sexta-feira, 13 de abril de 2012

A descrição da viagem


}A descrição impressionista, cheia de pormenores de cor, movimento, som são consideradas das melhores páginas escritas pelo autor:

Interior de comboio - salão

}“Jacinto, pela vidraça escancarada, todo fustigado da chuva clamorosa, furava a negrura, na esperança de avistar as luzes de Medina e um comboio paciente fumegando... Depois recaía no divã, limpava os bigodes e os olhos, maldizia a Espanha. O trem arquejava, rompendo o vasto vento da planura desolada. E a cada apito era um alvoroço. Medina?... Não! Algum sumido apeadeiro, onde o trem se atardava, esfalfado, resfolgando, enquanto dormentes figuras encarapuçadas, embrulhadas em mantas, rondavam sob o telheiro do barracão, que as lanternas baças tornavam mais soturno.”

}“Jacinto esmagava o espesso tapete do salão com passadas rancorosas, rosnando como uma fera. E ainda assim se escoou, às gotas, uma hora cheia de eternidade.- Um silvo, outro silvo!... Luzes mais fortes, longe, palpitaram na neblina. As rodas trilharam, com rijos solavancos, os encontros de carris. Enfim, Medina!...”

Interior de comboio - carruagem restaurante
Tal desconforto e falta de «civilização» deixavam Jacinto em alvoroço:
“Tens fome Jacinto?
-Não. Tenho horror, furor, rancor!... E tenho sono.”

Sem comentários: