquei a cuidar de sua esposa D.
Madalena, e de sua filha, Maria, uma menina cheia da vivacidade e com um
coração, ai que coração!
Hoje, quando cheguei ao pé de D. Madalena, esta estava
muito pensativa, tinha um livro pousado no seu regaço, mas já não lia, apenas
refletia sobre algo.
Conversámos e disse-me que não
me queria de todo aconselhar, no entanto, sabia que Maria me tinha em muito boa
conta, e portanto achava preferível que não falasse com ela das coisas menos
próprias para a sua idade, que ainda lhe suscitavam mais curiosidade, e vontade
de explorar, saber, e questionar, isto numa menina já que com imensa
curiosidade e vontade de descobrir. Concordei, deixei que me disse-se aquilo
que achava, e depois, senti necessidade de dizer que Maria era especial para
mim. Desde sempre que lhe tenho um carinho especial, fui eu que a criei, tal
como a D. João de Portugal, e só quero o seu melhor, pois ela é digna disso.
Acrescentei ainda que não dizia nada á menina Maria que não pudesse, e que ela
não devesse nem merecesse saber e acabei por dizer que Maria, era digna de ter
nascido em melhor estado, e D. Madalena começou a chorar, pedi então que me
castiga-se pois deixei que o que sentia por Maria, afetasse, e comanda-se o que
disse, que não foi de modo nenhum acertado.
D. Madalena impôs-se então, e disse que eu fora o fiel aio
e amigo de D. João de Portugal, e que quando entrara naquela família me
encontrou e foi ganhando uma grande consideração por mim. Isto porque após ter
ficado viúva, de D. João de Portugal, se viu sozinha, com dezassete anos, viúva
e órfã, e como tal sentia a falta de alguém que cuidasse de si e a amparasse.
Apesar de D. Madalena se ter casado já a 14 anos com Manuel
de Sousa, disse-me, que durante os sete anos, após o desaparecimento de D. João
de Portugal, nunca desistira de o procurar, não olhando a gastos, nem se
poupando a esforços. Mas agora, vinte e um anos após ter desaparecido, mostrou
não acreditar no regresso de D. João de Portugal apesar de nunca se terem
encontrado provas, e questionou-me se pensava o mesmo. Respondi sinceramente
que não, porque eu acredito que meu amo voltará um dia, inclusivamente, para
cumprir o que outrora escrevera, "vivo ou morto Madalena, hei de ver-vos
pelo menos ainda uma vez neste mundo".
Apesar de tudo, sempre fui conhecedor que D. Madalena ainda
casada com D. João de Portugal, já amara Manuel de Sousa, daí que receie tanto
o seu regresso. Por isso é que também pretende proteger Maria de acreditar nos
meus "agouros", nas alusões que faço a D. Sebastião, pois não quer
que pense, nem imagine que há mais ainda para descobrir, que D. João ainda pode
voltar, pois caso o sebastianismo seja verdade, isso também é possível de
acontecer.
Terminei então a conversa com D. Madalena, e esta pediu-me
que fosse ver o que Maria estava a fazer, e que fosse dizer a seu cunhado, Frei
Jorge Coutinho, que a demora de Manuel de Sousa em Lisboa a estava a deixar em
cuidados e angustiada. Pois este prometeu vir antes de véspera , e já era quase
meia noite ainda não tinha chegado.
Quando ia fazer o que me pedira D. Madalena , Maria
apareceu ao pé de nós, perguntando pelo romance que eu lhe havia prometido, e
começou a dizer que ninguém gostava de a ouvir falar na possibilidade do
regresso de D. Sebastião senão eu. Sua mãe advertiu para o facto de ela dever
folgar mais, de a querer ver mais alegre, e não tão dentro de coisas que não
eram para a sua idade.
Infelizmente eu próprio já anulei certas esperanças
relativamente ao regresso de D. Sebastião, e por conseguinte de D. João de
Portugal, isto pelo amor que sinto por Maria, que ultrapassou o que sentia por
D. João de Portugal.
Posto isto, eu disse então que não se falava mais no
assunto não demonstrando muito envolvimento pessoal, e fui-me embora. Isto, não
sem antes tomar as mãos de Maria, o que me fez reparar imediatamente que estava
com imensa febre, até pelas rosetas nas suas faces, restava saber se sua mãe,
D. Madalena iria reparar também.
Dia
2
Após a chegada de Manuel de Sousa de Lisboa, soube que
tinham desembarcado de lá uma grande
comitiva de fidalgos, escudeiros e soldados, em direção à vila. Acorri rapidamente a Manuel de Sousa entrando pela
sala apressadamente, para lho dizer. Advertindo também que o arcebispo não
devia ser, pois já há muito que se dizia,
que este já estava no convento.
Manuel de Sousa perguntou-me
se deveriam ser os governadores, pois estes queriam sair de Lisboa para fugir
da peste, como estava ao pé de D. Madalena, fiz apenas um sinal afirmativo.
Ordenou-me então que e eu e Jorge acompanhássemos, D.
Madalena e Maria, para que saíssem já daquela casa, pois não queria que
estivesse lá ninguém quando chegassem os governadores. Como não havia outra
opção decidiu que iam para a casa onde D. Madalena morara com o seu ex-marido.
D. João de Portugal, era a sua única alternativa naquele momento.
Antes de sair, com tudo pronto para levar, Manuel de Sousa
incendiou o palácio, pois não pretendia permitir que os governadores fossem
para lá. Vendo todo aquele aparato, gritamos muito afligidos que tínhamos de
fugir, e assim fizemos.
Dia
3
De manhãzinha, já passados
oito dias que tínhamos vindo para o palácio de Almada, a Sra. D. Maria quis
falar comigo.
Pediu que eu não fizesse barulho pois desde que fomos para
aquela casa que D. Madalena não dormia, era aquela a primeira noite. Maria
disse-me, que cada vez que ela fechava os olhos ficava aterrorizada com os
pensamentos de todo aquele fumo e chamas a rodearem a sua casa, e devastar
tudo.
Disse-me que sua mãe cismava que o facto de aquele quadro
de seu pai, ter ardido, representava a vinda de um mal maior sobre ele. Ela
tentava a animar sua mãe, no entanto, acreditava piamente nisso, e não só,
disse ainda que a desgraça que se avizinhava não era só sobre seu pai mas
também sobre sua mãe, D. Madalena.
Tudo isto que dissera, deixou-me aterrorizado, no entanto
tive de tentar disfarçar isso perante Maria, para que não notasse.
Disse-lhe que não disse-se aquelas coisas, que Deus
encarregar-se-ia de fazer o melhor que seus pais merecessem. Disse - lhe ainda,
que agora acreditava que seu pai, Manuel de Sousa, era um homem de valor, um
grande homem, muito sensato e com princípios. Sempre o tivera em boa conta, mas
depois que o vi queimar tanto de seu haver, a sua própria casa, só para dar uma
lição aqueles tiranos, um exemplo de liberdade, vejo ainda mais que é um homem
ás direitas.
Maria foi-me questionando, sobre se não era motivo de
orgulho ser filha de tal pai e se eu já sabia notícias dos governadores, e eu
fui respondendo, para satisfazer a curiosidade daquela espantosa menina, e não
lhe aguçar mais o espírito e a vontade de descobrir.
Maria repetira que o susto e terror em que se encontrava
sua mãe era o pressentimento de grande desgraça, e de repente, olhou para uns
retratos ao fundo da sala apontando para o de D. João de Portugal, e
perguntou-me de quem era aquele retrato. Respondi que era um dos senhores da
casa de Vimioso, que estavam ali tantos.
Maria percebeu que eu não tinha dito toda a verdade, e que
sabia mais. Eu contradisse, respondi que tinha dito tudo o que sabia, e que era
verdade, que aquele retrato era de um cavaleiro da família de meu outro amo.
Perguntou-me pelo nome, fiquei atrapalhado, não sabendo bem o que dizer, e antes
que disse-se algo ela mandou-me calar, dizendo que eu ia mentir. Continuámos a
conversar, e Maria disse que dois retratos que sua mãe não nomeia de quem são,
é aquele, e o de seu pai, que ardera. Tentei mudar o rumo da conversa
perguntando se esta noite, essa situação ainda a tinha apoquentado muito. Maria
respondeu-me que não, mas rapidamente voltou ao assunto do retrato. Apontou
então para outro, dizendo que aquele ela sabia de quem era, do rei D.
