quarta-feira, 27 de maio de 2020

Cesário Verde - leitura, reflexão, interpretação de "O Sentimento dum Ocidental"

 
Hoje iremos partilhar, refletir, registar, clarificar:
  • Dúvidas de vocabulário
  • Dúvidas de interpretação relativas à leitura 
  • Dúvidas e/ou comentários sobre o Questionário
  • Apreciação global da «novidade» temática e linguística
E ainda:
A Deambulação enquanto motivo poético
Objetividade e subjetividade em CV/no poema
Marcas narrativas - exemplos do poema
Figuras de estilo relevantes no poema - exemplos
...

Próximas tarefas 11º A:

semana de 1 a 5 de junho
Ficha formativa – educação literária 
 
Leitura + Gramática
Manual, pp. 160. – Grupo I 
 
pp. 348-349
Questionário oral; discussão/partilha de reflexões e esclarecimento de dúvidas
 
Correção da ficha
  TEAMS (4ª, 3/06)
 
 
 
 
Cenários de resposta (blogue - a 5/06)

65 comentários:

Noémia Santos disse...

Bom dia a todos!
Claro, que em particular ao grande Cintrão - se já andar por aqui!

Sugiro que comecemos por clarificar as dúvidas de vocabulário - sem palavras não há poesia... e é preciso entendê-las.

Bruna Roque, 11ºA disse...

Bom dia, professora.

Em «O Sentimento dum Ocidental», é evidente a existência de um desejo de fuga, de evasão, por parte do autor. Esta ideia vem associada a expressões que nos situam num tempo um tanto ou quanto tardio - “ao anoitecer”, “as sobras”, “ao cair das badaladas”, “fim da tarde”, “hora de jantar” -, bem como à ideia de uma Lisboa poluída, oprimida, pelo que questiono se todas estas expressões terão uma ligação mais direta, conduzindo a uma interpretação do poema mais profunda, por assim dizer. Pelo que investiguei, há como que um crescendo no poema, passando do entardecer para o acender das luzes, que se segue da “fixação da noite” e, finalmente, a “noite segura”, porém, não entendi com clareza o seu significado, uma vez que a mudança não é gradual, parecendo que não nos encontramos.

Claro que é, também, relevante a crítica que apresenta à sociedade (como a falta de condições para os trabalhadores ou o facto de as classes sociais mais baixas não progredirem por falta de oportunidade). Quanto a esta parte, não apresento dúvidas concretas uma vez que já estudámos ser constante em Cesário Verde a crítica.

Gostaria, também, de questionar a razão pela qual a parte I de « O Sentimento dum Ocidental» é conhecida por “Ave-Marias”.

B. Roque, 11ºA

Noémia Santos disse...

O que é soturnidade? E melancolia?

Noémia Santos disse...


Obrigada, Bruna. Vamos por partes.

Anónimo disse...

Bom dia professora, inicio por deixar uma breve síntese da primeira parte do poema.

Na primeira parte do poema Cesário verde do início à descrição do lugar e ao sentimento que o perturba, enquanto observa e conceitua o espaço. “Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade…”.
Neste espaço onde se situa Cesário, ao anoitecer, traz ao poeta uma vontade louca de sofrer, devido á melancolia, ás sombras e ao murmúrio do Tejo.
A monotonia do anoitecer e a poluição das fábricas perturbam o poeta “O céu parece baixo e de neblina, O gás extravasado enjoa-me, perturba…”. A cidade deixa-o completamente perturbado. Ele descreve a cidade e o que sente ao descrevê-la e, assim, vai desvendando uma Lisboa decadente, mas amada.

Tenho ainda uma duvida em relação à questão 4 do questionário da pagina 333. Poderia me esclarecer melhor esta questão por favor?

Miguel Teodoro 11A

Anónimo disse...

Bom dia professora
Relativamente à pergunta 7 do questionário da página 333, devemos referir que o sujeito poético evoca os portugueses dos Descobrimentos (herói coletivo) com o objetivo de contrastar os momentos de glória do passado com os momentos tristes e degradantes que se vivem em Lisboa?
Obrigada.

Ema Conceição

Eva disse...

