quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Um Amor de Perdição - visão crítica



Apreciação crítica do filme
 O objetivo principal do realizador é tentar modernizar a história de Camilo Castelo Branco. Algumas alterações, para esse fim, tiveram de ser feitas pois alguns aspetos da história do autor não poderiam ser representados num cenário atual. Para isso não basta trocar as roupas por roupas mais modernas.
Os atores executam um papel fraco, transpondo pouca emoção para a audiência. Algumas das ações executadas acabam por ser cómicas tirando muita da seriedade necessária para realmente viver o filme de corpo e alma. Simão e Teresa vêem-se muito pouco e têm muito pouca comunicação, demasiado pouca para que seja sentido um amor verdadeiro. Nesse aspeto o filme peca pois o amor destas duas personagens parece mais um capricho de um amor platónico que propriamente um verdadeiro amor. Para além disso acho algo exagerada a relação de Manuel Botelho, irmão de Simão, com a mãe. E nesse aspeto acho até um pouco irrealista, não só esta relação como o suposto amor sentido entre Simão e Teresa pela falta de contacto já referida anteriormente.
 Na minha opinião, a transposição relativamente a aspetos temporais foi bem efetuada. Os cavalos trocaram-se por carros, o ferreiro licenciou-se em mecânica, já inventaram o telemóvel, a moda evoluiu, assim como a arquitetura. 
A escolha dos cenários e a caracterização dos atores não era um trabalho complicado pois teriam de escolher locais atuais independentemente dos locais retratados por Camilo Castelo Branco. No entanto, este ponto positivo tem de ser atribuído.
Tomás Antunes Nº28, 11ºA
(Obs. Esta apreciação é pouco abrangente e carece de mais fundamentação. Todavia, como tem uma posição crítica bastante diferente das publicadas anteriormente, vale a pena ser lida).  
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Para ajudar a situar a posição crítica, publicamos, do mesmo autor, a análise segundo guião, bastante interessante e fundamentada. 


1.Nas cenas iniciais do filme existe uma acção sexualmente explícita, vemos corpos nus e apercebemo-nos de que isto se passa no ginásio duma escola, debaixo do palco onde decorreriam ensaios para uma peça. Nessa cena podemos perceber o tema da transgressão no filme. Depois disso um grupo de delinquentes entra no ginásio e interrompe o ensaio e, quando o professor responsável tenta impor respeito, Simão, “líder” do grupo, lança uma bola em direcção à face do professor como sinal de desprezo e após essa cena apercebemo-nos também do tema da transgressão bastante presente no filme.

2.A família de Simão apresenta-se como uma família completamente disfuncional, um dos filhos tem relações amorosas com a mãe, Simão é expulso de casa e a mãe tenta que não fiquem de relações cortadas e para isso envia-lhe dinheiro, os pais vivem como divorciados apesar de viverem na mesma casa e estes são apenas alguns exemplos. Apesar de viverem todos na mesma casa, “ao lado uns dos outros”, não vivem unidos, como uma família, muito pelo facto de serem uma família completamente desregulamentada, “não juntos”.

3.Na transposição do livro para o filme tiveram de ser feitas algumas alterações pois as histórias, apesar de semelhantes, são passadas  em tempos diferentes. Exemplos disso são a forma como Simão e Teresa comunicam e o emprego de João da Cruz. Camilo Castelo Branco idealizou Simão e Teresa a comunicar por cartas, sendo que havia uma empregada que, secretamente as ia entregando. Mário Barroso ao atualizar a história omitiu a empregada e fez com que os dois jovens comunicassem por telemóvel, pois faria pouco sentido comunicar por carta na atualidade. O livro apresenta João da Cruz como sendo ferreiro e tendo tanto trabalho que teria de ser ajudado pela filha. O filme, ao modernizar a história, não podia apresentar um ferreiro nos dias de hoje com tanto trabalho que teria de ter ajuda da filha e para um efeito semelhante tornou João da Cruz em mecânico mas também com a ajuda da filha.

