Van Gogh, O Terraço do Café
As descrições consistem na apresentação de diversos aspetos que caracterizam
pessoas e personagens (traços físicos, atributos psicológicos), espaços
(físicos, psicológicos ou sociais), fenómenos atmosféricos e todo o tipo de
objetos. As cores, as formas, as linhas, os sons, os cheiros, os pormenores que permitem «ver» a realidade que se deseja descrever são muito relevantes.
As
sequências textuais descritivas surgem frequentemente articuladas com
sequências textuais de outros tipos. Por exemplo, em textos narrativos como o CONTO é
frequente surgirem sequências descritivas que permitem caracterizar uma
personagem ou um espaço físico e/ou social, por forma a enquadrar ou mesmo
motivar o desenrolar da ação.
DESCRIÇÃO
Apresenta
como características:
a)apresentação de
informações sobre personagens, espaços e toda a variedade de objetos;
b)partição do objeto de
observação em pontos de focalização;
c)recursos expressivos (adjetivação expressiva, comparação, metáfora,
repetição, sinestesia…);
d)a presença de determinadas
marcas linguísticas:
Øadjetivação;
Øvocabulário associado
aos sentidos, em particular a visão (visualismo; cromatismo)
Øverbos predicativos ser, estar, parecer,
ficar…;
Øverbos no presente e pretérito
imperfeito do
indicativo;
Ømarcadores espaciais (ali, ao longe, em cima,
do lado esquerdo, mais perto, etc.).
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Ainda hoje não
gosto de atravessar os longos corredores das velhas
casas com grandes retratos pendurados nas paredes. Há
olhos que nos seguem do alto e nunca se sabe o que de
repente pode acontecer.
Havia
na casa da tia Hermengarda um quadro deslumbrante.
Ficava ao cimo das escadas, à entrada do corredor que
dava para os quartos de dormir. Mesmo assim, rodeado de
sombras, irradiava uma luz que só podia vir de dentro
da dama do retrato. Não sei se da blusa muito branca,
se dos olhos, às vezes verdes, às vezes cinzentos. Não
sei se do sorriso, às vezes alegre, às vezes triste.
Eu parava muitas vezes em frente do retrato. Era talvez
o único que não me assustava. Creio até que dele se
desprendia uma luz benfazeja, que de certo modo me
protegia.
Mas
havia um mistério. Ninguém me dizia quem era a senhora
do retrato.
Manuel Alegre, "A
Senhora do Retrato" (excerto)
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