Bom dia professora
Em primeiro lugar gostava e esclarecer se a minha ideia em relação ao poema é a correta, ou seja, com este poema o sujeito poético tem como objetivo fazer uma “crítica” a certos aspetos da altura que estava a viver e mostrar quais os grupos sociais que este preferia ?
E em segundo lugar, tive alguma dificuldade em perceber a pergunta 8 da pagina 333, onde é referido o facto de Cesario Verde “tornar poético o que não o é”, estará a pergunta a referir-se a tudo o que se considera um aspeto negativo daquele tempo e que o poeta “transforma” de maneira a tirar proveito dessa negatividade para os seus poemas ?
Eva, 11ºA

Unknown disse...

Bom dia professora, no poema "O Sentimento dum Ocidental" achei interessante na 6ª.quadra (versos 21 a 24) a evocação que Césario faz às crónicas navais, de modo a exprimir talvez um recuo ao tempo dos Descobrimentos e a necessidade de novos heróis em Lisboa (Portugal) que se encontra tão desencantada e triste - a minha pequena interpretação. Gostaria de perceber qual a sua interpretação em relação a esta quadra e principalmente em relação a Camões neste poema. Mariana Ferreira 11°A

Noémia Santos disse...


Realmente este poema é como um filme, desde o final da tarde, em que começam a aparecer as primeiras «sombras» (sobras é interessante, são as sobras do dia, de facto)até ao meio da noite.

As Avé-Marias eram o toque dos sinos que assinalavam as orações do final do dia, parecido com o que hoje ainda há para a reza do terço, em algumas igrejas.


As cidades - e as outras terras também - não são iguais, não têm o mesmo movimento, as mesmas pessoas conforme a hora muda ao longo de um dia.


E nós mudamos com o ambiente - não é o mesmo um barulho de passos atrás de nós ao meio-dia ou à meia-noite.

Esse movimento, essa alteração da vida e da nossa reação a ela é trazida por Cesário, com um progressivo sentimento de opressão, de enclaustramento.

Anónimo disse...

Soturnidade é a evidência de algo sombrio, escuro.
Melancolia é é uma tristeza que se sente de forma muito profunda e intensa.

Ema Conceição

Noémia Santos disse...


Miguel, sim é essa sensação de aperto, de sufoco, de enjoo que perturba o poeta - e simultaneamente o move.

O que é interessante em CV é esse jogo entre OBJETIVO e SUBJETIVO - o que o poeta observa e como reage ao observado.

Já respondo à 4.

Anónimo disse...

Bom dia professora,
Pelo que eu percebi trata-se de uma história que, à primeira vista, quase não é história, é a história do poeta que não cabe em casa, nem cabe em si, e sai de casa e de si, deparando-se, fora, com um cenário humano.
Está ideia está certa ?
Inês Pereira 11 A

Anónimo disse...

Esta*

Noémia Santos disse...


Viram a definição da Ema.

Compreender estas palavras é chave de leitura do resto.
Vamos às dúvidas da 4. 7. e 8.

Anónimo disse...

Bom dia professora,
Em relação à sua pergunta sobre melancolia e soturnidade... Cesário usa ambas as palavras para descrever a tristeza que as ruas de Lisboa aparentam. A tristeza profunda das "sombras, o bulício, o Tejo, a maresia". Ou seja, Cesário, começa por descrever Lisboa, ao anoitecer, sendo ela melancólica e soturna.

Diogo Sequeira, 11A

Noémia Santos disse...


Na 4., o que é mais interessante é própria figura - os calafates - como assunto para poema; cá temos as profissões mais humildes; por outro, a forma como a figura é descrita - o realismo do movimento - com o jaquetão ao ombro; e a dupla adjetivação - realista, crua.
Agora, é só completar.

João Matias, 11ºA disse...

Neste poema o sujeito poético distancia-se do espaço que observa, encontra-se dentro dele mas não o peerturba, o espaço que o rodeia (neste caso a Grande Lisboa) engloba-o e absorve-o nas suas entranhas enquanto que o sujeito poético se limita a observar, estou certo? Cesário é assim para a maioria de seus poemas? Já vimos que, tal como a professora disse, Cesário nos seus poemas é como uma câmara de filmar em que a lente são os seus olhos em que transparece a sua personalidade, ou seja, ele é realista e objetivo, mas aplica ao que vê um grau de subjetividade só sua. É assim para a maioria dos seus poemas ou destaca-se mais neste?

