sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Cantigas de Amigo - "Ai flores, ai flores do verde pino"

  • Para quem teve falhas sérias na análise da cantiga, fica um exemplo, publicado em início de outubro, para relembrar as características.
 
Reflexão sobre a CANTIGA DE AMIGO 
"Ai flores, ai flores do verde pino"
escrita pelo Rei D. Dinis.


«Esta é, seguramente, a mais conhecida cantiga de D. Dinis, e uma das mais célebres da Lírica Galego-Portuguesa. Com inteira justiça, poderemos dizer, já que se trata de uma composição que exemplifica, de forma notável, o modo como a arte trovadoresca é, por vezes, capaz de alcançar uma extraordinária profundidade de campo através da sábia conjugação dos recursos (aparentemente) mais simples e elementares.
(...)
- a cantiga pode dividir-se em dois momentos exatamente simétricos: a fala da donzela e a resposta das "flores do verde pino"

- o diálogo da donzela com estas (inusitadas) "flores" é exemplo único (na Lírica Galego-Portuguesa) de personificação da Natureza (apenas na "Pastorela do Papagaio" (também de D. Dinis, encontramos um caso semelhante, mas aí de uma ave a falar).

- o cenário (idílico mas isolado) onde a donzela se encontra decorre implicitamente deste diálogo (como implícito é o motivo da sua presença ali: decerto à espera do amigo)

- a técnica do paralelismo implica aqui, não uma repetição e amplificação do que é dito nas estrofes iniciais (como acontece frequentemente neste género de cantigas), mas uma verdadeira intensificação narrativa: o tempo passa, o seu amigo não vem, a donzela inquieta-se. Na sua fala inicial, por exemplo, ela passa rapidamente do simples pedido de notícias à hipótese de ele a ter enganado (o mentiroso!).

- na sua resposta, as flores sossegam-na. Note-se, no entanto, que esta resposta, no seu segmento inicial (o seu amigo está vivo e de saúde) não incide nas perguntas explícitas da donzela, mas antes na pergunta que ela não ousa formular: teria o seu amigo morrido?

- finalmente, no segmento final da resposta (ele virá antes de passar a hora combinada), percebemos que essa hora ainda não passou, ou seja, que a donzela chegou muito antes e que toda a sua inquietação não passa disso mesmo: inquietação de uma jovem apaixonada, sozinha num pinhal e insegura (e note-se como o refrão, inalterado, para isso contribui).»


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