5 de Agosto de 1599
Querido Diário, eu sei que não tenho escrito ultimamente mas
tem acontecido tantas coisas
Estava a ler Camões, o episódio da Inês de Castro e depois
apareceu o Telmo com aquelas conversas de D. João de Portugal, ainda me custa
tanto escrever o nome dele…
Ele continua a falar com Maria sobre aqueles assuntos que
quero que ele não fale. Maria é muito frágil e não quero que Telmo continue a
confidenciar com ela, ainda ficava abalada a minha pobre menina. E, para piorar,
Manuel lançou fogo ao nosso palácio! Meu rico palácio, fui muito feliz nele,
tudo isto por causa dos castelhanos que queriam ficar com o nosso palácio para
fugir a peste em Lisboa e Manuel não queria isso e a solução que achou foi
deitar fogo ao meu palácio, o nosso palácio.
Não sei se o pior foi ver o meu palácio em chamas ou ir para
o palácio de D. João, eu disse a Manuel que não queria ir eu implorei para não
ir, para ir para ali mas Manuel insistiu apesar de saber toda a minha história
e aquela casa era como um livro de memórias. Eu procurei-o, eu não queria
desistir mas depois de 7 anos de procura e não o ter encontrado, ele só poderia
estar morto. Então decidi dar uma oportunidade a mim mesma para ser feliz e
casei me com D. Manuel, e deste casamento nasceu Maria, minha queria filha,
minha querida filha, tao pequenina mas tao adulta, mente de um adulto num corpo
de criança. Mas a minha pobre menina, tao novinha mas tao doente, com
tuberculose. Maria continuava a ter aqueles sonhos com D. João e quando nos
mudamos para o palácio e ela viu aqueles retratos dele as perguntas não
paravam.
Consegui acalmar a minha pequena filha e de seguida ela foi
com Manuel e Telmo para Lisboa, não para meu descanso mas decidimos deixa-la ir
e fiquei sozinha durante uns dias. Quando eles voltaram de Lisboa, um romeiro
bateu a porta a minha procura. Parecia ser apenas uma pobre pessoa procura de
dinheiro e comida, mas ele disse-me o que eu não queria ouvir, aquele romeiro
disse-me que tinha sido enviado por D. João e que ele estava vivo. O mundo caiu
me aos pés, eu casei-me com o homem que amava, enquanto continuava casada com o
D. João, ou pior, eu já amava D. Manuel antes de casar com D. João. E Telmo vem
dizer-me que aquele romeiro, era na actualidade, era D. João e ele estava ali,
a minha frente, bem vivo.
Foi quando tudo se descarrilou, Manuel quis ir para um
convento para limpar os seus pecados e obrigou-me a ir com ele, já estávamos os
dois no convento quando a minha filha entrou, estava muito revoltada com a
sociedade e expõe os seus sentimentos sobre tudo o que se estava a passar pela
ultima vez… sim ultima vez. Ela morreu nos meus braços, nos meus e nos do pai,
Manuel. A dor da perda é uma dor que nunca se cura, ela era tao novinha para
acabar assim, mas a doença acabou com ela, e assim eu fui para o convento,
tornei-me freira e cá estou eu, num quarto, num convento a limpar a minha alma,
os meus pecados.
Madalena de Vilhena
Ana Catarina Correia Libório 11ºA Nº3