Anónimo disse...

Bom dia, professora!
Pelo que entendi a soturnidade é a qualidade de algo que é sombrio, triste, silencioso...
Já a melancolia é a tristeza profunda e duradoura, o desgosto...

Catarina Martins, 11°A

Anónimo disse...

Bom professora, melancolia é um sentimento de tristeza profunda e duradoura.
Gostaria de apresentar também uma dúvida em relação às questões do livro, tal como o Miguel, na pergunta 4.
Francisco Gabriel

Noémia Santos disse...


Agora a 7.

A evocação do passado é sempre um ponto de fuga - podemos fugir no espaço, no tempo, nas memórias.

Aqui, Cesário parte da observação do porto, do rio e relembra quem? Que tempo? - isso, o dos descobrimentos, o de Camões, o tempo das «soberbas» naus das Descobertas. Não se esqueçam quando o poema é publicado e o que se festejava - o tricentenário da morte de Camões. Este poema é assim um tratamento anti-épico do tema.

Anónimo disse...

Bom dia professora, relativamente ao significado de "soturnidade" e "melancolia", estas demonstram uma tristeza profunda.
Bruna Cuco, 11ºA.

Anónimo disse...

Bom dia professora,
No verso 25, “E o fim da tarde inspira-me ; e incomoda!”, as palavras “inspira-me” e “incomoda” parecem contradizer-se, pois a primeira palavra tem sentido positivo e a segunda um sentido negativo.

Tive dificuldades em perceber o que Cesário tentou expressar com este verso.

Carlos Dantas 11A

Anónimo disse...

Bom dia professora, neste poema é destacado o cenário humano preocupante e desolador, a principal causa do mal estar que aflige o poeta.
É notório que o ambiente que se desenvolve no poema, acerca da "triste cidade", é simbolicamente depreciativo (a realidade é triste, Lisboa é triste, o país é triste, os portugueses são tristes...).
Dizem que a grande motivação para a escrita deste poema foi a homenagem a Camões na passagem do terceiro aniversário do seu falecimento.
No entanto, a realidade indica mais para que , na verdade, a grande motivação para a escrita deste poema seja a necessidade de denúncia sentida pelo autor, perante a realidade da Lisboa do seu tempo, povoada de uma maioria de pessoas desgraçadas, a contrastar com uma minoria feliz. O que a professora acha sobre isto? Carolina Oliveira

Noémia Santos disse...

Agora a 8.

Tornar poético o que o não é...

Viram o PPT? Lembram o vídeo?
Essa é a grande genialidade de Cesário - trazer este mundo real, duro, feio, sujo, que enjoa, perturba, mas também tem vida, movimento, energia, para dentro da poesia. Mas fazê-lo não como jornalista ou historiador, antes como poeta. Por isso dá sonoridade, «beleza» poética a palavras, gestos, figuras das mais simples e normalmente mais afastadas da poesia.

Escolhe os versos que achares que melhor dão esse lado.

Anónimo disse...

Bom dia, professora.
Quando estive a fazer o questionário tive dificuldades ao fazer a 3 e a 7. A 7 já entendi porque a professora acabou de explicar e ajudou bastante na compreensão.
No entanto, Continou com dúvidas na 3. Não entendi qual o processo e transfiguração que sofrem as varinas.


Beatriz Silva, 11°A

Anónimo disse...

Bom dia professora,

Na questão 7, Cesário evoca o passado nos versos 21-24 falando dos heróis, dos navios, das lutas contra os mouros, e da história do naufrágio de Camões e depois diz: "Singram soberbas naus que eu não verei jamais!", isto, penso eu, num sentimento de tristeza e melancolia por não ter observado a sua Lisboa amada durante este período de glória. De seguida, faz um contraste entre a grandiosidade do passado e a decadência que se instara em Lisboa no seu tempo dando o remate nos últimos 4 versos da primeira parte do poema.

Miguel Gomes Matias, 11ºA

Alexandre Umbelino, 12º A disse...

