segunda-feira, 28 de março de 2016

Livros e leitores

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Apreciações críticas - exemplos



Maria Pio partilha a sua leitura de Stephen King
Stephen King – “O Homem Que Amava as Flores”
Contrato de Leitura
Identificação Bibliográfica
Stephen King, Turno da Noite, Lisboa, Bertrand Editora, 2009, pp. 403-408.
Género
Conto de Terror
Primeira Publicação
Agosto 1977
1. O Autor
Stephen King nasceu em Portland, nos Estados Unidos, e é reconhecido como um dos mais notáveis escritores de contos de horror fantástico e ficção da sua geração. Os seus livros venderam mais de 350 milhões de cópias e foram publicados em mais de 40 países; muitas das suas obras foram adaptadas para o cinema. É autor de Famosas obras como Carrie(1974), Salem’s Lot (1975), The Shining (1977), Pet Sematary (1983) e It(1986).
2. A Escolha
Desde muito pequena histórias de terror são algo que realmente me fascina. Primeiro, tenho de confessar que a minha vida anda à volta de uma deprimente monotonia e eu, como qualquer outra pessoa, gosto de acrescentar algo mais à monotonia do costume, para mim são as histórias de terror, para outros há outras coisas que as emocionem. Acho também que uma das coisas mais interessantes deste tipo de obras é a elevada carga emocional que acarreta, ou seja, as obras de terror não são como um simples filme ou um livro, estas peças conseguem trazer à superfície uma das emoções mais fortes do ser humano, o medo. Tal como o amor e o ciúme, o medo é uma emoção das mais naturais; para além disso é um medo fingido, não é um medo real, como o de ter um parente em risco de vida, ou de estar a ser assaltado, é um medo que quando o livro acaba, acaba com ele, e daí que seja um medo saudável, porque as pessoas gostam de emoções fortes e este medo é real mas ao mesmo tempo inofensivo.
3. Síntese
A história começa em Nova York, durante uma noite no início de Maio de 1963. A personagem principal é um homem não identificado, é uma noite linda, e o céu está a mudar de cor de azul claro para violeta. Ele está bem vestido. Parece que ele está apaixonado. As pessoas ao seu redor todos parecem perceber e responder com risos e comentários a este sentimento. Ele planeia encontrar-se com uma rapariga chamada Norma e por isso vai a uma banca e compra o ramo de rosas mais caro que lá havia. Com a chegada da noite, ele dirige-se a um beco escuro para o encontro com a rapariga e quando ela aparece ele fica radiante, “Como se a visse pela primeira vez”; oferece-lhe as flores e a rapariga delicadamente recusa-as, dizendo que o seu nome não era Norma e ela não era a namorada dele. Ele insiste e é neste episódio que se vê a verdadeira face do jovem, que ele não era apenas um apaixonado, mas sim um assassino em série já com várias raparigas assassinadas. Depois de matar a rapariga, afasta-se calmamente do local e passa por um casal de velhos que faz o breve comentário de que “se há algo mais belo que a Primavera é o amor jovem”, desconhecendo totalmente o que o jovem tinha acabado de fazer.
Aspetos tratados na obra
Um dos aspetos mais importantes a salientar desta obra é o contraste entre a felicidade jovial da primeira parte da história e a segunda parte completamente sombria e obscura. Um contraste entre a felicidade de um dia de primavera onde os pássaros cantam, o tempo está perfeito, miúdos a jogarem à bola e uma noite; quando anoitece e se dá o episódio em que ele mata a rapariga, passamos a ver uma noite onde tudo é escuro, há o som de gatos a gemer, caixotes do lixo espalhados no chão, sombras, sangue e o grito de uma mulher em desespero. Até ao último parágrafo tudo é bonito e perfeito e não é dada quase pista nenhuma do final que se adianta.
Acho também interessante o desconhecimento total da personalidade do jovem por parte das pessoas da cidade; mesmo assim, todos o contemplam como sendo um rapaz apaixonado, um jovem puro e inocente que nada tem a mostrar senão o amor que sente por uma determinada rapariga. Todos o olham com apreço: o vendedor de flores tenta arranjar o mais bonito ramo para ele dar à amiga, os jogadores de cartas oferecem-lhe um anel de noivado, as mulheres e novas raparigas comentam-no com risadas e cotoveladas. Inclusive depois de ter brutalmente assassinado uma rapariga que interpretava como sendo a sua falecida apaixonada, as pessoas continuam a olhá-lo como um jovem sem maldade, cheio de amor no coração. Isto choca-me, a forma como todos os dias podemos passar por alguém que achamos totalmente banal e depois essa pessoa revelar-se um psicopata, como na história, e nós nunca chegarmos a saber.
Um outro aspeto que gostava de salientar é a ténue linha entre o amor e a loucura; este rapaz é visto como apaixonado porque o está, ele faz o que faz da vida porque o amor pela falecida Norma é enorme e apesar de já ter sido há 10 anos, ainda se sustenta: ao assassinar as raparigas exprimia o seu amor por uma que já não existia, daí o titulo “o Homem que amava as flores”; ele amava as flores, as flores são um símbolo do amor real que ele sentia, embora (...) exprimido de forma tresloucada. Aqui é possível verificar como é que funciona a cabeça deste indivíduo, tudo o que ele faz, na sua cabeça, tem perfeito sentido - ele mata as raparigas de forma a encontrar a rapariga que amava, ele exprime o amor pelo que já perdeu, e para ele, a lógica é impecável. Uma pesquisa feita por agentes criminais norte americanos mostra que tudo o que um assassino em série faz, apesar de irracional, na sua cabeça, tem perfeito sentido, porque a sua mente é perturbada. Itzcoatl Ocampo, matava sem abrigos, mas fazia-o na 'inocente' intenção de limpar a cidade. Ted Bundy, um dos mais notórios serial killers americanos matava para avisar o mundo dos perigos da pornografia hard core; dizia que fora ela a culpada e que apenas matava por culpa dela. John Wayne Gacy afirmava que as pessoas lhe pediam para as matar, Carl Panzram dizia que matava as mulheres porque estar na prisão criara um monstro dentro dele... Todos eles tinham desculpas e nas suas cabeças era lógico terem de matar. A polícia e os tribunais, com a ajuda  de especialistas, têm de perceber como funcionam estas mentes, para se poder fazer justiça.
Receção afetiva à obra
Sendo a amante do terror que sou, adorei esta obra do princípio ao fim; conhecendo Stephen King, sei que ele consegue começar sempre com uma história aparentemente normal e dar-lhe uma reviravolta inesperada, o que foi fantasticamente conseguido neste texto. A história é tão curta que não dá espaço para descrições ou episódios sem interesse, pelo que a história do princípio ao fim nos deixa fixados e por isso não acho que tenha existido uma parte de que não tenha gostado.
Foi uma leitura fácil e recomendo a pessoas que gostem deste tipo de terror, não do terror só com sangue e vísceras, mas o terror que nos deixa com um nó no estômago e não nos deixa dormir durante muito tempo. Um livro merecedor de 5* em 5.
Maria Pio (ex-aluna da área de Ciências da ESHN; está atualmente na Faculdade)