Sebastião, elogiando-o e dizendo que não acreditava que ele tivesse morrido nas
mãos dos Mouros, que haviam profecias que o diziam, e ela acreditava nelas.
Apontou depois, para o retrato de meu amigo Luís de Camões,
dizendo que também acreditava nele, e continuámos a falar, elogiando-o a ele e
á sua obra. Até que Maria, entusiasmada disse que ele estava no céu, e que as
suas palavras eram de profeta, advertindo então para o que dissera sobre D.
Sebastião, afirmando mais uma vez que ele não morreu, novamente chamando à atenção
para D. João de Portugal. Voltou a perguntar-me quem ele era, com aquele ar tão
triste, e "com aquela mão que
descansa na espada como quem não tem outro arrimo, nem outro amor nesta
vida..."
Deixei-me surpreender com estas
palavras, e ficámos ambos fascinados a olhar para o retrato.
Sem que eu nem Maria nos
apercebêssemos, entrou Manuel de Sousa e disse, que aquele era D. João de
Portugal, um honrado fidalgo e valente cavaleiro. Maria sem observar que tinha
sido seu pai a dizer isto, disse que bem lhe dizia seu coração. Seu pai,
perguntou-lhe então de forma afetuosa, o que lhe dizia o seu coração, aí, é que
esta reparou que era o seu pai, Manuel de Sousa. Respondeu então que o seu
coração não lhe dizia mais nada senão aquilo e mostrou-se muito contente por o
ver, dizendo-lhe, "Ainda bem que
viestes;", no entanto perguntou-lhe também se já não havia perigo, pois
ele tinha ido de dia. Seu pai, respondeu
que já havia pouco perigo, mas que na noite anterior não tinha podido ir e não
conseguia aguardar todo o dia, então foi bem coberto com uma capa e não houve
perigo.
Eu confirmei que já não havia perigo
nenhum, que o senhor Manuel de Sousa podia estar á vontade, pois naquela
madrugada cedo eu tinha estado no
convento e soube pelo senhor Frei Jorge, que se podia dizer que estava tudo
concluído. Seguidamente, Manuel de
Sousa perguntou pela sua esposa, Madalena, à sua filha Maria pois queria ir
vê-la, no entanto não foi possível de imediato pois esta ainda dormia.
Quando entro de novo na sala, encontro
Maria, D. Madalena, Manuel de Sousa e Jorge.
D. Madalena, encarregou-me a mim e a
Doroteia de acompanhar a sua filha Maria a Lisboa, pois não estava bem e ainda
assim queria ir com o seu pai que tinha de lá ir, e ela queria conhecer a sua
tia, D. Joana, então aproveitava e ia também. Examinei então uma bolsa que
levava Doroteia, com tudo o que fosse necessário para satisfazer qualquer necessidade
de Maria. E assim partimos.
Dia 4
Chegados de Lisboa, eu e Doroteia
ficámos junto de Maria. Após o regresso, tinha ganho febre, e inclusivamente
deitado sangue, a menina não estava nada bem. Assim que Maria acordou, fui
avisar o senhor Manuel de Sousa, e Jorge. Ambos queriam saber como estava, e se
sentia melhor. Felizmente sim, estava melhor, apesar da voz lenta e da sua
fraqueza. Disse-lhes, que Maria tinha perguntado por ambos, e Manuel de Sousa,
questionou-me se esta também tinha perguntado pela mãe. Respondi que não, pois Maria nunca mais tinha falado de D. Madalena.
Foram ambos vê-la, e antes, Frei Jorge
deu-me um recado. Disse que eu ficasse ali, e assim que eles saíssem puxasse a porta
que ia dar à sacristia, e viria um irmão converso, a quem eu diria o meu nome e
ele ir-se-ia, e de seguida que eu fechasse também a porta do fundo, e para que
não a abrisse, a não ser quando ouvi-se sua voz. Respondi-lhe então que podia
ir descansado, e assim foi.
