- Para quem teve falhas sérias na análise da cantiga, fica um exemplo, publicado em início de outubro, para relembrar as características.
"Ai flores, ai flores do verde pino",
escrita pelo Rei D. Dinis.
«Esta
é, seguramente, a mais conhecida cantiga de D. Dinis, e uma das mais
célebres da Lírica Galego-Portuguesa. Com inteira justiça, poderemos
dizer, já que se trata de uma composição que exemplifica, de forma
notável, o modo como a arte trovadoresca é, por vezes, capaz de alcançar
uma extraordinária profundidade de campo através da sábia conjugação
dos recursos (aparentemente) mais simples e elementares.
(...)
- a cantiga pode dividir-se em dois momentos exatamente simétricos: a fala da donzela e a resposta das "flores do verde pino"
(...)
- a cantiga pode dividir-se em dois momentos exatamente simétricos: a fala da donzela e a resposta das "flores do verde pino"
- o diálogo da donzela com estas (inusitadas) "flores" é exemplo único (na Lírica Galego-Portuguesa) de personificação da Natureza (apenas na "Pastorela do Papagaio" (também de D. Dinis, encontramos um caso semelhante, mas aí de uma ave a falar).
- o cenário (idílico mas isolado) onde a donzela se encontra decorre implicitamente deste diálogo (como implícito é o motivo da sua presença ali: decerto à espera do amigo)
- a técnica do paralelismo implica aqui, não uma repetição e amplificação do que é dito nas estrofes iniciais (como acontece frequentemente neste género de cantigas), mas uma verdadeira intensificação narrativa: o tempo passa, o seu amigo não vem, a donzela inquieta-se. Na sua fala inicial, por exemplo, ela passa rapidamente do simples pedido de notícias à hipótese de ele a ter enganado (o mentiroso!).
- na sua resposta, as flores sossegam-na. Note-se, no entanto, que esta resposta, no seu segmento inicial (o seu amigo está vivo e de saúde) não incide nas perguntas explícitas da donzela, mas antes na pergunta que ela não ousa formular: teria o seu amigo morrido?
- finalmente, no segmento final da resposta (ele virá antes de passar a hora combinada), percebemos que essa hora ainda não passou, ou seja, que a donzela chegou muito antes e que toda a sua inquietação não passa disso mesmo: inquietação de uma jovem apaixonada, sozinha num pinhal e insegura (e note-se como o refrão, inalterado, para isso contribui).»
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