segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Aquila non capit muscas



aquila non capit muscas

"aquila non capit muscas", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/aquila%20non%20capit%20muscas [consultado em 26-10-2016].
aquila non capit muscas

"aquila non capit muscas", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/aquila%20non%20capit%20muscas [consultado em 26-10-2016].
 E agora, vós, ó águias reais do céu! É possível que sendo vós as rainhas das aves, que quase nunca desceis à terra, ou inclinais a vossa majestosa figura, sejais as maiores falsas, oportunistas e peritas em enganar do Reino do Ar?

Porque vós parecei-vos com um camaleão: este muda de cor conforme a sua vontade. Também vós planais suavemente como quem vigia e protege lá do alto, mas à primeira oportunidade o que fazeis? Ora acontece que vai passando o inocente e indefeso coelhito e vós, qual malandrim emboscado que espera a sua oportunidade, lançais-vos sobre ele e fazei-lo prisioneiro. E essa é a arte de enganar, tal como fazem os políticos, os grandes homens de negócios da nossa sociedade. Humilham, e não olham a meios para atingir fins. E o pobre que trabalha não tem recompensa. Apenas lhe vão retirando liberdade e dignidade.

E tal como vós raptais os pobres e indefesos animais, que não se podem fazer valer, roubando-lhes a vida, para satisfazer a vossa ganância e a vossa superioridade, assim os poderosos deixam os homens pequenos sem dinheiro, sem trabalho e com lares destruídos.

É tal como fazíeis com Fineu, o cego Rei trácio, a quem roubáveis a comida em todas as refeições. E é este o único exemplo da vossa ganância? Não! Castigáveis Prometeu, acorrentado no cume do monte, dilacerando-lhe, diariamente, o fígado. Também ele não tinha defesa e vós atacáveis, qual carrasco impiedoso.

Por isso, Águias, a vossa hipocrisia e arte de enganar é vergonhosa!
Oh, que tão indigno elemento sois dos ares de nosso Senhor Jesus Cristo! Vede, ave vil e traiçoeira, como enganais os pobres animais inocentes com a vossa falsa suavidade e majestade. Destruir os pequenos, enganando-os e apanhando-os sem defesa possível é uma traição!
Mas já não mudais, Águias, porque isso depende da vossa natureza. E a natureza e a maneira de ser não mudam. Quantas de vós agiríeis de maneira diferente se isso prejudicasse os vosso interesses? Vejo, Águias, que também nos Homens há falsidade, engano, fingimento, dissimulação.
Vivemos num mundo materialista e não é nosso objetivo progredir moralmente.
Antes fosse, Águias, antes fosse!

Afonso Morgado, ex-nº1, 11ºA
2016
 Notas:
1. 
aquila non capit muscas (locução latina que significa "a águia não se entretém a caçar moscas"). Emprega-se para exprimir que um espírito superior não deve ocupar-se de questiúnculas indignas de si.
Fonte: Dicionário Priberan, https://www.priberam.pt
2.
As harpias (em grego, ρπυιαι) são criaturas da mitologia grega, normalmente representadas como aves de rapina. Na história de Jasão, um herói grego, as harpias foram enviadas para punir o cego rei da Trácia, Fineu, roubando-lhe a comida em todas as refeições. Os argonautas libertaram Fineu das harpias.
3.
Prometeu (em grego: Προμηθεύς, "antevisão"), na mitologia grega, é um titã. Foi um defensor da humanidade, conhecido por sua astuta inteligência, responsável por roubar o fogo divino e o dar aos mortais. Zeus (que temia que os mortais ficassem tão poderosos quanto os próprios deuses) puniu-o por este crime, deixando-o amarrado a uma rocha para a eternidade, enquanto uma grande águia comia permanentemente o seu fígado - que crescia novamente.


aquila non capit muscas
(locução latina que significa "a águia não se entretém a caçar moscas")

locução

Emprega-se para exprimir que um espírito superior não deve ocupar-se de questiúnculas indignas de si.

"aquila non capit muscas", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/aquila%20non%20capit%20muscas [consultado em 26-10-2016].

1 comentário:

Noémia Santos disse...

Parabéns ao Afonso. Pela forma como acolheu o desafio e soube aproveitar a lição de Vieira e as histórias da mitologia, ao serviço de um olhar crítico sobre o presente. ...Ainda não nos esquecemos do trabalho do ano anterior.