sexta-feira, 14 de maio de 2021

Eça de Queirós, linguagem e estilo

Republica-se o apoio ao estudo do estilo e linguagem de Eça de Querós, a propósito da leitura do Cap. III de OS MAIAS

Para completar o trabalho de aula sobre a linguagem e os estilo queirosianos em A ILUSTRE CASA DE RAMIRES, aqui ficam mais exemplos. 






  • A adjetivação - simples, dupla e tripla
«Gonçalo Mendes Ramires, jovem muito afável, esbelto e loiro (…) com uns finos e  risonhos  olhos » (cap. I)
  • A descrição sensorial (associada aos sentidos), em particular o visualismo
«No quarto, em mangas de camisa, diante do espelho, um imenso espelho rolando entre colunas douradas, estudou a língua que lhe parecia saburrosa, depois o branco dos olhos, receando a amarelidão de bílis solta. E terminou por se contemplar na sua feição nova, agora que rapara a barba em Lisboa, conservando o bigodinho castanho, frisado e leve, e uma mosca um pouco longa, que lhe alongava mais a face aquilina e fina, sempre de uma brancura de nata. O seu desconsolo era o cabelo, bem ondeado, mas ténue e fraco, e, apesar de todas as águas e pomadas, necessitando já risca mais elevada, quase ao meio da testa clara
- É infernal! Aos trinta anos estou calvo...»

  •  O discurso indireto livre
«O Pereira coçou arrastadamente a barba rala. Pois era pena, grande pena... Ele só no sábado se inteirara da desavença com o Relho. E, se o Fidalgo não ressalvava o segredo, por quanto ficara o arrendamento?»  Cap. I

  • O humor conseguido:
-         pela caricatura (representação grotesca ou exagerada da realidade),
-         pela paródia (efeito cómico destruidor da realidade), ou 
-         pela ironia (figura por meio da qual se diz o contrário do que se pretende dar a entender; uso de palavra ou frase de sentido oposto ao que deveria ser)

«Assim, vocês! Por essa história de Portugal fora, vocês são uma enfiada de Ramires de toda a beleza. Mesmo o desembargador, o que comeu numa ceia de Natal dois leitões!... E apenas uma barriga. Mas que barriga! Há nela uma pujança heroica que prova raça, a raça mais forte do que promete a força humana, como diz Camões. Dois leitões, caramba! Até enternece!... E os outros Ramires, o de Silves, o de Aljubarrota, os de Arsila, os da Índia! E os cinco valentes, de quem você talvez nem saiba, que morreram no Salado! Pois bem, ressuscitar estes varões, e mostrar neles a alma façanhuda, o querer sublime que nada verga, é uma soberba lição aos novos... Tonifica, caramba!»  Cap. I 

 «Outro Ramires, Cristóvão, presidente da Mesa de Consciência e Ordem, alcovita os amores de El-Rei D. José I com a filha do Prior de Sacavém  Cap. I

  •  A descrição com recurso a nomes e verbos (a par, ou em vez de, adjetivos)
«Reconheceu logo o Titó, o António Vilalobos, seu vago parente,e o seu companheiro de Vila Clara (...). E Gonçalo, desde estudante, amara sempre aquele Hércules bonacheirão, que o seduzia (...) sobretudo pela independência, uma suprema independência, que, apoiada ao bengalão terrífico e com as suas oito moedas dentro da algibeira, nada temia e nada desejava nem da Terra nem do Céu.»



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