sábado, 21 de novembro de 2015

Cantiga de Escárnio II


Prossegue a publicação de textos inventados pelos alunos. 

Agora excertos de uma cantiga de tema mais sério, também presente nas Cantigas Medievais ("Maus tratos domésticos"), como crítica a hábitos e comportamentos sociais e individuais, neste caso a denúncia da hipocrisia, da violência doméstica e dos vícios.

O «trovador» denuncia o 'malvado' que tem comportamentos fora da lei e mostra que quem sofre tem de lutar, como se diz numa cantiga medieval -  «Pois vos Deus deu tamanha valentia» para se libertar «del[e] que vos faz com mal dia viver».



A minha mãe, bonita,
eu e meu irmão contentes.
Conheceu um homem bom,
vão jantar num restaurante.

Veio do jantar às gargalhadas,
sorriso de orelha a orelha.
Instalou-se em nossa casa,
quando nos conquistou.

Paraíso de pouca dura,
trouxe consigo os seus vícios.
Tentando comandar-nos,
Incutia medo e pouca esperança.

Incessante inferno,
minha mãe sempre a chorar.
Meu pequeno irmão traumatizado,
Nesta história, vou pôr ponto final.

Lá veio ele do trabalho,
instalar-se na sua doméstica rotina.
Maltratar e abusar a minha mãe,
Assustar, chantagear a meu irmão e a mim.

Farto de viver repreendido,
saudoso da vida pacata de outrora,
Denunciei-te: vai daqui para o diabo,
Sai da nossa vida agora!

Pensando que escaparia,
tentava convencer-nos a ficar.
Aproximou-se no momento errado, [...]
a maldade não íamos mais suportar.

Quinze anos depois,
quando tudo é já passado [...]
Minha mãe está livre e feliz,
meu irmão, licenciado.

T. Almeida


Imagem: pintura de Hieronymus Bosch, famoso pintor e gravador holandês dos séculos XV e XVI. Muitos dos seus trabalhos retratam cenas de vícios, pecados e tentações, recorrendo à utilização de figuras simbólicas, imaginárias e caricaturais para retratar o tema do «mundo às avessas», de pernas para o ar em relação ao que devia ser.

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