quarta-feira, 3 de abril de 2019

Adolescência

Agora que já estão mais livres de obrigações, retomamos a publicação de textos realizados ao longo do período.Começamos por uma reflexão que acompanhou o trabalho de exposição sobre tema atual, decorrente do estudo da obra de educação literária (Farsa de Inês Pereira) do João M.
Adolescência e a influência dos pais

O porquê de os adolescentes criticarem pais que dão o seu melhor

            Quem, de vocês não se encontrou no meio de uma situação em que estavam fulos com os vossos pais e pensou algo do género: "Aquele estúpido não me deixa fazer X, que se lixe, vou fazer à mesma e não quero saber." Como iremos verificar mais à frente, este tipo de atitudes típicas da adolescência, a conquista da independência, as situações de revolta contra os pais são normais da idade e necessárias ao completo desenvolvimento do adolescente.

            As crianças observam os seus pais com mais atenção, julgam-nos com mais cuidado e conhecem-nos melhor que os pais ao filho. Como poderia ser de outra forma? A diferença hierárquica (em casa) faz desta desigualdade necessária.
            Quando outra pessoa tem mais poder numa relação, a pessoa que menos força possui nessa relação tende para compensar esta desvantagem conhecendo e examinando esse alguém em maior detalhe que ele/a a nós. Quer-se ter qualquer vantagem e influência para indiretamente controlar, ou manipular a pessoa que detêm uma maior "força" hierárquica ou controlo direto. Assim, em organizações o subordinado (funcionário) conhece o seu superior (patrão) melhor, em grupos os que seguem conhecem melhor o líder, na sociedade a minoria conhece a maioria melhor, em casamentos abusivos, o abusado conhece o abusador melhor (como na Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente Inês conhecia o seu marido melhor que ele a ela), e por diante.

            Os pais subestiman o quão observados são e como estão sempre sob o olho avaliador dos seus filhos. Como na passagem na Farsa de Inês Pereira em que Inês e sua mãe partilham este diálogo, " Mãe: Inês guar-te de rascão / escudeiro queres tu?  Inês: Jesu nome de Jesu / quão fora sois de feição / Já minha mãe adevinha. / Folgastes vós na verdade / casar à vossa vontade / eu quero casar à minha." vv.681-688. Nesta passagem podemos verificar que Inês descarta o conselho de sua mãe e procede fazendo juízos de valor, para além que estar a reclamar a sua liberdade justificando as suas ações com as da mãe. Na sua posição superior, os pais preferem pensar que, pelo contrário, conhecem o filho melhor. Caso contrário, ser objeto de tal avaliação poderia tornar os pais demasiado autoconscientes para o seu próprio conforto.

            Da infância à adolescência até à idade de se ser já um jovem adulto, o impulso crítico desta avaliação tende a alterar-se. A criança idolatra os pais, o adolescente crítica os pais e o jovem adulto reflete e tira as suas conclusões sobre a educação que recebeu.

            A criança (até aos 8-9 anos) admira, até venera os pais, pela sua capacidade do que conseguem fazer e o poder de aprovação que possuem. A criança quer se relacionar com os pais, desfrutar do seu companheirismo e imita-los sempre que possível. Soa-vos familiar? A criança quer ser como os pais e que estes adultos que são avaliados de uma forma globalmete positiva gostem delas ( assumindo que não são prejudiciais ou perigosos para viver). Uma criança indentifica-se com os pais porque eles fornecem os modelos para seguir e viver até então. Portanto a avaliação dos pais nesta idade começa com a idolatração. No início, os pais são normalmente demasiado bons para serem verdade, pelo menos por enquanto.

            Com a adolescência (começando por volta dos 9-13 anos) os pais não são expulsos do pedestal. Na infância do rapaz ou rapariga eles não podiam fazer nada mal, vêm a adolescência e parece que nada conseguem fazer de bem. O que causou esta súbita queda? Será que os pais mudaram? Não, mas a criança sim, e com razão.
            Para começar a separação da infância (e dos pais e família) que começa na adolescência, o jovem têm que rejeitar algum do estilo de vida que o fez ser considerado de "criança", abrindo, assim, espaço para a jornada de independência que terá de enfrentar. Pelas atitudes e ações (sair à noite, beber uns copos, etc) o jovem está a dizer, "Não quero mais ser definido como e tratado como  uma criança." De novo, soa familiar?

            Desta forma, parte da adolescência é sobre largar alguma daquela "criança boa" e deixar se ver mais da "criança má". "Má" não significa maléfica, imoral, ou ilegal, mas simplesmente mais difícil de aturar, tornando-se mais critica, insatisfeita, argumentativa, resistente, distante, mal humorada, menos cooperativa, etc. Esta transformação, no entanto, é difícil de não ser acompanhada de sem uma alteração negativa na reputação dos pais. Como pode ser observado nos vv. 621-632 da Farsa de Inês Pereira, em que Inês de novo descarta o conselho de sua mãe, mas desta vez acusa-a de ser fonte de todos os males que por ela passam ou já passaram.

            Gostando ou não, pais que se acostumaram a que os filhos gostassem muito deles, ao adorarem a criança, devem agora aceitar ser colocados numa posição em que os seus filhos não gostam tanto deles e que parecem encontrar tantos defeitos nas suas vidas. O adolescente têm de ter  "pais maus" para justificar as suas atitudes (de novo como nos vv. 681-688). A companhia dos pais em público torna-se mais problemática. Ser visto na presença deles por amigos diminui o sentido de independência do adolescente, enquanto que hábitos e características dos pais podem ser pessoalmente embaraçosas. "Tens mesmo de vestir-te sempre assim?", ou como nos vv. 458-464 da Farsa de Inês Pereira, " Inês: Não falará um de vós?  / Já queria saber isso. / Mãe: Que siso Inês que siso / tens debaixo desses véus."

            Portanto, a avaliação dos pais pelos adolescentes torna-se mais critica, e com os conflitos cada vez mais constantes sobre a liberdade, permanece assim durante o resto da adolescência, parte, simplesmente para justificar as atitudes protetoras dos pais. ’’ Não estás a ser justo!‘‘, ‘‘Nunca me deixas fazer nada!‘‘ , ‘‘ Estás a ser demasiado protetor.‘‘. Mais discussões são já hábito, e de um certo modo isto não é algo mau. Afinal, se os pais não fossem considerados difíceis de viver com, porquê sair de casa e ter uma vida própria?

            É aqui que os pais têm o maior impacto, por contribuição ou não como é que os pais influenciaram o crescimento do jovem? A resposta tanto pode ser positiva como negativa, porque não importa o quão bem intencionados os pais tenham sido, o melhor que eles podem oferecer é uma mistura de força e fragilidade, sabedoria e estupidez, boas e más escolhas.

            O que está em jogo é que o jovem têm de aceitar os pais como seres imperfeitos (tal como ele), que não só o ajudaram a crescer, mas também o feriram. Este processo de reflexão é levado a cabo, quando já longe dos pais, o jovem leva uma vida própria. Podendo esta reflexão levar ao afastamento dos filhos dos pais ou pelo contrário aproxima-los.

            Após tudo isto quero deixar a mensagem que também se aplica à Farsa de Inês Pereira, os pais não são tão bons quanto os seus filhos pequenos querem acreditar que sejam, nem tão maus quanto na adolescência os filhos querem fazer dos pais. Na maior parte das vezes, os pais comportam-se tal como um jovem adulto após ter feito a sua reflexão: ''Os meus pais não eram perfeitos, eram um pouco dos dois, mas não tem problema. Afinal, eu não sou perfeito, penso que ninguém é.''

João M.
10ºA


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