Aparece
então o Irmão Converso, eu disse o meu nome e ele foi-se, tal como me dissera
Frei Jorge. Com isto fiquei desorientado, pressenti desde logo que meu senhor,
o filho que eu criei, estava vivo! D. João de Portugal estava vivo. De certeza
que iria receber notícias dele. Após vinte anos de todos o julgarem morto, eu
sempre acreditei, sempre tive esperança, e agora sinto que saberei brevemente
notícias suas.
Agora tremo, tremo pois o amor desta
minha última filha, o amor por Maria, venceu, é maior que o amor por D. João de Portugal. Meu Deus, perdoai-me se
é pecado, perdoai-me! Levai este velho, este velho já sem qualquer préstimo.
Mas não me leveis ainda minha filha, já
padecera muito, já trespassaram aquela alma muitas dores, por isso não a levais
já.
De repente e inesperadamente, ouvi o
Romeiro, pedindo que Deus não me ouvisse, perguntei logo porque razão não havia
de me ouvir.
Ele questionou-me então sobre por quem
estava eu a rogar, se não era pelo meu antigo amo. Eu rogava por Maria claro,
já não sei rogar por mais ninguém. Mas, e que fosse por meu amo, porque não haveria
deus de me ouvir, se pedira a vida de um inocente?
Logo
aí, o Romeiro opôs-se, abordando-me sobre como sabia eu, que meu amo era
inocente?
Após dizer isto, sua voz suscitou em mim uma reação diferente, era a voz
de meu amo, de D. João de Portugal. Tive a certeza que era ele. Perguntei-lhe
então quem era, e ele tirou o chapéu, e tirando o cabelo dos olhos,
respondeu-me, que já não era ninguém se já nem eu o conhecia.
Imediatamente beijei-lhe as mãos, e
disse que era meu amo, era mesmo D. João de Portugal, meu filho. Todo era ele,
a voz o rosto, tudo, apenas o seu cabelo e as suas barbas mudaram
significativamente, fizeram com que a sua aparência já não permitisse
identificar quem era na realidade, mas eu, percebi logo que era meu amo. Bastou
a sua voz.
Disse-me então que tinham sido vinte
anos de cativeiro e miséria, vinte anos de saudades e ânsia, e que para a sua
cabeça estar como estava, "bastou apenas uma noite, como a que foi depois
da batalha de Alcácer Quibir, e a barba, tinha sido curada pelo sol da
Palestina e pelas águas do Jordão."
Por tão longe andou meu amo, e
advertiu também, que não morrera lá, apenas porque não fora a vontade de Deus.
Perguntou-me então se me pesava o seu
regresso, a sua vida. Respondi que não claro, mas no fundo sentia que sim, senti
que estava a mentir.
Disse-me que sabia que eu era seu
amigo e ainda assim, vinte anos de ausência, com novos amigos, fazem esquecer
os velhos, mas apesar de tudo, eu nunca me esquecera dele.
Advertiu então que Deus não quis por
termo á sua vida, sem antes ele falar comigo, para ouvir da minha boca que
sempre tinha duvidado de sua morte, e assim foi. Nunca acreditei que tivesse
mesmo morrido. No entanto D. João disse que só o coração poderia vencer a tentação
de acreditar na sua morte vinte anos depois de estar desaparecido, e que o
único coração capaz disso era o seu. Fora injusto, pois eu sempre acreditei que
estava vivo. Queria saber ainda, se era verdade que o tinham procurado por toda
a parte, e se D. Madalena, sua antiga esposa mas ainda muito amada, tinha realmente
enviado mensageiros e dinheiro para essas buscas. Esclareci então que sim, tinha
sido verdade, tão verdade como Deus estar no céu.
Posto isto, disse-me que fosse dizer a
D. Madalena que o peregrino, a fachada que inventara para falar com ela, eram
tudo obras dos inimigos de Manuel de Sousa, que sossegasse e fosse feliz. E
disse-me adeus.
Não ia renegar meu amo, deixá-lo ir
como vilão que não sou, havia eu de fazer tal coisa?
Respondeu-me que sim pois ordenava-me
que o fizesse. Fiquei muito ansioso e
simultaneamente com um sentimento de culpa, pois D. João de Portugal, contava
com minha fidelidade para cumprir o que me ordenara, mas meu amor por Maria tinha
superado o amor pelo meu amor, e ele não sabia disso nem da existência de
Maria. Tinha de lhe contar, a ansiedade e todo o sentimento de culpa já não
cabiam em mim.
