sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Farsa de Inês Pereira na 1ª pessoa | 6

 















Diário A farsa de Inês Pereira:

Querido diário, chamo-me Inês Pereira e queria partilhar contigo as dificuldades e felicidades pelas quais tenho passado.

A minha mãe e sua amiga Lianor Vaz sempre me obrigaram a viver uma vida sem significado em que o meu papel era apenas realizar as mais comuns e insignificantes tarefas, não existindo qualquer tipo de estímulo intelectual. Este desapego pelo conhecimento e ignorância sempre me foram, e sempre serão, incompreensíveis. A única coisa que elas esperam que eu faça é casar com um homem rico e com posses para se verem livres de mim, mas para mim nada disso importa. Pode ser o homem mais feio e pobre do Mundo, desde que seja sabido já me fará uma pessoa feliz.

Durante muito tempo foi assim que pensei e por isso foi tão fácil rejeitar Pêro Marques, um homem que embora tivesse posses tinha uma visão demasiado simplista, ao contrário de Brás da Mata que aparentava ser o príncipe pelo qual sempre esperei, um escudeiro culto e sofisticado.

Apenas após o meu casamento com Brás, e todas as torturas as quais me obrigou a viver é que me apercebi de que o mais importante não é o aspeto, nem a carteira e nem o intelecto, mas sim a sua disponibilidade para me tratar como uma pessoa igual. Brás tratou-me como um objeto que podia ser guardado e estava sempre disponível para quando era necessária a sua utilização. Não só me privou da minha liberdade por me ter trancado num quarto por puro ciúme, como também me deixou completamente sozinha. Muito ao contrário de Pêro a quem dei uma segunda oportunidade. Pêro não só me trata como mereço, como também consigo usar a sua falta de conhecimento a meu favor, não serei novamente mal tratada. Pêro pode não ser o mais bonito, o mais sofisticado, mas com certeza gosta de mim. Mesmo apesar de o ter humilhado ele aceitou-me de volta. “Mais quero asno que me levo do que cavalo que me derrube”.

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