quarta-feira, 3 de abril de 2019

Temas e Ideias


A Evolução do Estatuto Social das Mulheres
Ao Longo da História

            Desde o começo da humanidade que os homens exercem a sua vontade sobre as mulheres, visto que eram caçadores, atividade de grande prestígio na época. Porém, outros historiadores afirmam que poderiam ser as mulheres a exercer o poder nas comunidades primitivas, visto que eram elas a dar à luz os filhos e os pais eram desconhecidos. Seriam os matriarcados.

            Com o aparecimento da agricultura e da propriedade privada, quando a humanidade entrou na fase da sedentarização, os homens tornaram-se donos de terras e rebanhos, de modo que, foram instituídos os contratos de casamento para que cada um soubesse quem eram os seus filhos, herdeiros dos seus bens. As mulheres passaram a ser obrigadas a casar com os homens que lhes eram impostos, a respeitá-los e a dar-lhes filhos. A mulher passou a ser tratada como uma moeda de troca entre as famílias, deixando de ter liberdades a não ser as que o marido lhe concedia. Caso não tivessem filhos eram repudiadas pelos maridos enquanto estes celebravam outro casamento, na mira de terem herdeiros. As mulheres repudiadas, sem meios de subsistência, muitas vezes vendiam favores sexuais e, quando eram descobertas, poderiam ser apedrejadas até a morte.

            O casamento religioso só foi instituído no séc XI ou XII da nossa era, com a finalidade de exigir aos homens fidelidade e respeito para com as suas esposas.

            Portanto, as mulheres viveram durante milhares de anos, submetidas à vontade dos homens da sua família. Ao longo da história do ocidente, que conhecemos melhor, apareceram diversas mulheres que exerceram tarefas reservadas aos homens. Mas trata-se de casos pontuais e não mudaram as sociedades.

            Podemos tirar como exemplo a obra de Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira, escrita na primeira metade do séc XVI. A peça retrata uma rapariga do povo, chamada Inês, na sua idade casadoura e jovem que anseia um marido que lhe dê liberdades e que a liberte do cansaço do seu trabalho. Seria assim com muitas outras raparigas, não podendo mais a não ser ansiar por um bom casamento, com um homem que fosse bom para elas e sustentasse a família.

            A mudança começou-se a afirmar no período da era industrial. Tanto mulheres como homens  foram  trabalhar para as fábricas, fora da esfera familiar, onde cada operário ou operária ganhava o seu dinheiro. De certa forma, proporcionou às mulheres os seus primeiros vislumbres de liberdade visto que eram elas a ganhar o seu próprio dinheiro.  No entanto, os operários trabalhavam em condições precárias, muitas vezes desumanas, onde eram obrigados a trabalhar forçadamente, senão, ficavam sem a única fonte de subsistência que tinham. Mulheres grávidas e a amamentar crianças não eram exceções. E se um operário se magoasse de forma a deixar de conseguir exercer o seu trabalho era simplesmente descartado, visto que na altura não havia regulamentações na área de trabalho.

            O primeiro país que admitiu o sufrágio feminino foi a Nova Zelândia, a 19 de setembro de 1893. O movimento cívico feminino, na Nova Zelândia, surgiu em meados dos anos 1880. Em 1891 um documento reuniu mais de 9 mil assinaturas. No ano seguinte já foram quase 20 mil. E por fim, em 1893, perto de 32 mil pessoas assinaram uma petição pedindo o direito de voto para as mulheres, onde apenas 21 eram homens. Isto representava um quarto da população adulta do país. Por incrível que pareça, um dos assuntos mais debatidos nas discussões sobre o voto das mulheres tinha a ver com a venda de álcool, visto que muitas achavam que as bebidas alcoólicas eram, em parte, responsáveis pela violência doméstica e outros problemas familiares, e por esse motivo, o lobby pró-bebidas alcoólicas, suportado pelas industria das bebidas alcoólicas, opunha-se ao voto das mulheres. Este movimento alastrou-se para o resto do globo principalmente depois das Duas Grandes Guerras. As mulheres tiveram de assumir os papéis que muitos homens exerciam, visto que maior parte deles estava na frente de batalha, e quando estes regressaram muitas opuseram-se ao "convite" que lhes foi feito para regressarem ao lar. Muitos diziam ate: "Elas vão preferir ficar em casa". Até hoje, o último país  onde as mulheres conquistaram o direito ao voto foi na  Arábia Saudita em 2011.

            Em Portugal, no primeiro ato eleitoral da recém nascida República, em 1911, era permitido o voto a todos os chefes de família que soubessem ler. Como não era referido o género, Carolina Ângelo, médica, viúva, e por isso, chefe de família votou nas eleições da Assembleia Constituinte, em 1911. De forma a evitar que tal exemplo se repetisse a legislação foi alterada, no ano seguinte, que especificava que apenas os homens o  podiam fazer. Na ideologia vigente, os direitos da mulher eram quase nenhuns. Oliveira Salazar não permitia que a ordem social fosse questionada  e todos os assomos de feminismo iam sendo silenciados. Só um ano depois do 25 de Abril, os direitos das mulheres portuguesas ficaram consagrados na Constituição da República.

            Ser o outro sexo, estar em segundo plano, ter um papel definido pelo dominador, obedecer sempre e deixar-se violentar sempre. A cartilha é longa e passou de mães para filhas, numa herança disciplinada e castradora. Na história das mulheres à desigualdade, discriminação e muita violência. A libertação, a luta pelos mesmos direitos humanos do homem, é dura e longa, e ainda hoje não chega a todas as casas nem a todas as mentalidades.

Bibliografia

            RTP (2014). Desigualdades entre os homens e as mulheres antes do 25 de Abril. Acedido em 24  de fevereiro de 2019, em: http://www.ensina.rtp.pt/artigo/o-ideal-feminino-do-estado-novo/

            Diário de Notícias (2018). O estatuto das mulheres através da História. Acedido em 24 de fevereiro de 2019, em: http://www.dnotícias.pt/leitor/cartas/o-estatuto-das-mulheres-atraves-da~-historia-EJ2847006#

            Público (2014). As mulheres foram activistas na guerra, depois voltaram ao lar. Acedido em 24 de fevereiro de 2019, em: http://www.público.pt/2014/08/20/culturaipsilon/noticia/do-activismo-das-mulheres-na-retaguarda-ate-ao-regresso-ao-lar-1666852/amp

            RTP (2008). A Mulher e o voto em Portugal. Acedido em 24 de fevereiro de 2019, em: http://www.ensina.rtp.pt/artigo/a-mulher-e-o-direito-ao-voto/

            Diário de Notícias (2018). "Elas vão preferir ficar em casa": há 125 anos as mulheres votaram pela primeira vez. Acedido em 24 de fevereiro de 2019 ,em: http://www.google.com/amp/s/www.dn.pt/mundo/interior/amp/elas-vao-preferir-ficar-em-casa-ha-125-anos-as-mulheres-conquistaram-o-direito-ao-voto-9873634.html

Trabalho realizado por:
Miguel G. M. 10ºA, Nº23


 Imagem: Jacinda Ardern, 1ª ministra da Nova Zelândia, na Assembleia Geral da ONU, Nova Iorque."O bebé da primeira-ministra neozelandesa sentou-se na ONU", PÚBLICO, 25 de Setembro de 2018.



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