Contei-lhe então que havia naquela
casa, outra filha que eu também criara e sem que dissesse mais nada, percebeu
logo o que me apoquentava, e disse-mo. Disse que eu já queria mais a essa outra
filha que a ele. Respondi apenas que não mo perguntasse, pois não ia ser capaz
de responder, e o pior, é que era verdade.
Disse-me que não era preciso, que até
eu lhe tinha sido tirado, que perdera tudo. Quis então saber se D. Madalena
tinha um filho com Manuel de Sousa. Sentiu-se culpado, pois concluiu que
deveriam ter passado aquela noite ainda pior que ele, que lho perdoassem como
ele tinha feito. Eu já não sabia o que fazer nem dizer. D. João voltou a apelar
pela minha fidelidade, dizendo que eu fizesse o que me ordenara meu amo, e
pediu-me um abraço. Abraçamo-nos.
Perguntei quando voltaria a vê-lo, a
saber de si, respondeu-me que na altura certa eu iria ter notícias. Afirmou que
agora, era necessário remediar o mal que fizera, pois fora imprudente, cruel,
injusto, duro, e tudo isto para quê?. Disse então que morrera, do dia em que D.
Madalena o disse e acreditou em tal coisa. Disse-me que a ainda a amava, tinha
sido a mulher da sua vida, e por isso D. João de Portugal não havia de desonrar
a sua viúva, e que se eu o dissesse também teria o dobro da força. Queria que
eu dissesse a D. Madalena que tinha falado com o Romeiro e que era um falso e
impostor, só queria que eu lhe disse-se o que quisesse, apenas a salvasse da
vergonha e ao seu nome da grande afronta, pois de si, já não sobrava nada a não
ser isso, o seu nome ainda honrado.
Eu disse que não lhe ia faltar agora,
que era digno que eu o fizesse por si.
De seguida, eu e meu amo, D. João de Portugal, ouvimos D. Madalena
chamar pelo seu esposo. D. João achara que fora para si, aquelas palavras doces
e cheias de amor, como havia ele de lhes resistir, como amor que ainda sentia?
No entanto D. Madalena chamava por Manuel, e quando disse seu nome, uma
desilusão e tristeza caíram sobre D. João.
D. Madalena ainda de fora, chamava por
Frei Jorge, seu irmão, dizia que sabia que ele ali estava e por isso lhe abrisse
a porta apenas para que ela pudesse dizer uma única palavra a seu irmão (D.
João de Portugal).
Jorge deu-me então ordem para abrir a
porta e eu assim fiz, já depois de D. João de Portugal ter saído.
Madalena entrou apressada á procura de
Manuel de Sousa, ficou muito surpreendida quando me encontrou só, e eu fingi-me
despercebido para que ela não desconfiasse mais que eu não tinha estado ali sozinho,
mas sim com D. João de Portugal.
Manuel de Sousa que estava no fundo da sala, apareceu e disse para D.
Madalena, se não estava já tudo dito entre eles. D. Madalena respondeu-lhe que não, que se calhar estavam a
precipitar-se, e a crer demasiado nas palavras de um Romeiro, um homem que ninguém
sabia quem era.
Eu e Jorge, conversámos à parte, e
Jorge concordou com Manuel de Sousa, quando este disse que o seu amor com D.
Madalena era impossível. Disse-me para eu ir ter com Maria, e saí com repugnância,
tentado chegar ao pé de D. Madalena. No entanto Jorge percebeu, e fez-me um
sinal imperioso, saí então pelo fundo, e fui para junto de Maria, que não
estava nada bem.
Telmo Paes
...
Conclusão
Este
trabalho foi muito enriquecedor, pois contribuiu para melhorar o meu
conhecimento da personagem de Telmo Pais, da obra e também me permitiu
realizar uma análise mais pormenorizada desta personagem.
Em
suma, com este exercício aumentei a minha capacidade de interpretação desta peça, e entusiasmou-me para a análise da mesma.
Cristiana Garcia Santos
nº 8 11ºB