Paris vue du grand Palais Champs Elysées - Gravura
Quem é Jacinto?
Jacinto era um homem de
grandes posses, quer financeiras, quer agrícolas. “[…] Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos
de renda em terras de semeadura de vinhedo, de cortiça e de olival.”
Nascera e crescera num palácio “(…) em Paris, nos Campos
Elísios, nº202.”
Era descendente de uma
antiga família, com vastas propriedades agrícolas (1) dedicada ao campo “(…) os campos desta velha família agrícola
que já entulhava o grão e plantava cepa em tempos de el-rei D.Dinis.”
Aprendia com rapidez e
era inteligente
“As letras, a Tabuada, o Latim entraram por ele tão facilmente como o sal por
uma vidraça.”, destacara-se entre os colegas por ser um vencedor, “o Rei
que se adula”.
Partilhava de uma grande
amizade com José Fernandes, desde o tempo em que andaram juntos na Universidade (2) s Escolas do
Bairro, este tratava-o por “o Príncipe da Grã-Ventura”.
Para si a felicidade
baseava na civilização, na cidade, na ciência, e na sabedoria “Suma potência
x Suma ciência = Suma felicidade”
Que mudanças vive?
Durante
a sua vida passa por um período turbulento, de grande mágoa e angústia.
Muda-se [...] para Tormes, no Baixo Douro, com algum pesar e
hesitante da sua decisão, “E recolhemos sem que Jacinto emergisse do silêncio
enrugado em que se abismara, (…) como remoendo pensamentos decisivos e fortes.”
Apesar
das inseguranças, ambos os amigos tiveram uma boa adaptação à vida campestre.
Construiu
família, teve dois filhos, tornou-se por isso mais responsável.
Era
agora um homem equilibrado, adepto ainda do progresso como melhoria da vida, mas sem os exageros de Paris: “Mas onde eu reconheci que
definitivamente um perfeito e ditoso equilíbrio se estabelecera na alma do meu
Príncipe, foi quando ele, (…) – entreabriu a porta de Tormes à Civilização.”, “Mas
os confortos mais complicados, (…) foram, com surpresa minha, desviados para os
sótãos imensos”.
Preocupado com a sua família e com os seus trabalhadores, e
disposto a proporcionar-lhes uma vida melhor “Aparecera, vindo de Lisboa, um
contramestre, (…), para instalar um telefone.”.
Que
semelhanças tem com Gonçalo?
Assim
como Gonçalo criticou o país, também Jacinto criticou a Cidade - “E a Cidade a maior
ilusão!”.
Ambos
partilharam da vontade de mudar o país/a sociedade, de o tornar melhor.
Após
uma reviravolta nas suas vidas (a eleição de Gonçalo e a sua estada em Lisboa;
um período mais negro e turbulento na vida de Jacinto) ambos decidem partir –
Gonçalo para África; Jacinto para Tormes.
Depois
desta mudança fulcral nas suas vidas, ambos se tornam melhores cidadãos, mais
cientes do mundo ao seu redor. E, no final, Jacinto, “Aquele ressequido galho da cidade, (…),
rebentara em flores, forte, sereno, ditoso, benéfico, nobre, dando frutos,
derramando sombra.”.
(1) A família de Jacinto - como a de Gonçalo M. Ramires - tem Quinta no Douro, Terras por todo o Portugal, mas não "se dedica à agricultura" (isso são os agricultores como o Casco ou o Pereira): vive em Paris, vive dos rendimentos agrícolas. Em Portugal tem feitores, capatazes, rendeiros... Percebem a diferença social? Lembram-se das formas de tratamento - «Vossa Excelência» (Gonçalo) v/s «Ó Pereira» e «...homem»?
(1) A família de Jacinto - como a de Gonçalo M. Ramires - tem Quinta no Douro, Terras por todo o Portugal, mas não "se dedica à agricultura" (isso são os agricultores como o Casco ou o Pereira): vive em Paris, vive dos rendimentos agrícolas. Em Portugal tem feitores, capatazes, rendeiros... Percebem a diferença social? Lembram-se das formas de tratamento - «Vossa Excelência» (Gonçalo) v/s «Ó Pereira» e «...homem»?
Sorbonne - 1
(2) A referência ao Bairro não se repora a nenhuma escola pequena, dum bairro, mas ao Quartier Latin (Bairro Latino) que não é só um «bairro», é uma vasta área central de Paris que
engloba o bairro número 5 e uma parte do 6. Aí temos uma concentração de
universidades e de escolas. Na idade média, o ensino era ministrado em
latim, daí o apelido. O ponto central é a Sorbonne, na avenida Saint Michel.
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