quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A. Garrett - O Romantismo

Características da literatura romântica

«A dimensão histórico-cultural, a variedade temática e mesmo algumas contradições ideológicas fazem do Romantismo um período literário de complexa e árdua caracterização.

O tempo do Pré-Romantismo, fase inicial do período, revela autores e temas decisivos para a formação do Romantismo. A identificação com a natureza, lugar de autenticidade e pureza, a vivência do sentimento do amor, sentimento angustiado e fatidicamente resolvido, a valorização emocional e mesmo estética do sentimento religioso provêm do Pré-Romantismo e estendem-se ao Romantismo, em várias latitudes e registos.

Com eles chegam também outros temas e comportamentos fundamentais: a rebeldia do herói romântico, a busca do absoluto (por exemplo: o absoluto amoroso), a ironia crítica e distanciadora, o culto da liberdade, a instabilidade gerada pelo vague des passions e pelo mal du siècle, a autenticidade por vezes aliada ao gosto do popular e do tradicional, noutros casos conjugada com a evasão para cenários exóticos ou para tempos medievais, e o dandismo antiburguês constituem alguns desses temas e comportamentos.

O Liberalismo foi, pois, para muitos românticos, uma referência ideológica incontornável do Romantismo. Declarou-o expressamente Victor Hugo no famoso prefácio de Hernani: «O Romantismo», escrevia em 1830, «não existe levando-se tudo em consideração — e esta é a sua definição real — se não for encarado pelo seu lado militante, que é o do “liberalismo” em literatura».
A liberdade de pensamento e de expressão, a fraternidade social, nalguns casos mesmo a apologia da soberania popular constituem valores que estreitamente se cruzam com a propensão individualista e idealista que caracteriza uma parcela significativa do Romantismo europeu; não por acaso, Lilian R. Furst conexionou o individualismo romântico com os ideais saídos da Revolução Francesa: «A afirmação da esmagadora importância do indivíduo representa, na verdade, o crucial ponto de viragem na história da sociedade e na da literatura. Desta crença nos direitos dos indivíduos decorrem os ideais de liberdade, fraternidade e igualdade que inspiraram a Revolução Francesa.»

A par disso — e algumas vezes como consequência disso —, o Romantismo foi também ideologicamente nacionalista. Não esqueçamos que o tempo romântico corresponde à época de refundação e reafirmação de nacionalidades; e o envolvimento direto de escritores românticos em causas nacionalistas (em prol da independência da Polónia ou da Grécia, por exemplo) revela expressivamente o profundo significado romântico de tais causas, de certa forma na decorrência do culto da autenticidade a que já fizemos referência e em sintonia íntima com o valor da liberdade.
Carlos Reis, «Pré-Romantismo e Romantismo», O Conhecimento da Literatura. Introdução aos Estudos Literários

2.ª ed., Coimbra, Livraria Almedina, 2008, pp. 422-427 (com adaptações).

1. Registe por tópicos as características do Romantismo mencionadas no texto.»

Créditos:
Texto e exercício disponível em  
https://www.santillana.pt/files/DNLCNT/Priv//_11811_c.book/258/index.html#/pag/77

Imagem:  Autor: Leonel Marques Pereira (1828 - 1892); pintura - "Festa na Aldeia".

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