terça-feira, 24 de maio de 2022

Camões - do Amor como fogo

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

                                               Luís de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver” de Luís Vaz de Camões, poeta português do século XVI que escreveu diversos poemas de influência quer tradicional quer renascentista. Este poema enquadra-se na poesia renascentista, sendo um soneto porque tem quatorze versos, divididos em duas quadras (quatro versos) e dois tercetos (três versos). Trata-se de uma composição de “medida nova”, caracterizando-se por ter dez sílabas métricas: “A/mor / é / fo/go / que ar/de / sem / se / ver”. Tem rima interpolada, emparelhada e cruzada.
Através da utilização de antíteses e metáforas, o poeta revela a impossibilidade de definir o amor, um sentimento não só contraditório como também desejado pelo ser humano. Na primeira quadra, as ideias opostas estão relacionadas como um encadeamento lógico, uma ideia de causalidade: primeiro vem o fogo, que leva à ferida e por sua vez à dor.
No desenvolvimento do poema podemos perceber que tanto no início como no fim é utilizada a palavra “Amor”, reforçando não só o tema do poema como também a intenção do poeta de decifrar este sentimento. Para além disso, com a
utilização da conjunção “Mas” no início do segundo terceto retrata uma ideia de oposição em relação ao que o poeta tinha dito anteriormente, procurando qual a resposta para o Amor ser um sentimento tão contrário como procurado e desejado. Por fim verifica-se também uma interrogação retórica no último terceto, que funciona como conclusão; coloca uma questão aos leitores, não com o objetivo de vir a ser respondida mas sim para ser refletida, tornando-se o Amor impossível de definir.
É através de antíteses e oxímoros, como nos versos 1 a 11: “Amor é fogo que arde sem se ver;” e “É ferida que dói e não se sente;”, de metáforas: “Amor é fogo”, de anáforas: forma verbal do verbo ser “é” do 2° ao 10° verso e de enumerações: Amor é fogo, ferida, contentamento, dor e cuidar que o poeta enriquece o seu complexo poema.
Camões com este soneto permitiu aos seus leitores refletir sobre este sentimento tão contrário, belo e inquietante que nos aquece o coração e a alma, que ainda é impossível de decifrar e definir, o Amor.

E. Conceição n°11 10°A
E. Sales n°13 10°A
M. Ferreira n°21 10°A

 Pintura (pormenor) de Roy Lichtenstein

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O poema “Amor é fogo que arde sem se ver”, escrito por Luís Vaz de Camões, é um soneto, ou seja, é constituído por quatro estrofes, sendo as duas primeiras quadras e as duas últimas tercetos. As quadras apresentam rima emparelhada e interpolada e os tercetos por rima cruzada. Os versos têm dez silabas métricas cada um, recebendo a designação de decassílabo. O soneto está inserido no tema “Experiência amorosa e reflexão sobre o amor”, sendo que está inscreve nos poemas de amor conturbado. Estes poemas dividem o amor entre o anseio espiritual e o desejo e é marcado por sentimentos negativos: Saudade, culpa e insatisfação.
Neste poema, Camões tenta criar uma definição de amor. Para isso, faz diversas comparações, que acabam por dar em contradições, dando a ideia de que o amor é impossível de definir. 
Ao longo do soneto, Camões tenta explicar que o amor é uma dor psicológica que nos magoa, recorrendo a expressões contraditórias, oxímoros: “é a ferida que dói e não se sente”; por meio de enumerações e contradições tenta ainda explicar que o amor também apresenta características como a dependência da pessoa amada, a intensidade dos sentimentos. Refere igualmente que por mais que ande acompanhado e rodeado por várias pessoas, continua a sentir-se solitário, pois a pessoa que ele ama não lhe retribui o amor: “É solitário andar por entre a gente”.

De seguida, é abordada a ideia de que estar apaixonado e amar, apesar de todos os sofrimentos, são ações feitas e sentidas de livre vontade. Essa ideia é dada quando o poeta se compara a um prisioneiro da amada, no entanto ele é que se prendeu a ela de livre vontade. Ainda é dito que se tem lealdade para com a pessoa que mais nos causa sofrimento, o que é contraditório.

No final do poema, concluímos que o amor consiste no conjunto de muitos sentimentos como felicidade, paixão, sofrimento, mágoa, humildade, satisfação, fidelidade, ilusão, entre outros. No entanto, é um sentimento impossível de definir com significado literal e único. O poeta acaba por transmitir ao leitor uma ideia de reflexão sobre a fragilidade do Homem perante um sentimento tão comum e no entanto tão complexo.
 
C. Oliveira, nº7
F. Maria, nº14
G. Fróis, nº16
H. Baptista, nº17
10º A

  Imagem: Amour Fou - autor - Laurent Folco 


Pintura de Marc Chagall
 
O poema "Amor é fogo que arde sem se ver" é um soneto e encontra-se inserido na corrente clássica da lírica Camoniana, utilizando a medida nova, ou seja, com versos decassilábicos.
O poeta neste soneto faz 11 tentativas para explicar o amor e acaba por não o conseguir definir. No soneto é referida a dor, “é a ferida que dói e não se sente” -verso 2- o sujeito faz referência a uma dor que lhe altera a consciência por completo; a agitação, ”é fogo que arde sem se ver” -verso 1- o poeta compara o fogo a uma agitação interior; o isolamento e a solidão, “é a solitário andar por entre a gente” -verso 6- o sujeito sente-se sempre sozinho quando não está com o seu amor.
Este poema é composto por 4 estrofes, nas quais as 2 iniciais são quadras com rima interpolada e emparelhada e as 2 últimas são tercetos com rima cruzada.
Quanto à expressividade da linguagem, o poema apresenta inúmeras anáforas na repetição do verbo “ser” 11 vezes, para realçar a dificuldade de definir o Amor, antítese nas expressões ”É solitário andar por entre a gente” e “É nunca contentar-se de contente”, salientando os contrastes que o Amor provoca, e vários oxímoros em expressões como “Amor é fogo que arde sem se ver” e “É ferida que dói e não se sente”, para realçar o caráter paradoxal da vivência amorosa; na maioria dos versos, a linguagem suporta-se em  metáforas, como quando designa o Amor por «fogo» e «ferida», que expressam a violência do sofrimento amoroso.  

Camões, apesar das 11 tentativas de definir o Amor, acaba com o ponto de interrogação no final do poema. Concluímos assim que que existem inúmeras formas de definir o amor mas todas elas complexas e contraditórias.

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