Estamos agora na fase da análise global da obra, de conhecimento das suas personagens e do percurso que realizam, de questionar a intencionalidade do livro, de reconhecer a excelência da escrita queirosiana desta fase, de identificar processos linguísticos e estilísticos com os quais se constrói a narrativa, de relacionar o que sabemos do mundo com o que aqui aprendemos.
Já deves ser capaz de perceber e comentar um texto como o quer segue:
"Em
A Cidade e as Serras, Eça - cansado de muito guerrear – faz pois as
pazes com o país. Pena que isso aconteça nos últimos anos da sua vida, deixando
a parte mais gostosa da escrita – a reescrita, precisamente - a metade. Não sei
se ele previa a morte próxima, sei que se sente neste livro um bem-estar, uma
felicidade, uma boa disposição contagiantes.
Mesmo
as personagens risíveis no livro não o são muito – não são ridicularizadas,
como outrora os Palmas Cavalões, os Dâmasos Salcedes, os Primos Basílios, os Conselheiros
Acácios. Em contrapartida, abundam as pessoas felizes e boas. Jacinto é mimado
e poderia ser irritante de tão irritantemente rico, privilegiado e alheado da
realidade? Sim, mas até eu - que sou dado a rancores de classe – o aceito como
ele é, e gosto dele como é, despassarado e fútil, até crescer – em Tormes, em
Portugal – e se tomar (já entrado te) um homem. E, para além de tudo, Jacinto é
«bondoso». Este livro abre um mundo onde, se há personagens menores - as
figuras de Paris - não há, como diria o Padre Américo, rapazes maus. Ele é «o
meu bom tio», «o bom Melchior», «o bom Silvério», «o bom abade de S. José», «o
bom Rebelo», «o bom D. Teotónio», «o bom Schopenhauer», o Visconde do Bom
Sucesso... E até o narrador não tem problemas em dizer, com a candura de quem
vê o mundo sem malícia, «mas concordei, porque sou bom, e nunca desalojarei um
espírito do conceito onde ele encontra segurança".
Rui Zink|Escritor e crítico (ver texto completo no «post» de 24 de fevereiro
Verifica se estás em condições de cumprir estes objetivos e se estás seguro nas várias etapas percorridas.
Objetivos
Reconhecer os propósitos críticos e
estéticos da obra
Recolher, seleccionar e registar
informações com alguma autonomia
Analisar excertos, integrando-os na estrutura interna
Reconhecer
o papel da descrição de ambientes para a compreensão da acção
Explicitar recursos linguísticos e
estilísticos recorrentes
Identificar os contributos inovadores a
nível temático, estrutural e linguístico
Questionar a obra enquanto romance
de tese (ou não)
Expressar reacções pessoais à leitura, de
forma fundamentada
Expressar-se com
correcção, tendo em conta: a situação, a organização das ideias, a
estruturação do discurso e as regras gramaticais.
|
LER A CIDADE E AS SERRAS
PERCURSO DE ABORDAGEM
Apropriar-se
do livro como objeto pessoal
Aplicar
estratégias de leitura, pessoais e/ou sugeridas
Seleccionar
passagens de acordo com critérios pessoais de interesse/empatia
Utilizar recursos
variados de auxílio ao estudo da obra – sublinhados, notas à margem,
registos, consulta de dicionário...
Reconhecer
a razão de ser do título e do sub-título
Identificar
a intriga principal e as relações entre personagens
Seleccionar
as passagens mais significativas para a composição do retrato das personagens
principais
Registar
os traços fundamentais da maneira de ser, atitudes e comportamentos de Jacinto e Zé
Fernandes
Registar
informação pertinente sobre temas relevantes: a tecnologia, a literatura, a
sociedade, a cidade v/s o campo, Paris/Tormes
Ler em voz
alta passagens seleccionadas
Refletir
individualmente, em pares e no coletivo sobre as passagens lidas
Ler e
seleccionar informação em textos de apoio do manual
Emitir
opinião fundamentada sobre o carácter, as atitudes, os comportamentos, as
ideias das personagens
Distinguir,
através de exemplos, ironia de caricatura e os processos
estilísticos e linguísticos em que assentam
Seleccionar/registar
críticas explícitas ou implícitas às atitudes e comportamentos das
personagens ou à vida social parisiense
Registar e
interpretar a generalização da crítica à geração de Jacinto/Zé Fernandes aos
portugueses/a Portugal
Relacionar
a ruína da vida em Paris com a reflexão sobre a decadência civilizacional
Questionar
a obra como concessão conservadora às virtudes campestres ou como visão
esclarecida sobre uma sociedade em decadência
Identificar
marcas representativas do realismo e do impressionismo, a nível temático,
linguístico e estilístico
Reflectir
sobre o alcance dos usos criativos da língua, a nível lexical, morfológico e
sintático
Inferir
dos propósitos de análise social e didatismo crítico do romance
Adquirir
informação pertinente sobre o contexto social, político e cultural do
Realismo literário
Conhecer
alguns dos contributos de Eça para a renovação literária e linguística
|