quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Frei Luís de Sousa - Diário de Telmo Pais 1

Diário de Telmo Pais (por Mário R.)
Bem, por onde começar, por onde começar toda esta história? Tudo começou há uma semana numa conversa com minha senhora dona Madalena, minha senhora dona Madalena, que tão bem conheço, a quem tanto respeito  tenho. Minha ama estava a ler, era final de tarde, lembro-me como se fosse hoje, entrei na sala e interrompi-a;  estava a ler um belo livro, era um livro para todos, o do nosso grande poeta. A conversa acabou por voltar para o anjo da casa, para a menina dos meus olhos, Maria, filha de meus amos, de Manuel de Sousa Coutinho e de dona Madalena .  

Dona Madalena era casada com o pai desta luz da minha vida, mas outrora fora casada com D. João de Portugal que conhecia de pequeno, que apoiava de menino como se fosse meu filho, até que ele desaparecera juntamente com D. Sebastião, nosso rei, e com as restantes tropas  na batalha de Alcácer-Quibir. Desde essa época, dona Madalena vivia num assombro, minha senhora, esperou 7 anos por aquele a quem chamava de meu amo, mas passado esse tempo voltou a casar, com o senhor Manuel. Nunca aceitei bem o facto de minha senhora voltar a casar-se, porque D. João  prometeu voltar, numa carta onde dizia que voltaria vivo ou morto e eu acreditava naquelas palavras porque conhecia bem o meu amo. 

Naquela tarde dona Madalena e eu tivemos novamente uma discussão sobre este tema, sobre o facto de ela ter voltado a casar, sobre não ter esperado mais pelo regresso de seu primeiro marido, sobre eu achar que minha Maria poderia ter nascido em melhor estado. 

Dona Madalena ficou a chorar por ouvir estas minhas palavras, não as devias ter proferido. Pedi com todas as minhas forças que me castigasse, mas Dona Madalena disse-me que tal não era preciso e então perguntei-lhe porque não seguira meus conselhos e confesso que fiquei não surpreso, mas inquieto com a resposta. Minha ama dissera que tinham sido forças que ela não controlava que fizeram com que ela se voltasse a casar, forças que não sentia pelo seu primeiro marido. O amor ... talvez pelo primeiro casamento ter sido arranjando, ela não sentisse essas forças. Lá tive que aceitar a resposta: se a família de meu primeiro amo apoiava a decisão de dona Madalena quem era eu, apenas um aio velho. Minha senhora, acabou por me dar uma tarefa e acabámos a conversa por ali.  

Maria entrou na sala e reclamou comigo porque eu tinha prometido o romance não  sobre a batalha de Alcácer, mas sobre a Ilha Encoberta onde o Povo imaginava que estaria El-rei,  e por estar ali na conversa e ela estar a espera,  dizia , minha rica e pobre menina. 
D. Madalena não achou muita graça, Maria dizia que queria ouvir falar da história e dizia que a mãe e o pai parecia que tinham medo que o rei voltasse (na verdade não era isso que acontecia, eles tinham receio era do retorno do meu primeiro amo). Maria era uma menina especial, sem dúvida, mas eu e meus amos notávamos que seria algo mais do que uma menina especial dada a sua capacidade de audição e de sonhar com coisas pouco comuns - algo que na nossa altura era devido as doenças que existiam Eu saí da sala e deixei Maria a falar com a mãe e com o tio Frei Jorge.  

Mais tarde viria a aperceber-me do tema da conversa, quando o senhor Manuel de Sousa chegou vinha com um ar... descobrira que os governadores queriam vir ocupar a nossa casa e nessa noite tudo mudou, D. Madalena ficou sem chão e aquela que era nossa casa em chamas, o senhor Manuel de Sousa nessa noite pegou fogo à sua casa para mostrar que Portugal não se poderia render às mãos dos governadores e dum rei estrangeiro. Mandou-me arrumar tudo e dali a nada saímos daquela casa. Fomos direito ao que a sra. D. Madalena menos queria, a casa do primeiro marido, mas no meio daquela confusão toda foi o melhor plano que se pode arranjar. 

Nesse dia ganhei ainda maior respeito pelo homem que é o senhor Manuel de Sousa Coutinho, foram pesados os prós e contras de vir para esta nova casa e todos deram a sua opinião e assim acabámos aqui neste lugar. Manuel de Sousa fora para uma quinta além de Alfeite enquanto esperava o veredito sobre a posição que tinham tomado,os restantes ficaram na casa de D. Madalena. 

Passara uma semana, e Maria - que estava a olhar para os três quadros da sala - perguntou-me quem eram aqueles três homens e eu respondi que um era o nosso rei D. Sebastião, o outro o maior escritor que Portugal alguma vez vira, Luís Vaz de Camões e o outro era um cavaleiro mas a menina não acreditou e voltou a perguntar-me vezes sem conta até que entrou o senhor Manuel de Sousa que contou a verdade e disse que aquele era D.João. Eu não dissera antes porque dona Madalena pedira que eu não falasse mais com Maria acerca deste tema mas se o seu pai o dissera é porque mal não faria 

Dona Madalena enquanto tudo isto acontecia estava como num estado de depressão, mas com o tempo foi melhorando e deixando de pensar tanto no assunto até que certo dia, enquanto falava com frei Jorge, apareceu um Romeiro que vinha de terras de além que exigia falar com D. Madalena; no inicio não percebi de quem se tratava mas mais tarde numa conversa com este Romeiro entendi que o meu maior desejo se tornara  o meu maior medo: aquele Romeiro era nada mais nada menos que D. João de Portugal e naquele momento em que devia estar cheio de felicidade por ver aquele “ meu filho” só pensava na minha menina, na menina dos meus olhos, no que aconteceria àquela menina e ver a desilusão nos olhos do meu senhor D. João ao perceber que o meu amor por Maria era muito maior do que por ele entristeceu-me bastante, dilacerou-me o coração. 

Viemos assim a descobrir quem era aquele homem, aquele homem que trouxera a desgraça à família. Dona Madalena e o senhor Manuel de Sousa não aguentaram com a culpa e quiseram ir entregar-se à religião para corrigir o que achavam ser os seus pecados. Quando estes estavam de joelhos na Igreja, prontos a tomar os votos, Maria apareceu de rompante e a dizer que tal não poderia acontecer que precisava deles e da sua proteção, pois alguma voz a vira buscar do mundo dos vivos e assim que ouviu a voz do Romeiro a luz dos meus olhos apagou-se.  
Telmo Pais
 Autor: Mário R., 11º B

Escolha da personagem - justificação  
Eu escolhi a personagem de Telmo Pais por a achar curiosa e misteriosa, por ser um homem que estava lá nos grandes acontecimentos; também por ser, talvez, uma personagem mais intrigante porque [...] ficamos de facto estupefactos com o ser que era este aio velho e com a sua teimosia perante a vida. Vejo ainda a personagem como uma pessoa corajosa e direta, algo que interpreto como virtude e que falta hoje em dia à população, o dizer as coisas sem papas na língua, o não ter receio de falar mesmo que seja a alguém seu superior.  
Ganhei por isso alguma admiração por esta personagem e daí a minha escolha


Sem comentários: