sábado, 27 de fevereiro de 2010

Escritor na 1ª pessoa

Dentro do grande tema que estamos a conhecer - Textos autobiográficos - vejam com atenção estas passagens dos Cadernos de Lanzarote, diário que leva o nome da ilha.
(ver vídeo Ilha de Lanzarote)


CRIAÇÃO



20 de Abril
Esta manhã, quando acordei, veio-me a ideia do Ensaio sobre a cegueira, e durante uns minutos tudo me pareceu claro - excepto que do tema possa vir a sair alguma vez um romance, no sentido mais ou menos consensual da palavra e do objecto. Por exemplo: como meter no relato personagens que durem o dilatadíssimo lapso de tempo narrativo de que vou necessitar? Quantos serão precisos para que se encontrem substituídas, por outras, todas as pessoas vivas num momento dado? Um século, digamos que um pouco mais, creio que será bastante. Mas, neste meu Ensaio, todos os videntes terão que ser substituídos, por cegos, e estes, todos, outra vez, por videntes... As pessoas, todas elas, vão começar por nascer cegas, viverão e morreram cegas, a seguir virão outras que serão sãs da vista e assim vão permanecer até a morte. Quanto tempo requer isto? Penso que poderia utilizar, adaptando a esta época, o modelo “clássico” do “conto filosófico”, inserindo nele, para servir as diferentes situações, personagens temporárias, rapidamente substituíveis por outras no caso de não apresentarem consistência suficiente para uma duração maior da história.



21 de Junho
Dificuldade resolvida. Não é preciso que as personagens do Ensaio sobre a Cegueira tenham que ir nascendo cegas, uma após a outra, até substituírem, por completo, as que tem visão: podem cegar em qualquer momento. Desta maneira ficará encurtado o tempo narrativo.



2 de Agosto
Escrevi as primeiras linhas do Ensaio sobre a Cegueira.


15 de Agosto
Continuo a trabalhar no Ensaio sobre a Cegueira. Após um princípio hesitante, sem norte nem estilo, à procura das palavras como o pior dos aprendizes, as coisas parecem querer melhorar. Como aconteceu em todos os meus romances anteriores, de cada vez que pego neste, tenho que voltar a primeira linha, releio e emendo, emendo e releio, com uma exigência intratável que se modera na continuação. É por isso que o primeiro capítulo de um livro é sempre aquele que me ocupa mais tempo. Enquanto essas poucas páginas iniciais não me satisfizerem, sou incapaz de continuar. Tomo como um bom sinal a repetição desta cisma. Ah, se as pessoas soubessem o trabalho que me deu a página de abertura do Ricardo Reis, o primeiro parágrafo do Memorial, quanto eu tive que penar por causa do que veio a tornar-se o segundo capítulo da História do Cerco, antes de perceber que teria de principiar com um diálogo entre Raimundo Silva e o historiador... E um outro segundo capítulo, o do Evangelho, aquela noite que ainda tinha muito para durar, aquela candeia, aquela frincha da porta...




In CADERNOS DE LANZAROTE
 
Acedido em 27 de fevereiro de 2010.

2 comentários:

Anónimo disse...

Professora, envio-lhe o texto que pediu:

"Tinha 7 anos. Naquela altura não havia nada mais importante para mim do que começar uma nova vida. Vinha da África do Sul, de um país onde a cultura, a língua e os costumes eram totalmente diferentes. Estava a viver num país com um elevado grau de criminalidade, onde as escolas eram protegidas por vedações eléctricas e seguranças armados com metralhadoras e as casas tinham portas blindadas. Esse era o mundo que para mim era normal. Depois da mudança, finalmente consegui viver uma vida sem receio - podia dizer e vestir o que quisesse de livre vontade sem me sentir "vigiado". Quando cheguei, senti que estava noutro planeta, numa outra dimensão. Num sítio completamente diferente que eu nunca sequer teria imaginado que existisse.

Mudar de país, língua, amigos e casa foi para mim como nascer de novo. Quando cheguei não sabia andar, estava perdido e não sabia falar, sentia-me sozinho.

Jamais esquecerei a professora Marília, com quem conseguia comunicar - pois ela falava Inglês. Foi graças a ela que me consegui integrar numa nova realidade e apreciar o que é era bom nela.

Apesar de na altura ser muito jovem, tinha a noção do que era a amizade e do quanto importante esta é para ultrapassar episódios semelhantes a este.

Hoje, estou completamente integrado na sociedade portuguesa sendo, para mim, todo o meu passado um simples sonho de aventura."

Resto de um bom fim-de-semana.

José 10ºB

Anónimo disse...

Autor: Kathrine Kressmann Taylor.
Título: Desconhecido Nesta Morada.
Editora: Gótica.
Género: Ficção.
Local e data de edição: Lisboa/2009.
Número de edição: 2ª edição.

A obra relata de uma maneira simples e objectiva, por meio de troca de correspondência, a história de dois amigos: um americano de raça Judia, Max, e outro de nacionalidade Alemã, Martin, que após viver muitos anos na América se mudou novamente para o seu país de origem.
Ao fim de alguns meses após a mudança de Martin para a Alemanha, este começou a sentir as mudanças políticas, Hitler começou a ter muitos apoiantes subindo mais tarde ao poder.
Já mais tarde, com o país sob os ideais de Hitler, Martin viu-se obrigado a diminuir as correspondências com o seu amigo Max, visto que o mesmo era de origem Judaica. Daí até descobrirem esta amizade e terminarem com a relação de ambos, foi um curto período de tempo.


Este tipo de livros sempre me agradou. Considero importantes todos estes relatos, quer sejam verídicos ou ficcionados. O holocausto foi um período muito negro na história da humanidade, mas nomeadamente na história da Alemanha. Nunca é demais alertar as pessoas para o que aconteceu e para o que nunca mais deverá acontecer, pois todos nós temos o direito à vida e não é o facto de seu ser portuguesa ou de ter olhos azuis que me vai dar mais direito a viver.
Com este livro, que embora seja ficção, a autora conseguiu passar a imagem de como as pessoas eram influenciadas naquela altura, que bastava ter uma simples relação com uma pessoa possuidora de um elevado poder económico ou social para se tornarem apoiantes das ideias do chefe, neste caso, Hitler. Referiu, também, que um dos grandes problemas sentidos na época foi a fiscalização das correspondências vindas de fora, pela Censura.
“Será que não vês, será que fazes alguma ideia de que me estás a destruir? Os resultados da tua loucura são já tremendos.(…)” esta foi a frase que mais me marcou. Após a leitura das cartas anteriores, sempre pensei que com o facto da irmã de Max ter falecido pela falta de protecção de Martin, este ficaria em dívida para com o amigo, mas, pelos vistos não. Martin continuou a desprezar aquela que foi uma grande amizade entre ambos, apenas pelo facto do seu amigo ser de origem judaica e lhe poder vir a trazer problemas.
O livro apresenta-se bem estruturado, com uma leitura bastante acessível, no entando poderia ter sido desenvolvido um pouco mais.



Patricia Antunes
Contrato de Leitura
10ºA Nº18