terça-feira, 30 de abril de 2024

Atos de fala - o que dizemos? com que intenção?



As palavras e as intenções que elas transportam

Ato de fala assertivo

Os atos de fala assertivos comprometem o locutor, em maior ou menor grau, relativamente ao valor de verdade ou de falsidade dos enunciados.

Admito que o jogo correu mal.

Negou que tivesse copiado pelo colega.

Acho possível entregar o trabalho amanhã.

Encontrei-o a jantar no restaurante.

Tiveste nota negativa no teste.

Estes atos linguísticos realizam-se com base em:

.verbos assertivos: admitir, acreditar, afirmar, concordar, confessar, descrever, discordar, informar, negar, responder...

.expressões verbais: considerar certo, achar possível, achar necessário, colocar uma hipótese...

.frases simples com conteúdo equivalente às que contêm os verbos ou expressões verbais mencionadas.


Ato de fala compromissivo

0 ato de fala compromissivo expressa a intenção assumida do locutor vir a praticar uma acão futura. Há uma obrigação sob a forma de promessa (se positiva), ou de ameaça (se negativa) que envolve o(s) interlocutor(es).

Prometo que vou estudar mais.

Juro que estou a dizer a verdade.

Exijo um bom comportamento.

Encontro-te à saída.

Estarei à hora marcada.

Até sábado. à mesma hora.

Os atos de fala compromissivos podem construir-se com base em

1)verbos compromissivos: comprometer, jurar, prometer, tencionar...

2)frases simples com utilização do futuro ou presente do indicativo;

3)expressões elípticas.



Ato de fala expressivo


Os atos de fala expressivos exprimem estados psicológicos do locutor relativamente ao interlocutor e a um estado de coisas especificado.

Agradeço a ajuda.

Lamento o incômodo.

Desculpa o atraso.

Adoro marisco.

Odeio a falta de sinceridade.

Acho mal que chegues atrasado.

Muito obrigado, por teres ligado.

Parabéns!

Bom dia!

Que paisagem fabulosa!










Os atos de fala expressivos podem construir-se com base em:

1)verbos ilocutórios expressivos: adorar, agradecer, congratular-se, deplorar , gostar, lamentar, odiar...

2)expressões verbais com advérbios que criam universos de referência: achar bem, achar mal...

3)expressões exclamativas, frases ou não, com adjectivos valorativos, advérbios e verbos experenciais, expressivos ou afectivos.


Ato de fala declarativo / DECLARAÇÃO


Os atos de fala declarativos criam um estado de coisas novo (criam/alteram a própria realidade} pela realização simples de uma declaração.

Declaro o réu inocente.

Declaro-vos marido e mulher.

Nomeio-o meu representante legal.

Baptizo-te com o nome de ...

A aula terminou.

Estas declarações alteram a situação, pois são expressões verbais da realidade que elas próprias criam: alguém fica inocente, casado, baptizado, etc..

Para que a declaração seja bem sucedida, é necessário que o enunciado seja proferido por um representante de uma instituição extra-linguística, como o tribunal (o juiz}, a igreja (0 padre perante os noivos}, o estado (o Conservador do Registo Civil perante os noivos}...

Os atos ilocutórios declarativos podem construir-se com base em

1)verbos declarativos: declarar, nomear...

2)frases declarativas.


Ato de fala diretivo

Os atos de fala diretivos demonstram a intenção do locutor em incentivar o interlocutor a fazer ou a dizer alguma coisa. Manifestam a vontade ou o desejo do locutor em levar o interlocutor a realizar uma ação futura.

Anda cá.

Passe-me a pasta, por favor.

Preciso que consultes os textos de apoio.

Queres fazer o trabalho individualmente?

Diz-me as horas./Que horas são?

Fecha a janela!/Não te importas de fechar a janela?


Os atos de fala diretivos diretos na expressão da ordem, pedido, sugestão ou conselho podem basear-se em

1)frases imperativas ou equivalentes (com o verbo no imperativo, no indicativo ou no conjuntivo);

2)verbos diretivos: aconselhar, avisar, convidar, esperar, exigir, implorar, lembrar, mandar, obrigar, ordenar, pedir, proibir, querer, requerer, suplicar...

3)frases simples interrogativas (pedidos de informação) -as perguntas visam obter do interlocutor a execução de um acto de fala;

4)frases complexas com verbos de inquirição como perguntar, interrogar, inquirir, investigar (pedidos de informação).

As frases com os verbos pedir ou ordenar pressupõem que o locutor assume uma posição de autoridade em relação ao interlocutor.

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                                                                                                                                                                                                Imagem do filme E.T. (1982), de Steven Spielberg


                  Às vezes um gesto vale mil palavras!


