"Um amor de
perdição", de Mário Barroso
O filme, "Um amor de perdição"
é a representação da obra de Camilo Castelo Branco "Amor de perdição", baseia-se nesta tentando transpor os
acontecimentos principais para a atualidade.
Este filme apresenta os acontecimentos de
forma mais natural de acordo com os dias de hoje, o que aproxima, de certa
forma, o espetador da ação e de todos os
acontecimentos. Apesar desta aproximação, existem muitos fatores no livro que
não estão demonstrados no filme, como a expressão e o sentimento que as
palavras provocam, e por isso, apesar de muito boa representação, acho a
leitura única e indispensável.
As alterações feitas no filme
verificam-se em todas as personagens. Mariana é uma figura que acaba por se
apresentar no filme como alguém mais sofredor e masculinizado, ajudando também
o seu pai na oficina, João da Cruz, o mecânico.
Simão é uma personagem vestida de rebeldia e comportamentos transgressores que
nos mostram a vivacidade e a autenticidade do mesmo. Teresa é apresentada no
filme como alguém sereno, e com muita maturidade, sendo que, apesar de não
contestar as decisões que seu pai e seu primo tomam para a afastar de Simão, nem
os obstáculos que tentam colocar entre si e o mesmo, Teresa afirma que façam o
que fizerem, ninguém irá travar nem impedir o
amor que sente.
Domingos
Botelho devido à sua importância social e
profissão não permitiria escândalos e, como tal, aceitava que sua esposa e seu
filho Manuel tivessem uma relação com contornos diferentes do que seria de
esperar de acordo com o seu grau de parentesco, relação essa que, de certa
forma, poderia ser considerada uma afronta.
É também possível verificar um certo
subjetivismo no título do filme, isto porque o facto de ter sido acrescentado o
determinante artigo "Um", demonstra que a representação daquele amor
era um exemplo. Tal como se passara com Teresa e Simão, podia acontecer a
outras pessoas - amores impossíveis, cuja natureza e a família de ambas as
partes os impediriam de viver. Portanto, em certa medida, este
filme acaba por se considerar uma lição pois transmite que não conseguimos ter
força para lutar contra o que é mais forte que nós, neste caso o destino, e uma
rivalidade entre famílias já passada de gerações em gerações. Como tal, por vezes é necessário arriscar para atingir os
objetivos, no caso de Teresa e Simão a sua opção seria fugir, e podemos
verificar que no fim do filme Rita e Zé Xavier se vão embora. E podemos
interpretar essa mesma situação como uma aprendizagem, pois assistiram ao
desfecho do amor de Simão e Teresa e estavam dispostos a contrariar isso no
caso deles.
Este
filme apresenta diversas características de uma ação trágica incorporando
diversos elementos da mesma, o desafio, a catástrofe, e também o pathos. Os
quais vamos podendo analisar de acordo com o decorrer da ação. Ainda assim, as
emoções criadas com a leitura do livro não são representadas muitas vezes.
Existe
assim uma diferença notável que não se prende não só
com as alterações feitas no filme em relação ao livro mas também com aquilo que
este não transmite; daí que de certo modo através
das alterações cinematográficas e ao nível das personagens o filme nos aproxima
do real, da ação. No entanto, o livro, com o sentimento que causa em nós,
permite uma maior proximidade a esse nível em relação ao decorrer da ação.
O filme é um bom exemplo do que é sentir
e não poder viver o amor, e do que por vezes é necessário fazer para lutar
contra isso. Eu gostei bastante, apesar de achar
um pouco vazio comparativamente ao livro e à história sem si. A meu ver um
pouco mais da emoção que Camilo Castelo Branco formou na sua obra tornaria este filme uma excelente representação da mesma
simultaneamente ajustado à realidade.
Cristina, 11º B
Apreciação crítica Do
filme “Um amor de Perdição”, de Mário Barroso
“Um amor de Perdição”,
filme de Mário Barroso, é uma versão atualizada do livro “Amor de Perdição” de
Camilo Castelo Branco, que, por sua vez, e não de forma declarada como é agora
o filme, constitui
uma atualização de “Romeu e Julieta” de William Shakespeare,
tendo todas estas obras o mesmo tema dominante - uma paixão impossível.
Ao redigir o livro, Camilo
Castelo Branco teve como objetivo criticar a sociedade da sua época; este estava revoltado pois tinha sido preso devido a
um caso amoroso com uma senhora casada, e sendo ele um grande escritor decidiu
vingar-se da melhor forma que conseguia,
escrevendo um livro. À medida que a história
teve o seu curso natural, vários indivíduos acharam de tal forma interessante
aquele livro que o decidiram transpor para teatro e posteriormente para cinema,
adaptações
das quais devem ser destacados as obras cinematográficas datadas de 1921, 1943
e 1979, a primeira realizada em versão muda pelo cineasta George Pallu, a segunda
realizada por António Lopes Ribeiro, e a terceira pelo grande cineasta Manoel
de Oliveira. Todas elas contavam algo novo e porquê? Porque todas elas foram
adaptadas à época em que foram realizadas ou à visão do realizador.
No início deste nosso século, o
século XXI, e passados quase trinta anos desde a última adaptação
cinematográfica, Mário Barroso, decide inspirar-se no livro de Camilo e
elaborar um novo filme, mas este com um pormenor, em alternativa ao título dado
por Camilo, Mário Barroso decide acrescentar um artigo indefinido (“Um”), para
que este filme seja visto de outra perspetiva. Mário Barroso decide insistir
novamente neste amor impossível de Teresa e Simão, no entanto elabora não só
alterações ao nível época, como também acrescenta determinado aspetos não
presentes no livro.
Essa adaptabilidade é possível de
ser observada na transformação de João da Cruz, que no livro que lhe deu
origem ao filme era um ferreiro, é agora em pleno século XXI um mecânico,
antigo combatente na guerra colonial; por sua vez, a sua Mariana aparece masculinizada devido ao
trabalho que tem, onde ajuda o seu pai, mas vai revelando ao longo de toda a
história o seu lado mais feminino e ousado; Simão é retratado agora como
alguém rebelde, algo atual neste nosso século, reforçando essa sua rebeldia por
não seguir padrões que normalmente são seguidos na sua classe social, visto que
não é alguém que se preocupe com a sua aparência externa, não querendo ser
apontado como rico. Os locais onde o livro tem a sua ação são alterados,
Coimbra e Viseu passam a ser apenas Lisboa. No filme não existe um conflito tão
acentuado entre famílias, apenas alguns conflitos do forro profissional entre os pais de Teresa e de
Simão; a forma de correspondência sofre também
com a evolução temporal e tecnológica, sendo agora efetuada através de
comunicações esporádicas por telemóvel.
No entanto, o filme peca por algo que seria a última coisa que deveria pecar,
tratando-se este de um filme cuja base é o amor, o filme peca exatamente nesse
aspeto, não existe amor onde ele deveria existir, a proximidade e o tempo que
Teresa e Simão estão juntos não é nem de perto suficiente para que este seja
um bom filme dramático.
Toda a história é passada
demasiado depressa, não dando tempo para que algo se torne realmente
verdadeiro, fazendo por isso com que o filme se torne um filme algo incompleto,
deveriam existir mais elementos de ligação entre as diferentes partes da obra e
também de motivos mais fortes para determinadas
situações ocorrerem. Simão (em pleno século XXI) não pode
ser alguém assim tão revoltado com a vida, para quase sem motivo matar
Baltazar.
Rafael Calçada Nº21, 11ºB
Sem comentários:
Enviar um comentário