quinta-feira, 9 de abril de 2020

Eça de Queirós - Os Maias e A Ilustre Casa de Ramires (trabalho)


Relação entre as obras Os Maias e A Ilustre Casa de Ramires
de Eça de Queirós

"Relativamente ao capítulo XVIII de Os Maias, este excerto inicia-se com o propósito de toda a obra: “E esse ano passou. Gente nasceu, gente morreu. Searas amadureceram, arvoredos murcharam.” Com efeito, não houve mais ações. Ninguém havia feito nada para alterar o que quer que fosse. Entre esse “ninguém” encontra-se Carlos da Maia. 

Esta personagem utiliza expressões como "E tudo isto friamente, com uma conclusão lógica. Por fim dez anos passaram, e aqui estou outra vez... (…) E mais gordo!” que permitem ao leitor afirmar o supracitado. A última afirmação referida é bastante caricata, uma vez que quem age, quem não se fica por criticar, não engorda, estando tão empenhado em fazer algo que não se dá a esse luxo. 

Para além disso, afirma que em dez anos de sua vida, nada havia acontecido – “ E aqui tens tu uma existência de homem! Em dez anos não me tem sucedido nada” –, bem como que pensara em se matar, que pensara em ir para a Trapa, porém, tudo não passara disso mesmo, do pensamento - “Pensei em me matar. Pensei em ir para a Trapa. E tudo isto friamente, com uma conclusão lógica. Por fim dez anos passaram, e aqui estou outra vez...” – e, por último, constatamos que, de acordo com Carlos, “ (…) não vale a pena viver...”, porém Ega (que está para Os Maias assim como «Titó» está para A Ilustre Casa de Ramires) afirma que “Depende inteiramente do estômago!”, ou seja, ironicamente,  a seriedade da conclusão é logo desfeita pela afirmação seguinte, como se se recusassem a levar alguma coisa a sério. .

Constatamos que a única ação presente é a corrida para chegar a tempo ao «Americano», para a qual o leitor não chega a saber o desfecho, ficando a interrogar-se se “vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa alguma”.

De acordo com este excerto, Portugal encontra(va)-se numa má situação, sendo que são utilizadas as “botas despropositadamente compridas, rompendo para fora da calça colante com pontas aguçadas e reviradas como proas de barcos varinos” para exemplificar a mesma. Estas botas seriam já distintas das utilizadas no reinado de D. João VI, uma vez que Portugal decidira modernizar-se, porém, este processo não trouxe nada de distinto, de único, de significativo – “Porque essa simples forma de botas explicava todo o Portugal contemporâneo. Via-se por ali como a coisa era. Tendo abandonado o seu feitio antigo, ao D. João VI, que tão bem lhe ficava, este desgraçado Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, um feitio próprio”. Sem ser capaz de utilizar a vertente criativa, por assim dizer, importa tudo o que pode, desde modelos de botas a sistemas de ensino, “em todas as classes e profissões”, sendo afirmado que “é o que sucede com os pretos (…), que vêem os europeus de lunetas - e imaginam que nisso consiste ser civilizado e ser branco”, ou seja, aos olhos da época, seria uma ofensa ser comparado a “pretos já corrompidos de S. Tomé”.

Por fim, é referido que “Já não há nada genuíno neste miserável país, nem mesmo o pão que comemos!”, ou seja, estamos tão dependentes das ideias de ou de iniciativas de outro que ficamos “à sombra da bananeira”, restringindo-nos a imitar.

Relativamente às semelhanças com a personagem principal de A Ilustre Casa de Ramires, Carlos da Maia assemelha-se na medida em que pensara vir a ter uma intervenção na política portuguesa, “Quando voltara de França, ultimamente, pensara em entrar na diplomacia”, sendo que, ambos se apercebem de que esta opção  não está correta, “Por fim, em que consistia a diplomacia portuguesa? Numa outra forma da ociosidade, passada no estrangeiro, com o sentimento constante da própria insignificância”. 
Bem “como Carlos lembrava a Política, ocupação dos inúteis”, “ (…) bonecos de engonços, que faziam gestos e tomavam atitudes porque dois ou três financeiros por traz lhes puxavam pelos cordéis...”, Gonçalo havia demonstrado ser um dos “inúteis”, com falta de caráter que se deixam levar, que tivera essa ocupação, mesmo que o proprietário da Torre tivesse dado mais importância ao sonho de entrar na política do que realmente em vivê-la (uma vez que esta passagem ocupa um parágrafo na obra).

Contrariamente a Carlos e mesmo que de forma tardia, Gonçalo passa à ação, não se fica apenas pela queixa, farta-se de fugir, de ter medo e enfrenta a situação, como quando utiliza o seu chicote.

Concluindo e comparando as personagens principais das três últimas obras de Eça de Queirós, verifica-se que este autor recorre a um aumento no caráter das personagens principais, sendo que Carlos da Maia não chega a agir, Gonçalo Mendes Ramires faz algo, mesmo que tarde, e Jacinto é o que apresenta maior predisposição para enfrentar as situações."

Autoria: B. Roque, 11º A 



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