domingo, 4 de maio de 2014

Descrição


 

Van Gogh, O Terraço do Café
As descrições consistem na apresentação de diversos aspetos que caracterizam pessoas e personagens (traços físicos, atributos psicológicos), espaços (físicos, psicológicos ou sociais), fenómenos atmosféricos e todo o tipo de objetos. As cores, as formas, as linhas, os sons, os cheiros, os pormenores que permitem «ver» a realidade que se deseja descrever são muito relevantes.

As sequências textuais descritivas surgem frequentemente articuladas com sequências textuais de outros tipos. Por exemplo, em textos narrativos como o CONTO é frequente surgirem sequências descritivas que permitem caracterizar uma personagem ou um espaço físico e/ou social, por forma a enquadrar ou mesmo motivar o desenrolar da ação.

 DESCRIÇÃO
Apresenta como características:
a)apresentação de informações sobre personagens, espaços e toda a variedade de objetos;
b)partição do objeto de observação em pontos de focalização; 
c)recursos expressivos (adjetivação expressiva, comparação, metáfora, repetição,  sinestesia…); 
d)a presença de determinadas marcas linguísticas:
Øadjetivação;
Øvocabulário associado aos sentidos, em particular a visão (visualismo; cromatismo)
Øverbos predicativos ser, estar, parecer, ficar…;
Øverbos no presente e pretérito imperfeito do indicativo;
Ømarcadores espaciais (ali, ao longe, em cima, do lado esquerdo, mais perto, etc.). 
 
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 Ainda hoje não gosto de atravessar os longos corredores das velhas casas com grandes retratos pendurados nas paredes. Há olhos que nos seguem do alto e nunca se sabe o que de repente pode acontecer.
Havia na casa da tia Hermengarda um quadro deslumbrante. Ficava ao cimo das escadas, à entrada do corredor que dava para os quartos de dormir. Mesmo assim, rodeado de sombras, irradiava uma luz que só podia vir de dentro da dama do retrato. Não sei se da blusa muito branca, se dos olhos, às vezes verdes, às vezes cinzentos. Não sei se do sorriso, às vezes alegre, às vezes triste. Eu parava muitas vezes em frente do retrato. Era talvez o único que não me assustava. Creio até que dele se desprendia uma luz benfazeja, que de certo modo me protegia.
Mas havia um mistério. Ninguém me dizia quem era a senhora do retrato. 

Manuel Alegre, "A Senhora do Retrato" (excerto)

 
 

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