Para melhor nos apropriarmos do ser e do sentir das personagens, nada melhor que entrar dentro delas, através de um DIÁRIO.
Barreto Poeira, na personagem de Romeiro (à esquerda), e João Villaret, a representar Telmo, no filme FREI LUÍS DE SOUSA, do realizador António Lopes Ribeiro, estreado em 1950.
ØAÇÃO TRÁGICA - há um conflito, sem solução, entre o passado e o presente;
- as personagens são arrastadas para a destruição; a força do destino é superior às suas forças
ØETAPAS/ELEMENTOS DA TRAGÉDIA
desafio a forças superiores/destino
pathos / sofrimento (primeiro em Madalena e Telmo, depois gradualmente em todas as personagens)
peripécia (incêndio do palácio e, sobretudo, regresso do Romeiro)
reconhecimento (descoberta da identidade do Romeiro) – ponto alto da acção = climax
catástrofe
ØTEMPO – A ação inicia-se numa fase muito adiantada dos acontecimentos, sendo o passado apresentado nas falas, em retrospetiva
Ex. O primeiro casamento de D. Madalena, com 17 anos; desaparecimento de D. João há 21 anos; procura de notícias durante 7 anos; casamento há 14 anos; nascimento de Maria há 13. (na Cena II do Ato I)
Há números/sinais especiais que marcam o tempo: o número 7; o número 3; a sexta-feira (cenas V, X, XIV, do acto I); a semana (intervalo entre Atos I e II); a noite v/so dia.
ØLINGUAGEM
- Marcada pelouso do falar «natural e corrente», adequado, todavia, ao estatuto das personagens:
Vocabulário sóbrio, mas simples, não «pomposo» ou artificial;
Frases curtas – “Tens, filha” / “Não, Maria”;
Expressões próprias do oral -“Está bom”; “Não: credo!” “Queres lá tu saber” “Bonito!” “Louquinha!” “Ora Deus to pague!”
Repetições: “Veem, veem?” / “Não é isso, não é isso”
Suspensões/hesitações próximas da nossa forma de falar, traduzidas pelas reticências; expressam emoção, dúvida; muitas vezes associadas a repetições, a frases deixadas por acabar, a interjeições:…é que vos tenho lido nos olhos…Oh, que eu leio nos olhos, leio, leio!...e nas estrelas também – e sei coisas
oEmotividade – traduzida por: vocabulário, nomeadamente vocábulos relacionados com emoções, sentimentos (amor, desgraça, coração, suspirar...) e asinterjeições–Ah! Oh!Credo pontuação : para além das reticências, as interrogações, as frases exclamativas: - A mãe já não chora, não? Já não se enfada comigo?
oFamiliaridade -o registo de língua dominante adequa-se à situação íntima, de diálogo afectivo entre os membros da família (incluindo Telmo):”Esposo da minha alma” “meu Telmo”, “Meu querido pai”, ”Ora pois,mana, ora pois!”
ATENÇÃO: Esta síntese servirá para ajudar no TPC. Mas as vossas respostas devem centrar-se nos exemplos do texto.
Maria e Manuel de Sousa, no filme de João Botelho Quem és tu?
«1. O que há de tragédia na obra? 2. Quais os factores que contribuem para a denominar de "drama".»
Ora aqui estão perguntas que também fizemos em aula. Vamos ver a resposta que foi publicada no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. (1)
1. Em primeiro lugar, uma informação geral sobre o drama
romântico e a tragédia clássica.
1.1. O drama românticoé um género teatral em que aparecem unidos o
elemento trágico e o cómico, o sublime e o grotesco. O drama parte da
realidade, tenta retratar a vida real, mas apresenta uma série de situações com
diversas personagens que se envolvem em vários episódios, sucedendo-se rápida e
confusamente, sem unidade de ação e por vezes com falta de verosimilhança. O
desfecho pode ser trágico ou não.
1.2. A tragédia clássicaé um género nobre, cultivado inicialmente na
Grécia. As personagens, ilustres, protagonizam uma ação recheada de atitudes
nobres, de coragem, mas em que o protagonista, pessoa justa e sem culpa,
caminha inexoravelmente em direção à desgraça ou à morte, vítima de um destino
que não consegue vencer. O fim da tragédia é o de provocar o terror e a
piedade.
