quarta-feira, 8 de abril de 2020

Os Maias - trabalho de Português


    "   - Nos fins de 1886, Carlos da Maia foi passar o Natal na casa do marquês de Vila-Medina (um amigo seu de Paris), onde decidiu escrever para Lisboa a João da Ega anunciando que após quase dez anos decidira ir a Portugal.

       - Numa manhã de janeiro de 1887, os dois amigos almoçavam finalmente juntos. Ega encontrava-se “radiante, numa excitação que não se calmava” e admirava a «imutabilidade» de Carlos, dizendo que “Tudo isso é Paris, menino!... Lisboa arrasa.”

       - Falam da ociosidade e Ega pergunta por Carlos. Este já havia pensado em entrar em diplomacia mas depois refletiu sobre em que é que consistia a diplomacia portuguesa: “Numa outra forma da ociosidade, passada no estrangeiro, com o sentimento constante da própria insignificância.” Assim que lembra a política, “ocupação dos inúteis”, Ega irrita-se: “A política! Isso tornara-se moralmente e fisicamente nojento, desde que o negócio atacara o constitucionalismo como uma filoxera!”

       - Enquanto iam ao Ramalhete visitar o casarão dos Maias, Ega continua a barafustar contra os políticos pois no fim, “esta nossa vidinha de Lisboa, simples, pacata, corredia, é infinitamente preferível.”

       - Assim que chegaram ao Loreto, Carlos para e conclui que com o passar dos anos nada mudara: “- Isto é horrível quando se vem de fora! - exclamou Carlos. Não é a cidade, é a gente. Uma gente feiíssima, encardida, molenga, reles, amarelada, acabrunhada!...”. 

       - No entanto, Ega afirma que “Todavia Lisboa faz diferença” e Carlos fica pasmado com aquilo que viu depois: “Pela sombra passeavam rapazes, aos pares, devagar [...]. Era toda uma geração nova e miúda que Carlos não conhecia. [...] O que atraia pois ali aquela mocidade pálida? E o que sobretudo o espantava eram as botas desses cavalheiros, [...]”. 

       - “[...] essa simples forma de botas explicava todo o Portugal contemporâneo.” Portugal modernizou-se mas, segundo Carlos, “sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu”.
       - De acordo com Carlos as únicas coisas genuínas que nos restam são as que fazem parte da velha Lisboa fidalga e histórica, “- De modo que isto está cada vez pior...” 

       - Carlos e Ega passam muito tempo a criticar o país mas, mesmo podendo, nada fazem para o melhorar: “Ainda falavam de Portugal e dos seus males quando a tipóia parou.”. Assim que Carlos avista a fachada do Ramalhete sente uma grande emoção; no entanto, assim que atravessaram o peristilo começaram a observar o quão vazia e “lúgubre” estava a propriedade, e posteriormente, Carlos reflete sobre a sua vida: “- E aqui tens tu a vida, meu Ega! Neste quarto, durante noites, sofri a certeza de que tudo no mundo acabara para mim... Pensei em me matar. Pensei em ir para a Trapa. E tudo isto friamente, com uma conclusão lógica. Por fim dez anos passaram, e aqui estou outra vez...”.

       - Ega pergunta-lhe “se, nesses últimos anos, ele não tivera a ideia, o vago desejo de voltar para Portugal...”. Carlos, surpreso, responde que não pois a sua vida em Paris tinha muito maior qualidade. Depois de considerarem tudo o que havia acontecido nas suas vidas, acabam por concluir que: “falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação.”.
       - Quando sai à rua e olha demoradamente o “sombrio casarão”, comenta com Ega que: “- É curioso! Só vivi dois anos nesta casa, e é nela que me parece estar metida a minha vida inteira!”. Ega não se admira pois segundo este: “Só ali no Ramalhete ele vivera realmente daquilo que dá sabor e relevo à vida - a paixão.”. Quando Carlos o contraria afirmando que isso não passa de uma velha ideia de romântica, Ega replica dizendo: “- E que somos nós? [...] Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento e não pela razão...

       - Refletem sobre o tema: razão vs. emoção, e acabam por concluir que “neste lindo mundo ou tem de se ser insensato ou sem sabor...”
       - Assim, Carlos expõe a sua teoria sobre a vida a Ega que acaba por concordar com ele: ”Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. [...] Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.”
       - Acabam por concluir que não vale a pena esforçarem-se para alcançar alguma coisa na terra pois tudo se resolve. Assim, retardam o passo convencidos “de só encontrar ao fim desilusão e poeira”. No entanto, como estavam atrasados, assim que repararam que a lanterna vermelha do «Americano» parara, contradizem-se através das suas ações, como podemos ver em: “E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço: - Ainda o apanhamos! - Ainda o apanhamos! [...] Então, para apanhar o «Americano», os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia.”

Semelhanças com Gonçalo Mendes Ramires
       - Estatuto social elevado e boas posses financeiras;
       - Ambos seguiram com os estudos, formando-se, sendo homens inteligentes e cultos;
       - Cultivam amizades fortes
       - Tal como Gonçalo, Carlos critica o país, sabendo tudo o que estava errado e mesmo assim, ao contrário do primeiro, não toma nenhuma ação."

Autora: M. Richardo, 11ºC

Imagem: cena do filme Os Maias,  de João Botelho. Nota - os cenários são integralmente pintados, para reproduzir o ambiente descrito na obra.  

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