Bom dia professora.

Nas linhas 6-7 o autor refere que os edifícios "Toldam-se duma cor monótona e londrina". Isto pode ser tomado como uma crítica à Revolução Industrial que se estava a dar tanto em Lisboa como noutras grandes cidades europeias? Obrigado.

Anónimo disse...

Bom dia professora, ao analisar o poema reparei que este é cheio de antíteses. Não percebi foi que ligação tem este recurso expressivo com o que pensa o poeta.
Teresa Lourenço

Noémia Santos disse...



Mariana

Sim há desencanto e perturbação e falta de horizonte aberto. Lisboa precisava ser outra, sim. Cesário mostra-nos isso constantemente (olha a 3ª quadra...). E isso contrasta com a 'grandeza' dum momento enérgico, vital da nossa história.
Cesário relembra Camões a salvar o livro - Os Lusíadas.

Mas, esta Lisboa cheia de injustiça, sujidade, podridão, também tem gente que luta, é enérgica - as varinas são comparadas a Hércules...

Vê o final do poema.

Noémia Santos disse...

Eva

«uma “crítica” a certos aspetos da altura que estava a viver e mostrar quais os grupos sociais que este preferia ? »

Claro que este poema - como outros - tem uma dimensão de observação crítica sobre o real. O agrado que referes com certos grupos, não é bem preferência - é a admiração pela energia, a força, o esforço e a desgraça daquela gente; vê como descreve as varinas, por exemplo.

A dimensão estética nunca é esquecida - aquelas mulheres são «belas» à sua maneira. Têm força e alegria - «galhofeiras». Cesário é um observador atento, não apenas um crítico distanciado.

Anónimo disse...

Bom dia professora,
Após a leitura do poema percebi realmente o que na teoria se diz, que Cesário Verde consegue pôr em palavras com uma certa magia, aquilo é degradante, considerado não poético (embora ache que este poeta mudou essa noção completamente), e que qualquer outra pessoa não daria a atenção que CV dá.
Mas tenho uma dúvida, na questão 1, quando afirmam que o sujeito poético realmente tem noção que existem desigualdades sociais, e que este “transparece a sua predileção” refere-se ao maior foco que o poeta dá nos seus poemas às classes mais baixas e trabalhadora, como as obreiras, as varinas, que mais sofrem com a baixa qualidade de vida? Estou certa?
Maria Oliveira 11A

Noémia Santos disse...


Sim, Inês, é certa.

Tenta encontrar os versos que melhor dão essas ideias todas, tão interessantes.

Anónimo disse...

Bom dia professora, na primeira quadra do poema ''O Sentimento de um Ocidental'' nota-se que a cidade se reveste de uma atmosfera suspensa. O anoitecer
desperta no eu lírico, que sente esta suspensão da atmosfera, “um desejo absurdo de sofrer”. A minha questão é o porque esse desejo, uma quase necessidade, de sofrer, se o próprio eu
lírico o considera absurdo? Obrigada

Rita Gonçalves

João Matias, 11ºA disse...

"Essa é a grande genialidade de Cesário - trazer este mundo real, duro, feio, sujo, que enjoa, perturba, mas também tem vida, movimento, energia, para dentro da poesia. Mas fazê-lo não como jornalista ou historiador, antes como poeta. Por isso dá sonoridade, «beleza» poética a palavras, gestos, figuras das mais simples e normalmente mais afastadas da poesia."

Nos últimos dois versos do da primeira parte do poema, o poeta fala-nos sobre as "varinas", de uma forma que não é muito própria da poesia romântica da época, nem de tudo o resto. Em vez de dar uma imagem que considera-mos apelativa desse grupo de pessoas, dá-nos uma imagem denegrida e realista que retrata o modo de vida dessas gentes, este primeiro verso contrasta com o último da estrofe, "Vêm sacudindo as ancas opulentas!", "Os filhos que depois naufragam nas tormentas." e também com o seguinte, "Descalças! Nas descargas de carvão", continuando nos seguintes por justificar esta "imundice" de vida e tristeza por que passavam, porém não julga estas pessoas, apenas constata factos. O verso "Os filhos que depois naufragam nas tormentas", resume bem o seu estilo de vida, que era considerado impuro, mas também demontra as dificuldades por que passam, note-se os dois últimos versos: "E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!". Não bastava já terem filhos bastardos das relações que tinham para fazer dinheiro como também ão ficavam perto de ricas com isso, vivendo na imundice, "nos focos de ifeção" de Lisboa cheio de "peixe podre".