(Atenção: as páginas dos exercícios foram consultadas em 21 de janeiro 2013.
O exercício  publicado na pág. do Min. Educação ainda mantém a ortografia
anterior)




A imagem dos robots pertence a WALL·E -  filme de animação americano de 2008 dirigido por Andrew Stanton ( Pixar Animation Studios)

Revisões: Síntese

  • Para quem teve dificuldades com o Grupo I - C (alunos a quem calhou a SÍNTESE)

A Síntese ou Resumo Crítico aproxima-se do resumo e as suas regras (de preparação e de redação) são semelhantes, mas tem aspetos específicos:
  • É redigida na 3ª pessoa, com indicação do nome do(s) autor(es);
  • Permite que se destaquem as intenções do autor.
  • Embora mantenha a neutralidade e o rigor na reconstituição das ideias do texto original, confere maior liberdade que o resumo na ordem e na organização das ideias.
  • Não inclui opiniões próprias de quem faz a síntese.
  • Regista apenas  o estritamente necessário para a compreensão de um texto. 
  • Não deve ter  passagens copiadas do texto/documento original.
  • É menos impessoal que o resumo, pois  é redigida com indicação do nome do(s) autor(es), e permite que se destaquem as suas intenções.
  • É muito útil, por exemplo, para contrair informação de dois ou três textos sobre um mesmo tema ou comparar vários textos entre si, dando-se maior relevo à comparação dos textos do que à reconstituição exaustiva das ideias de cada um dos textos-base.
  • Como no resumo, para fazer uma síntese é necessário:
  • Ler atentamente e compreender o texto original;
  • Sublinhar/anotar as ideias principais do texto;
  • Identificar as partes que o constituem;
  • Determinar as relações entre as diferentes ideias (explicação, causa, consequência, comparação…), e anotar, sinteticamente/por tópicos, a informação principal de cada parágrafo.
  • Selecionar as ideias ou factos essenciais do texto original que farão parte da síntese;
  • Suprimir palavras ou frases que refiram aspetos secundários:    
    • comentários, 
    • citações, 
    • exemplos não essenciais à compreensão do todo, 
    • expressões e frases redundantes;
  • Substituir partes do texto original por frases que tornem mais económica a expressão, por ex., reduzindo as orações subordinadas;
  • Respeitar o número de palavras proposto ou reduzir para cerca de ¼ a 1/5  do texto original.
  •  Conter: um parágrafo introdutório, que identifique o assunto que será abordado; o desenvolvimento, mostrando os pontos mais relevantes do texto, e a conclusão, que fechará o pensamento.
 



Imagem - a personagem de Mafalda, a menina com espírito crítico, criada pelo artista argentino Quino, ontem falecido.

domingo, 28 de abril de 2024

Deixis - eu, aqui, agora... (revisões)

Deíctico - «Palavra cuja significação referencial só pode ser definida em função da situação, do contexto, do locutor e do receptor do acto de fala.»

¢Ao contrário dos signos com um conteúdo estável e permanente (casa, mesa, chuva, menino), os deícticos, de cada vez que são actualizados no discurso, referenciam de novo e variavelmente, em função da situação de enunciação, única e irrepetível – eu, aqui, agora.

A rede de referenciação dos deícticos tem como ponto central o sujeito que fala, no momento em que fala. “Eu” é aquele que diz “eu” no momento em que o diz. É esta a coordenada que gera todas as outras:

qTu” é aquele a quem o “eu” se dirige - Deixis Pessoal
qagora” é o momento em que o “eu” fala - DeixisTemporal
qaqui” é o espaço em que o “eu” fala - Deixis Espacial
Asim, por exemplo: ontem”, “hoje”, “amanhã” são formas adverbiais que remetem para um tempo anterior, simultâneo ou posterior ao tempo em que o “eu” fala.

Têm referenciação deíctica:

qartigos, advérbios com valor locativo e temporal,
qalgumas preposições e locuções prepositivas,
qalguns adjectivos (actual, contemporâneo, futuro) - que carecem de explicitação do contexto, de referente; Ex.:
1 de Março é futuro em relação a hoje, 28 de Fevereiro. No dia 2 de Março, será passado.
qalguns nomes (véspera). Idem exemplo anterior.


Para além destas classes de palavras mais frequentes, falamos de deixis textual relativamente às expressões que demarcam e organizam o tempo e o espaço do próprio texto, por retoma do que foi dito(anáfora) ou antecipação do que irá ser dito (catáfora). Exemplos:
¢a tese antes exposta,
¢o texto acima referido,
¢como ficou dito no capítulo anterior,
¢como se demonstrou acima,
¢veremos seguidamente.

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Fonte da informação: Ministério da Educação, REVISÃO DA TERMINOLOGIA LINGUÍSTICA PARA OS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO ¢Setembro de 2007, disponível em http://www.netprof.pt/pdf/revisao_TLEBS_2007.pdf, consultado em 12 de fevereiro de 2011.
Imagens em:
rr.pt
renatacharlene.blogspot.com