Apreciações críticas breves, publicadas na imprensa ou pelas próprias editoras 


1
Escola Secundária Henriques Nogueira Português, 10º ano – A e B
2015-2016
Apreciação Crítica de Livros (exemplos)
Com os DRAGÕES DO ÉDEN, Prémio Pulitzer, para muitos a mais bela obra do autor, os leitores de "Ciência Aberta" irão participar numa grande aventura... Num Éden perdido onde os dragões reinavam encontram-se as fundações da nossa inteligência e das nossas paixões...Carl Sagan conduz-nos, numa visita guiada, até esse mundo perdido... Harmonizando informação científica e os grandes mitos do passado, utilizando a sua incomparável capacidade de relacionamento e de diálogo com as diversas áreas do conhecimento científico, com a filosofia e com a história, Sagan faz o ponto de grandes espaços do saber humano, propondo hipóteses por vezes arrojadas, mas sempre motivadoras - Carl Sagan é o professor que todos gostaríamos de ter, ou ter tido, e os DRAGÕES DO ÉDEN são uma obra-prima de instrutivo prazer. (…) Nunca li nada tão apaixonante sobre os temas."
Isaac Asimov (físico; autor de livros de temática científica)

Não me Guardes no Coração, de José Leon Machado
«A mais recente publicação de José Leon Machado, o romance Não me Guardes no Coração, apresenta-se como uma obra passível de diferentes leituras, algumas delas quase contraditórias entre si. A par da aparente linearidade (e até simplicidade) da intriga – que gira em torno das aventuras de férias de um jovem universitário português em França durante quase um mês – somos confrontados, de forma mais ou menos implícita, com um conjunto de questões que nos obrigam a refletir sobre valores atuais e sobre diversos aspetos da contemporaneidade. [...] O romance, ao narrar o encontro de jovens oriundos de diferentes países, alguns da União Europeia, como é o caso de Portugal, da França e da Bélgica, mas também da Noruega, de Israel, da Turquia e da Argélia, permite dar conta de alguns estereótipos culturais, uma vez que, apesar de muito jovens, as personagens revelam inúmeros preconceitos em relação aos outros e face às diferenças existentes entre si. [...]
Sob a aparência de uma narrativa idílica e juvenil de uma aventura amorosa e com recurso a uma linguagem muitas vezes irónica e afetivamente distanciada, o romance traça uma imagem disfórica e desesperançada do comportamento juvenil, demasiado codificado, orientado por clichés e subjugado ao culto das aparências e ao imediatismo das sensações, das emoções e dos afetos.
O processo de crescimento e aprendizagem do protagonista não parece resultar das experiências realizadas nem da novidade do encontro com os outros e com a diferença, uma vez que o seu julgamento dos que o rodeiam é sempre feito em função do mesmo ponto de vista que não é alterado com a sua estadia e vivência em França.
Entre o diário e a crónica de viagens, o romance juvenil e o de aprendizagem, Não me Guardes no Coração é uma obra que estimula a reflexão sobre a identidade nacional e a tolerância e abertura face ao outro.»
Ana Margarida Ramos, Universidade de Aveiro
NOTA: Consultar os blogues sobre livros/leituras, indicados no “asas-da-fantasia” e no “deve-e-haver”.

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