2. A obra Frei Luís de
Sousa não é exemplo típico nem de uma tragédia clássica nem de um
drama romântico. É uma obra híbrida, a nível da classificação quanto à
sua natureza. O próprio Almeida Garrett o diz na "Memória ao Conservatório
Real", texto por meio do qual faz a apresentação da sua peça:
"Contento-me para a minha obra com o título de drama; só peço que a não
julguem pelas leis que regem, ou devem reger, essa composição de forma e índole
nova; porque a minha, se na forma desmerece da categoria, pela índole há-de
ficar pertencendo sempre ao antigo género trágico."
2. O que há de tragédia na
obra? 2.1. Elementos comuns à tragédia clássica:
a) a classe social dos protagonistas: pessoas de estirpe
elevada;
b) o carácter justo e íntegro das personagens sobre as quais
recai a desgraça;
c) a existência de um conflito: um conflito interior vivido
essencialmente pelas personagens de D. Madalena de Vilhena e de Telmo;
d) o desafio ao destino: feito por D. Madalena e D. Manuel de
Sousa Coutinho, quando casam sem a certeza absoluta de que D. João estava
morto;
e) o sofrimento como uma constante ao longo da obra,
especialmente vivido por D. Madalena;
f) os pressentimentos, a criação de uma atmosfera de temor:
os presságios de Telmo, as datas, o incêndio do retrato de Manuel de Sousa
Coutinho, o sebastianismo;
g) o papel do Destino, entidade à qual o homem não pode
fugir;
h) a peripécia: o incêndio do palácio de Manuel de Sousa
Coutinho, da responsabilidade do próprio, o que vai originar a ida da família
para o palácio de D. João, aonde este se dirige imediatamente, mal chega a
Portugal, sem tempo para se inteirar bem de todos os aspetos da situação;
i) o reconhecimento de uma personagem: o Romeiro como D. João
de Portugal;
j) a existência de um clímax (a revelação da identidade do
Romeiro), a partir do qual o desenlace trágico se torna irreversível;
k) a catástrofe: a morte de uma vítima inocente - D. Maria -,
a ida dos seus pais para o convento (morte para o mundo), a destruição psíquica
de Telmo e o sofrimento de D. João;
l) a catarse: o sentimento de terror e piedade provocado nos
espectadores, levando-os à aprendizagem de uma lição, à purificação espiritual.
2.2. Aspetos em que se afasta
da tragédia clássica: a) o facto de estar escrita em prosa (a tragédia
clássica era em verso);
b) a utilização de um registo de língua coloquial, fluente,
próximo da realidade (diferente do tom solene e vocabulário culto da tragédia
clássica);
c) o facto de ter três atos e não cinco;
d) o desrespeito pela lei das três unidades: há apenas
unidade de ação, mas não há unidade de espaço (o 1.º ato passa-se no palácio de
Manuel de Sousa Coutinho, o 2.º no de D. João de Portugal e o 3.º na parte
baixa deste palácio e na igreja de S. Paulo), nem de tempo (os acontecimentos
não se dão num dia – máximo de 24 horas - mas sim numa semana);
e) a supressão da personagem do Coro, que tinha a função de
prever e comentar os acontecimentos, embora se considere que Telmo desempenha
parte dessas funções;
f) o assunto, que não diz respeito às lendas ou histórias da
Antiguidade Clássica, mas é, sim, um assunto retirado da realidade do seu país,
com atualidade e com fundo histórico.
3. Quais os fatores que contribuem para a denominar de
"drama"?
São precisamente estes seis, em que se afasta da tragédia
clássica e reflete as características do drama de proximidade com a realidade.
Como se pode depreender dos tópicos apresentados, esta obra
está muito mais próxima da tragédia do que do drama. Garrett apenas não a
denominou assim porque o género tragédia tinha tal solenidade e conjunto rígido
de regras que o autor preferiu a prudência de uma designação menos prestigiosa,
o que lhe pouparia algumas críticas.
(1) "Drama ou tragédia?", texto da especialista Maria Regina Rocha, publicado no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, em https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/drama-ou-tragedia/7024, consultado em 20 de novembro de 2019.
Nesta notícia é exposto o caso de Masha Amini,
uma jovem iraniana de 22 anos, que foi detida pela polícia da
moralidade no Irão por "vestir roupas inadequadas", isto é, o véu que
ela trazia na sua cabeça deixava à vista um pouco de cabelo; no mesmo
dia em que entrou na esquadra também saiu desta, mas em coma, dias
depois acabou por morrer.
Desde este acontecimento os protestos no Irão
aumentaram, veem-se mulheres a queimar os seus véus em praça pública e
homens a apoiar a sua causa. Estes protestos não são contra o uso do
hijab, mas sim, pela liberdade de poder escolher usá-lo ou não. À escala
mundial começou um movimento solidário de apoio às mulheres iranianas
pela sua liberdade, para que tenham direito a tomar as suas próprias
decisões.
Como segundo a lei do Irão, as mulheres são consideradas
como metade de um homem, estas continuam a lutar pela paridade. Ao longo
dos últimos anos têm vindo a tentar ter o reconhecimento de direitos
civis como o direito ao divórcio, ao trabalho, à custódia dos filhos, a
viajar, entre muitas outras coisas. Na atualidade, uma mulher só pode
usufruir destes direitos se um homem da família como um pai ou um marido
assim o permitirem. O preço da luta pela paridade é, para algumas
mulheres, muito elevado, no caso desta jovem iraniana e de muitas outras
é a sua própria vida ou a prisão.
O Irão vivencia agora uma
onda de protestos em todo o país, desencadeados, a 16 de setembro, após a
morte de uma jovem iraniana-curda de 22 anos, Mahsa Amini, detida pela
polícia moral em Teerão acusada de usar “trajes inadequados”. Em
protesto pela à sua morte, Iranianas e pessoas pelo mundo todo, de todas as
idades, queimam véus e cortam os cabelos. Indignadas e frustradas as
vítimas e opositores desta opressão divulgaram o seu descontentamento
nas redes sociais e, à medida que os protestos se espalharam e
rapidamente ganharam força, as demandas se tornaram mais abrangentes.
O
principal slogan usado nas manifestações é “Mulher, Vida, Liberdade”,
sendo este um apelo à igualdade no país. Não só as mulheres iranianas,
mas também os homens lutam neste momento pelos direitos humanos, pela
liberdade, pelos direitos das mulheres e pelo direito à mudança no seu
país.
A multidão levanta cartazes com mensagens como “Não ao hijab
obrigatório”, “O poder das pessoas é maior do que as pessoas no poder”
ou “O meu corpo, as minhas escolhas”. O ato da queima do hijab não tem
como objetivo desrespeitar os valores da religião, mas sim expressar o
quanto as mulheres não aguentam mais a opressão, assim como serem
vigiadas e controladas.
Há mais de três semanas que estes protestos
duram e, em sua resposta, as forças de segurança já mataram dezenas de
manifestantes e prenderam muitos mais. Nesta luta pela liberdade o preço
que o povo iraniano paga é a própria vida.
Obs: Um jovem cantor
iraniano, Shervin Hajipour, inspirou-se nestes recentes acontecimentos e
escreveu uma música recorrendo a uma compilação de tweets sobre o tema -
https://youtu.be/z8xXiqyfBg0.
O PREÇO A PAGAR PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NOS DIAS DE HOJE
No nosso dia-a-dia um dos temas mais falados e atuais é a situação da Guerra entre a Ucrânia e Rússia, situação esta que tem abalado a sociedade em geral e também levantado a existência ou a não existência de certos valores morais que devem ser tidos em atenção, entre eles o livre arbítrio, a liberdade de expressão etc. que durante o decorrer de toda esta guerra temos verificado que são muitas as vezes em que esses valores ficam de parte, e um dos mais importantes é como já foi referido a liberdade de expressão sendo que como se pode verificar apesar de ser um direito que nos devia pertencer este tem custos muitos elevados e não me refiro em termos monetários, mas sim o preço da própria vida e da liberdade. Como podemos verificar na notícia que apresento em que um grupo de três poetas russos em forma de demonstrarem o seu descontentamento e preocupação com esta situação, decidiram então escrever um pequeno poema contra a guerra, que levou a que um destes indivíduos fosse atacado com recurso a força física e abusado por parte de uma autoridade russa como consequência da ação que praticaram.
Como se pode constatar na maioria destes casos os opositores que apenas querem acabar com a situação e trazer a sua liberdade de volta e a paz no pais e no mundo, mas ao oporem-se, segundo os ideais das autoridades máximas são encaradas como ofensas ao país, o que leva a que os opositores enfrentem duras represálias e sejam censurados por querer o bem como se constatou nesta notícia onde os indivíduos foram ainda sujeitos a uma pena prisional. Desta forma levanto as seguintes questões: Em que parte deste conflito é que se encontra este valor tão importante e que pertence aos cidadãos em geral? Será que existe mesmo liberdade de expressão?