Querido Diário,
O meu nome é Inês Pereira
Ai mas que vida esta que eu levo, “que enfadamento // e que raiva e que tormento // que cegueira e que canseira”… Tenho de mudar isto! Mas como? Como haverei de escapar desta vida, retida nesta casa como uma “panela sem asa”. Cativa nesta casa não pude folgar, não pude sair e chegar e viver a vida bizarra e invulgar! Qual foi o pecado que aqui me prendeu, nada aqui acontece, tudo aqui é monótono.
Atormentada pela minha mãe que um dia chegou da missa e à medida que eu bordava, me criticava e desprezava o meu trabalho. Alegava que por ser molenga o meu sonho de casar era um mero devaneio e que nunca acreditara em mim.
Ouvi dizer que a Lianor Vaz, um clérigo lhe lançou a mão no seu caminho para cá. Não perdeu tempo a contar este incidente pois o de arranjar um pretendente para mim, era o seu único interesse. No entanto, esclareci que um bom marido para mim era um homem culto e virtuoso, educado e abastado, a saber «tanger viola». Apresentou-me então Pêro Marques. Se era tolo ou entendido foi a minha preocupação, li a sua carta. Louvou o meu “bom jeito” e “bom proveito”. Preparada para troçar de Pêro Marques e aconselhada por Lianor a me casar de momento pois ocasiões destas neste tempo, raras são, Pêro foi convidado à nossa casa.
Chega a casa e foi recebido pela minha mãe. Pêro perdera o seu pai e tornara-se herdeiro do morgado, das terras. Um homem realizado que desejava ficar casado comigo. Fiquei desapontada com o pretendente pois este não conquistaria as minhas fantasias, Pêro ficara, no entanto, sempre disponível para me desposar.
Querido Diário,
Descobri que passaram por aqui dois judeus casamenteiros, hão de aqui chegar em pouco tempo.
Os casamenteiros logo perceberam que preferia casar com sensatez. Marido como eu desejava só na corte o achara. Os judeus recomendaram-me então um elegante Escudeiro, Brás de Mata, que prometia grandes esperanças e expectativas.
Entretanto em minha casa, minha mãe informava-me como receber o novo pretendente. Aquando da sua chegada, fui bastante elogiada e senti-me deveras encantada e emocionada. Este Escudeiro aparentava ser um bom partido, rico e instruído e a saber “tanger a viola”. O Escudeiro ordena então ao seu Moço para lhe trazer a viola e juntamente com o Judeu, começa a cantar. O Judeu acaba por nos casar. Apesar da oposição da minha mãe, eu, apaixonada, aceitara a mão do Escudeiro em casamento.
Após uma pequena festa com a minha mãe e umas moças, ela despede-se de mim com esperanças de não me voltar a ver brevemente.
E disse o Escuteiro: “Oh! quem me fora solteiro.
- Já vós vos arrependeis?
- Ó esposa não faleis que casar é cativeiro.”
Rapidamente apercebi-me com quem realmente me comprometi, uma farsa, uma mentira baseada em falsas aparências. Permaneci em cativeiro não dialoguei com nenhum homem ou mulher, presa naquela casa. “Que pecado foi o meu? // Por que me dais tal prisão?” – disse-lhe eu. Lançou o meu marido sobre mim uma manta de terror e partiu para se tornar cavaleiro nas guerras. Ficou comigo seu moço que após a porta trancar deixou-me a trabalhar. Creio que havia feito a decisão mais acertada, um marido brando em casa mas impiedoso nas guerras, matador de mouros, encantador para sua mulher, todavia encontro-me aqui trancada. Desejo-me libertar, sair daqui para fora.
Querido Diário,
Recebi uma carta de vinda de Arzila, o meu marido era o seu assunto. Havia sido morto por um mouro aquando o abandono da batalha. Questionei-me então como um senhor que para com a sua mulher corajoso era, derrubado por um mero mouro foi.
Ordenei, de imediato, ao seu criado a chave este fez-se à vida.
Querido Diário,
Decidi finalmente casar, não por sentido, mas por canseira. No coração de Pêro Marques herdeiro do morgado e do seu gado, fui aceite como sua parceira. Encontrei mais tarde um ermita que me veio pedir esmola, reconheci-o de uma vez que esteve em casa da minha tia, combinei encontrar-me com ele na romaria. Assim, Pêro meu marido, levou-me ao longo do caminho com delicadeza ao encontro de um velho amigo.
Trabalho realizado por:
Guilherme P., nº7, 10ºB
Disciplina de Português
Janeiro de 2022
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