Anónimo disse...

No poema podem ser identificadas diversas figuras de estilo, tais como:
-Enumeração: "as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia";
-Comparação: "Semelham-se a gaiolas(...)Como morcegos, ao cair das badaladas";
-Dupla adjetivação: "De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos".

Vocabulário relacionado com profissões: "carpinteiros", "calafates", varinas"...

Expressões muito diretas e que expressão a realidade que se vivia: "E o peixe podre gera focos de infeção".´

Marcas narrativas:

-Advérbios de tempo:"fim da tarde" e "ao anoitecer".

Descrição realista: "um trôpego arquelim", "as ancas opulentas" das varinas, "Descalças!"

Descrição sensorial: "Reluz, viscoso, o rio", "Correndo com firmeza".


Ema Conceição

Noémia Santos disse...



Diogo

É certo. E essa soturnidade vai aumentando com a noite entrada, depois nas partes 3 e 4, sobretudo. É uma Lisboa mais pesada, mais negra, mais «sem saída» - já não é a dor do poeta mas a grande DOR HUMANA (vai espreitar o final, na 339.

Noémia Santos disse...


João M.

«é como uma câmara de filmar em que a lente são os seus olhos em que transparece a sua personalidade, ou seja, ele é realista e objetivo, mas aplica ao que vê um grau de subjetividade só sua. É assim para a maioria dos seus poemas ou destaca-se mais neste?»

Esta questão é essencial em CV. De facto, neste poema, como é uma peça longa, em crescendo, pode notar-se muito bem esse balanço entre observação e efeito do observado no sujeito - o poeta é alguém que observa o real e reage ao observado.

Mas acontece em todos os poemas, porque é um elemento estruturante do modo de fazer poesia de CV.

Tens de dar uma olhadela, por ex, no «Num Bairro Moderno» - p. 325 - em que após descrição hiperconcreta e realista, o sujeito diz : Subitamente,- que visão de artista!» e começa a imaginar, reagindo àquele cenário.

O da ficha formativa também é bom.

Anónimo disse...

Bom dia professora!
Desde já, gostava de realçar a minha admiração pela escrita de Cesário Verde, essa não podia passar em branco. Acho incrível a maneira como Cesário olha para a sociedade, admiro imenso a sua capacidade de observação e de captar a realidade.
Ao longo do poema são utilizadas várias expressões, tais como: “ao anoitecer”; “sombras”; “nossas ruas”, que nos permitem perceber que o poeta é observador. Para além de recorrer a expressões de perceção visual, recorre também a adjetivos, advérbios e recursos expressivos que refletem a sua visão sobre o mundo e a sua realidade.
Encontrei também algumas dificuldades na questão 7 mas reparei que já foi respondida. Vou ler com atenção e se mesmo assim surgir alguma dúvida, coloco.
Beatriz Júlio, 11ºA

Anónimo disse...

Bom dia, professora!
Relativamente a deambulação, no PowerPoint que a professora disponibilizou percebemos que esta será recorrente na poesia de Cesário. O poema "Sentimento dum Ocidental" não é exceção, Cesário observa a cidade, o seu movimento, a sua confusão, as notórias desigualdades que depois são colocadas no poema da forma mais dura e real possível. Cesário não esconde a realidade por baixo de palavras bonitas, demonstra as coisas como são por mais degradante que seja.
Para além disso quando nos referimos à deambulação podemos observar duas perspectivas do eu "observador" uma mais atenta e compassiva e outra mais melancólica e ausente. No "Sentimento dum Ocidental" acho que é possível observarnos as duas: a primeiras quadras do poema mais melancólicas e tristes, transmitindo-nos a ideia da fuga/ evasão (outro aspeto da poesia de CV) e as restantes mais atentas e observadoras da realidade lisboeta, dos trabalhos e das profissões mais difíceis, onde Cesário demonstra a sua simpatia por aqueles que menos têm.

Catarina Martins, 11°A

Anónimo disse...

Professora, tendo em conta a realidade que o poeta enfrenta, faz com que este sinta necessidade de evasão?
Bruna Cuco, 11ºA

Anónimo disse...

Bom dia professora, queria esclarecer uma dúvida sobre a minha interpretação deste poema.
Cesário Verde começa por dar uma visão de Lisboa desconhecida nas suas outras obras, mais escura e melancólica como referido no 2º verso mas à medida que avança na sua descrição a cerca de Lisboa parece relacionar-se com a cidade e encaixando-se nesta realidade aproximando-se até de Camões pela sua visão mais poética. Tinha dúvidas se tinha interpretado bem.
Carolina Sousa

Rafael Raposo disse...

Bom dia professora,

Nos versos 5-6 e 33-34 Cesário menciona "O céu parece baixo e de neblina, O gás extravasado enjoa-me" e também "Reluz, viscoso, o rio".
Fiquei com dúvidas se com "neblina" e "gás" CV quereria mencionar a poluição do ar e se "viscoso" seria relativamente á poluição dos rios.
Estaria assim, Cesário a criticar a revolução industrial?

Noémia Santos disse...



Carlos D. - hoje a pergunta 1 milhão de § é tua:

«No verso 25, “E o fim da tarde inspira-me ; e incomoda!”, as palavras “inspira-me” e “incomoda” parecem contradizer-se, pois a primeira palavra tem sentido positivo e a segunda um sentido negativo.»

Superinteressante: sim, isso é não só novo na nossa poesia - os temas, as palavras, as figuras, a vida real - mas como bem observas, o que é genial é que CV - como poeta, como artista, como esteta - vê beleza poética nisso tudo; não acha a desgraça bonita, não é isso. Reconhece, isso sim, que todo este universo gigante, perturbador, contrastante, tanto enjoa e perturba como seduz, inquieta, atrai e inspira, como motivo poético, reflexão, observação.

É isso mesmo. Como na vida.
Nós somos simultaneamente observadores e influenciados/movidos pelo que observamos... A diferença do vulgo, é que CV viveu isso com grande génio e uma inovação das palavras poéticas invulgar, nova.

Noémia Santos disse...



Francisco e Miguel (e os outros)

Mais do a adjetivação - da 4. - a que já respondi, gostava que vissem:

ENUMERAÇÃO
COMPARAÇÃO
METÁFORA
SINESTESIA


Todas estão magistralmente exemplificadas. Encontrem os exemplos.

Se têm dúvidas digam.

Noémia Santos disse...



Bruna C.

Sim, significam tristeza - não sei se profunda se vaga -. Mas para o final do poema (parte IV)há mais revolta,apelo, revolta, se quiseres, o que desfaz essa «melancolia» e a transforma em ação, digamos. Vai lá espreitar as últimas estrofes do poema...

Noémia Santos disse...

Catarina, as tuas observações são corretas.
Sugiro que faças como referi à Bruna C.
No poema essa soturnidade vai transformar-se noutra coisa ainda - mais forte, mais "radical", mais energética e de denúncia.

Noémia Santos disse...



Beatriz S.

As varinas, referente à questão 3.

Repara como «as varinas» são descritas: com que são comparadas - com um «cardume negro» porque se vestiam normalmente de preto, por luto (havia sempre um pai, um marido, um irmão, um filho morto na faina); depois compara a Hércules, sabes quem foi, na mitologia? E os troncos delas parecem o quê?....

E apesar de tudo riem, na galhofa...

E vê a metáfora das canastras como berços - é triste mas bonita, a metáfora.

É toda esta transformação - feita de comparações, de imagens, de adjetivos para caracterizar estas criaturas tão simples, mas belas à sua maneira e enérgicas, fortes, no seu sofrimento e trabalho.

Certo?

Anónimo disse...

Muito obrigado pelos esclarecimentos, professora.
A turma irá agora ter uma avaliação a filosofia, pelo que se nos dispensasse agradeceríamos.
Mais uma vez, obrigado.

Noémia Santos disse...


Carolina O.

«...povoada de uma maioria de pessoas desgraçadas, a contrastar com uma minoria feliz. O que a professora acha sobre isto?»

Como já observei noutro comentário, o Centenário de Camões - a que o número da Revista era dedicado - foi o ponto de partida para Cesário pensar, descrever, por os leitores a refletir sobre esta Lisboa de 1880 e, por contraste, traçar aqui um longo poema contrário à ideia normal de «homenagem» aos Descobrimentos, às grandezas e glórias traçadas em Os Lusíadas.
Mas, Carolina, CV não é um panfletário nem faz aqui agitação política - faz poesia, que sim, denuncia, alerta, abre os olhos, mas também está povoada de «soturnidade» e «melancolia» do próprio sujeito poético.

Anónimo disse...

Os troncos delas parecem pilares como referido no texto.

Certo, muito obrigada! estava com dificuldades a entender mas depois da explicação da professora fiquei mais esclarecida e assim já consigo realizar a pergunta.

Tenha um bom dia.
Beatriz Silva

Noémia Santos disse...


Miguel M.

Questões interessantes essas que retomas.

Como referi aos colegas, sim esta Lisboa de 1880 tem pouco de épico e de soberbas naus - tem navios, embarcações de carga, mercantis...

Mas é sobretudo o contraste não entre o real concreto de dois tempos (miséria, mercantilismo, contrastes abundavam na Lisboa camoniana, mas entre uma visão digamos mais inovadora, virada para fora, aberta ao mundo, de descoberta, energia, criatividade, grandeza - como a fixada por Camões em Os Lusíadas - e uma Lisboa pequenina, sem chama, sem alma.
O mar das Descobertas é, em Sentimento, um «sinistro mar» - o mar da dor humana.

Deve ter sido linda a reação dos leitores bem pensante e de certos críticos quando viram este poema tão anti-épico para comemorar o nosso épico!!!

Noémia Santos disse...



Ema

Agradeço o contributo relativo aos recursos. Estão todas muito bem.

Não esqueças - não esqueçam - os versos 39-40 - dos mais belos e brutais da nossa poesia portuguesa.

Noémia Santos disse...


Alexandre

A cor de Londres era normalmente descrita como cinzenta pardacenta, por causa do «fog» industrial.

É constatação - Lisboa começava a industrializar-se e, pelo menos esteticamente, Cesário tira partido desse ambiente. Não era pera doce - os fumos industriais, mais o cheiro dos candeeiros a gás, mais a falta de higiene de algumas ruas...

Noémia Santos disse...


Teresa - Sim, Lisboa é uma cidade de contrastes e CV destaca-o. Uma das formas de realçar contraste é através de antíteses.

Agora - em que antíteses estás a pensar? Encontra os exemplos e elabora a resposta, no caderno.

Vai ajudar.

Noémia Santos disse...


Maria Oliveira

Fizeste bem perguntar.

A pergunta é um pouco estúpida...Não a poríamos assim: não se trata de predileção, mas convenhamos, em termos sociais, de observação, artísticos, há mais a dizer daquelas mulheres, em grupos grandes, vestidas de negro, de pernas engrossadas pelas horas em pé e carga, descalças, na galhofa, com as canastras à cabeça - que de um empregado da loja que está à porta.

É uma diferença mais poética, creio, que social. Embora CV sempre destaque essa faceta da dificuldade de certas profissões. No poema que vão trabalhar na ficha fala-se de «vida tão custosa».

Noémia Santos disse...



Catarina Martins

Certíssimo e bem observado.

Só uma palavra para a DEAMBULAÇÃO - o andar de um lado para outro, sem destino certo, andar errante/errar:

É uma estratégia poética - CV faz como se estivesse a andar, casualmente, e surpreendesse a vida, observasse os acasos, como o tal «cineasta» ou fotógrafo.

Neste poema isso é particularmente importante - o poeta viaja noite dentro e capta o real, claro que filtrado pela sua sensibilidade e imaginação.

Noémia Santos disse...



Bom trabalho de Filosofia!

Nunca fiquem quando têm outras tarefas. Eu respondo a dúvidas que tenham sido postas e depois veem. Essa é uma vantagem deste meio.

