O meu nome é Carlos da Maia. Hoje, regresso a Lisboa, passados dez anos. Em Paris, consegui espairecer e assentar as minhas ideias. Mas Maria Eduarda continua presente na minha mente. Como o tempo é fugaz! Dez anos passaram, olho para Lisboa e tudo se encontra na mesma, se não ainda mais decadente e decrépito. Nada mudou!
O Ega, o meu velho
amigo Ega, já está há mais tempo do que eu em Lisboa e o seu sentimento é
o mesmo, pois “Não há nada, com efeito, que caracterize melhor a
pavorosa decadência de Portugal, nos últimos trinta anos”.
Vou ter com o Ega para passearmos por esta Lisboa à qual não pertenço. Não posso pertencer. Tudo parece inútil!
Descemos
os dois a Avenida. E quem vimos? Dâmaso “barrigudo,nédio, mais pesado
de flor ao peito, mamando um grande charuto(…)”, “Chic a valer!” este
Dâmaso.
Decidi ir até ao Ramalhete, mas não sei o que me espera. Ega
continua a acompanhar-me e, quando entrámos nas portas daquele casario
abandonado… Que dor! “Eram quatro horas, o sol curto de inverno tinha já
um tom pálido”.
Comovido, avistei todo aquele espaço abandonado e
todo o passado me veio à memória. A presença do meu avô Afonso, apesar
de morto, continua ali. A ele devo toda a minha educação e
personalidade. Criou-me, em Santa Olávia, a bela quinta do Douro. Sempre
foi um homem rígido, mas graças a ele, formei-me em medicina e aqui
estou hoje.
Se hoje sou um homem diletante, não é pela educação que
recebi, mas sim pela sociedade em que vivo. Tudo me parece inútil e
deixo sempre tudo pela metade. Cheio de projetos profissionais, como
instalar um laboratório, construir um consultório para exercer a minha
atividade de médico, e até fundar uma revista…Tudo ficou pela metade.
Caí no diletantismo e na inatividade.
Olho para Ega e, naquela
solidão do Ramalhete, digo-lhe: “É curioso! Só vivi dois anos nesta
casa, e é nela que me parece estar metida a minha vida inteira!”
Recordo, enfim, o grande amor de minha vida - a minha irmã Maria
Eduarda, que, a esta hora, está casada. Sim, Ega, Maria Eduarda casou.
Num silêncio profundo, recordamos agora, as nossas aventuras e paixões
fracassadas.
Ega, olha para mim e diz-me:
- “E que somos nós? Que
temos nós sido desde o colégio, desde o exame de Latim? Românticos: isto
é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não
pela razão…”
Rimos ambos. Depois, outra vez sério, dei a minha
teoria de vida, que agora me governa: “-Nada desejar e nada recear… Não
se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o
que vem e o que foge, com tranquilidade com que se acolhem as naturais
mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar
esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e
decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo… Sobretudo não
ter apetites. E, mais que tudo não ter contrariedades “.
Ega
concordou comigo, da inutilidade de todo o esforço, “ Nem para o amor,
nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder…”.
E agora partíamos para outro esforço: apanhar o americano.
Tiago Silva 11ºD
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