terça-feira, 7 de junho de 2016

Histórias trágico-marítimas IX


Gazeta da cidade de lisboa

Jorge de Albuquerque e a sua tripulação – do pânico à esperança

        No dia 9 de novembro deste ano da graça de 1565 a nau Santo António, comandada por Jorge de Albuquerque Coelho, regressa a Lisboa depois de um ano fora e quisemos ser os primeiros a saber como tinha sida a longa viagem.

        -Boa tarde capitão Albuquerque Coelho. Sabemos que vem cansado da viagem, mas gostaríamos de registar o seu testemunho, ainda que breve. Houve algum momento durante a viagem que sentiu que seria o fim?
        -Sim, claro. Ao longo do nosso percurso existiram vários momentos de desespero, mas aquele em que tudo podia terminar foi a 21 de junho, ao virar a costa de S. Tomé e Príncipe na viagem de regresso, rumo a Lisboa. Escureceu num abrir e fechar de olhos e, sem tempo de nos precavermos, as ondas negras e turbulentas fizeram-nos colidir com uma rocha, destruindo o gurupé. O pânico instalou-se. Perdemos repentinamente o controlo do barco, ficando à mercê da tempestade e das correntes, a proa encheu-se de água e para evitar o naufrágio, os meus tripulantes atiraram borda fora os seus bens pessoais assim como as mercadorias trazidas das nossas paragens.
        -Como é que os tripulantes reagiram a esse desespero?
        -Quando as ondas começaram a varrer os meus homens para fora do barco os que conseguiram agarrar-se, impotentes, gritavam e choravam desesperadamente pelos outros. Bem acredito que a alguns lhes tivesse passado pela cabeça acabar com a própria vida.
        -Como é que controlou e encorajou os seus tripulantes a superar esse momento e chegar ao destino?
        -Já passei por muitas tempestades e problemas a bordo, mas nenhuma como esta. Nunca tivera antes a sensação de perder o controlo, mas temos de vencer o nosso espírito egoísta. Assim, pensei nos meus homens e nas suas famílias que os aguardavam e comecei a orientá-los.
Começámos por nos alinhar no centro da nau para restabelecer o equilíbrio, outros retiravam a água da nau e os restantes taparam o buraco causado pela colisão com pranchas de madeiras e sacas de batata. Pedi que se unissem e rezassem para que Deus nos ajudasse naquele momento de aflição. A partir dali ouvi promessas que só um homem em desespero faz, promessas de bens e de sacrifícios.
        -Se pudesse voltar atrás mudava alguma coisa na sua atitude como capitão?
        -Não mudava nada na minha atitude e espero que tal situação não se repita, mas se acontecer teremos de agir mais rapidamente para melhor controlo dos tripulantes.
        -E por último, quais as qualidades mais relevantes num bom capitão?
        -São, sem dúvida nenhuma, ter esperança, manter sempre a calma, ter autocontrole, coragem, ser altruísta e ter discernimento.
        -Muito obrigada pelo seu tempo.
Porto de Lisboa no séc. XVI
 
Beatriz Guerra 10ºB
Carolina Moço 10ºB
Miguel Andrade 10ªB
Sofia Ferreira 10ªB

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