Lembranças
Estivera
um maravilhoso final de tarde e eu aproveitara para pôr a leitura em dia e
Telmo aparecera. Perguntara-me o que estava a fazer e, no desenrolar da
conversa, começámos a relembrar alguns momentos do passado, nomeadamente o meu
primeiro casamento com D. João de Portugal, acabando a conversa falando também
sobra a minha querida filha Maria. Questionara-me a mim mesma várias vezes onde
aquela menina iria buscar tanto conhecimento sobre, por exemplo, a história de
D. Sebastião, e esses assuntos típicos de adultos com que uma criança de 13
anos não se devera preocupar.
Frei
Jorge chegara lá a casa trazendo notícias de Lisboa, avisando-me que deveria
deixar minha casa, pois Luís de Moura e outros governadores queriam
instalar-se ali. Manuel falara comigo a sós informando-me de que,
devido a tal situação, iríamos partir para a minha antiga casa...a casa de meu primeiro marido, onde vivera
com D. João. A princípio a ideia não me agradara nada mas não tive alternativa
e, nessa mesma noite, Manuel incendiara a nossa casa e partíramos, juntamente
com Maria, para o nosso “novo” palácio.
Custara-me
um pouco a habituar-me àquele sítio pois nele estavam presentes imensas
memórias do passado, das quais não me agradara nem quisera recordar, mas após
um grande esforço, aquela começara a tornar-se na minha casa de novo.
Manuel
tivera de ir a Lisboa naquela sexta-feira e Maria quisera ir com ele, pois já
há algum tempo lhe prometera levá-la ao convento conhecer a tia D. Joana, e
após tantas lástimas lá a deixara ir, apesar de isso implicar ter de passar
mais uma noite sozinha, e desta vez, sem a minha filha.
Nesse
mesmo dia, Miranda informara-me de que um velho peregrino viera do Santo Sepulcro
para me entregar um recado. Pois bem, eu fora falar com ele e o recado que
trouxera dizia o seguinte “ Ide a D. Madalena de Vilhena, e dizei-lhe que um
homem que muito bem lhe quis…aqui está vivo…por seu mal…e daqui não pode sair
nem mandar-lhe novas suas, da há vinte anos que o trouxeram cativo”. Após mais
um pouco de diálogo descobrira que aquele de quem o Romeiro falava era o meu
primeiro marido, D. João de Portugal. Não queria acreditar, estava para morrer,
só pensara na minha querida filha que desonrara e em meu marido, Manuel, qual
seria a sua reação ao descobrir tal acontecimento.
Fora a
correr para os braços de meu querido Manuel que, após descobrir tal notícia
do Romeiro, começara a afastar-me dizendo que o nosso amor não poderia
prevalecer nem continuar. Estava prestes a começar o meu pior pesadelo.
Já na
igreja de S. Paulo, Maria aparecera, interrompendo a cerimónia, com suas roupas
desalinhadas e caídas, a face rosada, os olhos desvairados, num completo estado
de alienação, dirigindo-se a mim e a Manuel num completo terror e desespero,
falando acerca de D. João, receando que este mesmo lhe tirasse a mãe e o pai
que a criaram, e após avistar o homem de outro mundo que tanto receara, caíra
morta no chão. Oh minha pobre filha!
E foi a
partir desse dia que eu e meu marido D. Manuel nos dedicáramos à vida religiosa
que hoje seguimos.
Autora
Mariana Canhoto. 11ºA
Imagens:
na primeira imagem, Eunice Munoz como Maria e Amélia Rei Colaço como D. Madalena;
na segunda imagem, freiras dominicanas.
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