CAMÕES, HOJE - Articulação entre as Reflexões do Poeta e a atualidade dos alunos: o que merece ser cantado ou criticado em 2019 -
Os trabalhos de leitura, síntese, reflexão crítica e apresentação de exposições ou reportagens sobre temas de atualidade visam, entre outras, as seguintes aprendizagens:
"- exploração e aprofundamento de temas interdisciplinares suscitados pelas obras literárias em estudo.
- compreensão e interpretação de textos através de atividades que impliquem
.o mobilizar experiências e saberes como ativação de conhecimento prévio;
. estabelecer ligações entre o tema desenvolvido no texto e a realidade vivida pelo aluno;
- Fazer exposições orais para apresentação de leituras."
Como combinado, cada exposição deverá estabelecer a ligação com Os Lusíadas.
Para ajudar, aqui ficam os versos das Reflexões do Poeta mais suscetíveis de ser usados como epígrafe. Escolham (1 a 3 versos, por ex.), de acordo com o tema abordado.
CANTO I
105
«Ó grandes e gravíssimos perigos,
Ó caminho de vida nunca certo,
Que aonde a gente põe sua esperança
Tenha a vida tão pouca segurança!
106
No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?»
CANTO II
[...]
«O desejo de um nome avantajado,
Mais razão há que queira eterna glória
Quem faz obras tão dinas de memória.»
CANTO V
97
«Enfim, não houve forte Capitão
Que não fosse também douto e ciente,
Da Lácia, Grega ou Bárbara nação,
Senão da Portuguesa tão somente.
Sem vergonha o não digo: que a razão
De algum não ser por versos excelente
É não se ver prezado o verso e rima,
Porque quem não sabe arte, não na estima.
98
Por isso, e não por falta de natura,
Não há também Virgílios nem Homeros;
Nem haverá, se este costume dura,
Pios Eneias nem Aquiles feros.
Mas o pior de tudo é que a ventura
Tão ásperos os fez e tão austeros,
Tão rudos e de engenho tão remisso,
Que a muitos lhe dá pouco ou nada disso.
99
Às Musas agardeça o nosso Gama
O muito amor da pátria, que as obriga
A dar aos seus, na lira, nome e fama
De toda a ilustre e bélica fadiga [...].»
CANTO VI
95
«Por meio destes hórridos perigos,
Destes trabalhos graves e temores,
Alcançam os que são de fama amigos
As honras imortais e graus maiores;
Não encostados sempre nos antigos
Troncos nobres de seus antecessores;
[...]
96
Não cos manjares novos e esquisitos,
Não cos passeios moles e ouciosos,
Não cos vários deleites e infinitos,
Que afeminam os peitos generosos; [...]
97
Mas com buscar, co seu forçoso braço,
As honras que ele chame próprias suas;
Vigiando e vestindo o forjado aço,
Sofrendo tempestades e ondas cruas,
Vencendo os torpes frios no regaço
Do Sul, e regiões de abrigo nuas,
Engolindo o corrupto mantimento
Temperado com um árduo sofrimento;
98
[...]
Destarte o peito um calo honroso cria,
Desprezador das honras e dinheiro, [...]»
CANTO VII
84
«Nem creiais, Ninfas, não, que fama desse
A quem ao bem comum e do seu Rei
Antepuser seu próprio interesse,
Imigo da divina e humana Lei.
Nenhum ambicioso que quisesse
Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Usar mais largamente de seus vícios;
85
Nenhum que use de seu poder bastante
Pera servir a seu desejo feio,
[...] veio, [...]
A despir e roubar o pobre povo!
86
Nem quem acha que é justo e que é direito
Guardar-se a lei do Rei severamente,
E não acha que é justo e bom respeito
Que se pague o suor da servil gente;
Nem quem sempre, com pouco experto peito,
Razões aprende, e cuida que é prudente,
Pera taxar, com mão rapace e escassa,
Os trabalhos alheios que não passa.
87
Aqueles sós direi que aventuraram
Por seu Deus, por seu Rei, a amada vida,
Onde, perdendo-a, em fama a dilataram,
Tão bem de suas obras merecida.[...]»
CANTO VIII
96
[...]
«Veja agora o juízo curioso
Quanto no rico, assi como no pobre,
Pode o vil interesse e sede inimiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga.
97
[...]
Pode tanto em Tarpeia avaro vício
Que, a troco do metal luzente e louro,
Entrega aos inimigos a alta torre, [...].
98
Este rende munidas fortalezas;
Faz trédoros e falsos os amigos;
Este a mais nobres faz fazer vilezas,
E entrega Capitães aos inimigos;
Este corrompe virginais purezas,
Sem temer de honra ou fama alguns perigos;
Este deprava às vezes as ciências,
Os juízos cegando e as consciências.
99
Este interpreta mais que sutilmente
Os textos; este faz e desfaz leis;
Este causa os perjúrios entre a gente
E mil vezes tiranos torna os Reis.
Até os que só a Deus omnipotente
Se dedicam, mil vezes ouvireis
Que corrompe este encantador, e ilude;
Mas não sem cor, contudo, de virtude!»
CANTO IX
92
[...]
Por isso, ó vós que as famas estimais,
Se quiserdes no mundo ser tamanhos,
Despertai já do sono do ócio ignavo,
Que o ânimo, de livre, faz escravo.
93
E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente:
Milhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.
94
Ou dai na paz as leis iguais, constantes,
Que aos grandes não dêem o dos pequenos,
[...]
E todos tereis mais e nenhum menos:
Possuireis riquezas merecidas,
Com as honras que ilustram tanto as vidas.»
CANTO X
145
[...]
«O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dũa austera, apagada e vil tristeza»
Imagens
1 -Pintura de Camões, pelo pintor José Guimarães
2 - Pintura de Camões, pelo pintor Norberto Nunes
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