A partir de 6ªf. vejam as correções e comecem a preparar a Ficha formativa.

Boa semana!

Noémia Santos disse...


Faltou responder a B. Júlio

Interessantes observações.

Agora, o desfio:
para cada uma das afirmações seguintes, regista 2 exemplos, para que fique clara a forma como CV constrói este mundo para o trazer aos seus leitores.

«Para além de recorrer a expressões de
- perceção visual,
- recorre também a adjetivos,
- advérbios e
- recursos expressivos que refletem a sua visão sobre o mundo e a sua realidade»

Se tiveres dúvidas, pergunta, por escrito ou na aula de 6ª f. , no Teams.

Noémia Santos disse...



E à Carolina S.
«mas à medida que avança na sua descrição acerca de Lisboa parece relacionar-se com a cidade e encaixando-se nesta realidade aproximando-se até de Camões pela sua visão mais poética.»

Não sei se a visão vai ficando «mais poética»... Creio que te referes à subjetividade, à visão do poeta ganhar algum terreno à descrição, no final.

A aproximação a Camões e a Os Lusíadas terá a ver com o retomar do tópico da «frota dos avós» e de um «eu» que passa no final (parte IV) a «nós»:
«Ó nossos filhos», «Nós vamos explorar todos os continentes», etc.

De qualquer modo, eu pus para trabalharem a parte I por ser ainda menos complexa.
Teremos muita ocasião de voltar ao 'Sentimento...' para o ano.

Vai dar boas discussões.

Noémia Santos disse...

Errata

Na resposta à Carolina O., é «pôr», claro, em «pôr os leitores a refletir sobre esta Lisboa de 1880».

Também há 1-2 parêntesis por fechar. Sorry!

Noémia Santos disse...

Rita, quanto à tua interessante e, talvez, irrespondível, questão:
« “um desejo absurdo de sofrer”. A minha questão é o porque esse desejo, uma quase necessidade, de sofrer, se o próprio eu
lírico o considera absurdo?»

A chave é, seguramente, o «absurdo» - o sujeito poético é observador - das ruas, das sombras, do Tejo, mas também permeável a isso que o rodeia - como se a tristeza, as sombras, do final do dia entrassem por si dentro.

MAS - e é muito interessante - o poeta mantém distância crítica em relação a esse sentimento, não se deixa levar inteiramente embalado por tal «desejo de sofrer». Como sabemos? Pelo adjetivo «absurdo», no sentido de sem explicação, ilógico.

Ficou mais claro? Ou com mais «sombras»?

Noémia Santos disse...

Caro Rafael
Pir lapso, não respondi à tua questão. Aqui fica.
Lembras o texto escrito, de Mari Filomena Mónica? Não foi por acaso que o escolhi.
Vês, neste poema, o interesse histórico-social de CV, a par do literário, certo?
O gás era o dos candeeiros a gás- mesmo - utilizados desde 1848. Não eram muitos, mas concentravam-se neste centro de Lisboa.

Como seria de esperar, e porventura também falta de manutenção, havia fugas, algum gás extravasava e misturava-se com a neblina própria da beira-rio... criando uma "névoa" - perturbadora, enjoativa, mas muito cinematográfica.

Quanto à viscosidade do Tejo adivinha da itensa atividade portuária e, claro, da falta ou escassez de tratamento dos esgotos e resíduos.

Reparaste que há uma sinestesia - "reluz" é Visão; "viscoso" remete para Tato.
Todos os sentidos se misturam.

Espero ter sido útil.

Noémia Santos disse...

Errata
Pir!!! Por lapso, claro.
E Maria, com a no fim.
E intensa.

Noémia Santos disse...

...desafio, desafio...

Anónimo disse...

SOTURNIDADE- algo sombrio/aterrador
MELANCOLIA - tristeza profunda e duradoura
BULÍCIO - grande movimento de pessoas
TURBA- multidão
HERCÚLEAS- que tem ou revela força extraordináraia
GALHOFEIRAS- alegre

Professora sobre estas palavras menos conhecidas, no video da RTP falaram que Cesário usava adjetivos FORTES mas NOVOS, é o caso ?
Martim Miranda