4.As alterações comportamentais em Rita, após a leitura do livro, são muito ténues, praticamente nulas, talvez pelo facto de ser apenas uma criança e não compreender totalmente o significado da história. Simão, por outro lado, quando lê o livro passa a ter um comportamento mais exagerado e a ter mais sentimentos amorosos. O efeito em Simão é tão demarcado que Simão acaba mesmo por se suicidar por amor. A leitura do livro de Camilo Castelo Branco teve efeitos bastante semelhantes em Mariana e Simão pois, por terem idades semelhantes têm uma compreensão semelhante do livro. Mariana começa a ter acções algo loucas como, por exemplo, deitar-se na cama ensanguentada de Simão. Assim como a morte veio a Simão por vontade própria também me pareceu que é por vontade própria que Mariana morre apesar de afirmarem ter sido um acidente.

5.No filme, a distância entre Teresa e Simão é retratada através de uma proibição imposta a Teresa de se encontrar com Simão por causa de desentendimentos tidas entre os pais dos jovens. A proibição imposta é tão demarcada que, quando o pai de Teresa se apercebe dos sentimentos entre os dois, a obriga a casar com o primo que originou a tentativa de assassinato por parte de Simão e o final trágico da história.

6.Mariana, na possibilidade de contacto com Simão, tem uma facilidade acrescida relativamente a Teresa. Mariana mostra a intensidade do seu amor por Simão através de vários atos que se poderiam dizer de loucura. Teresa, por outro lado, corre o risco de ser descoberta pelo pai aquando dos contactos telefónicos, o que acabou mesmo por acontecer. Quando é obrigada a casar, deixa de comer, o que pode ser visto tanto como um ato de revolta contra o pai como também como um ato de paixão por Simão, sacrificando o seu bem estar para que o casamento seja cancelado e, se possível, para que o pai aceite o amor de Teresa e Simão. Ambas as jovens morrem por amor.

7.No filme, o pai de Teresa pode ser classificado como agente do destino, proibindo o contacto de Teresa com Simão e obrigando-a a casar o que levará ao fim trágico. Está presente o desafio onde Teresa e Simão falam por telemóvel contrariando a proibição imposta pelo pai de não se verem. Está também presente o sofrimento representado por Teresa quando esta deixa de comer sacrificando o seu bem estar pelo a amor que sente por Simão. Isto originará a peripécia, quando Simão é preso. Existe o reconhecimento quando Simão se apercebe de que não consegue viver assim, longe de Teresa, sua amada. E isto originará a catástrofe, o suicídio de Simão e a morte de Teresa e Mariana por causa da morte do primeiro. 

8.Na minha opinião, a cena-chave do filme é a cena final em que vemos os cadáveres dos três jovens que amaram por amor e por amor morreram, por amor se perderam da vida. No entanto a frase-chave não coincide com a cena-chave, sendo que a frase-chave é uma frase dita em voz-off por Rita: “Nós vivemos ao lado uns dos outros, não juntos”.

9.A música faz-nos sentir emoções, no cinema a é musica é utilizada com o intuito de intensificar as emoções já provenientes da história. Neste filme a música serve para intensificar a tristeza e aumentar o caráter trágico do filme.

10.O título do filme tem o artigogumento indefinido “um” apresentado como uma mudança bastante sublime. Não minha opinião, isto é justificado com um amor também bastante sublime em que nos devemos fixar em vez de no principal da história que é o amor entra Rita e Zé Xavier. Apesar de não haver nada no filme a indicar que são mais que amigos passa ao público uma sensação de amor sem problemas, de amor simples, de amor feliz, um amor ingénuo com que todos sonhamos, alcançando a felicidade.

 

2 comentários:

Noémia Santos disse...

Tomás

Tens uma veia crítica apurada e - nalguns casos - certeira. Porque ficas, então, sempre a meio, sem trabalhar mais, sem esforço de fundamentação, de exemplificação, de distinção?

Por ex.
- "Os atores executam um papel fraco" - Quais? Todos? Mesmo Virgílio Castelo ou Ana Padrão? ou a própria «Ritinha»?

- "transpondo pouca emoção para a audiência." - Quais os casos flagrantes? Que emoções são mais descuradas?

- "Algumas das ações executadas acabam por ser cómicas tirando muita da seriedade necessária para realmente viver o filme de corpo e alma." - Excelente observação (e com razão de ser, num ou noutro caso). Agora - Quais? Por quê? Como interpretas tal escolha do realizador? Que comparações com o livro se impõem?

Sabes - quanto mais críticos somos - e ainda bem que o somos - mais se nos exige, naturalmente.

Noémia Santos disse...

Tomás

Quanto ao guião, está bastante bem; realço, em particular, a leitura que fazes no ponto 10, relevante e assertiva.

NS