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- Nos fins de 1886, Carlos da Maia foi passar o Natal na casa do marquês
de Vila-Medina (um amigo seu de Paris), onde decidiu escrever para Lisboa a
João da Ega anunciando que após quase dez anos decidira ir a Portugal.
- Numa manhã de janeiro de 1887, os dois amigos almoçavam finalmente
juntos. Ega encontrava-se “radiante, numa excitação que não se calmava” e
admirava a «imutabilidade» de Carlos, dizendo que “Tudo isso é Paris,
menino!... Lisboa arrasa.”
- Falam da ociosidade e Ega pergunta por Carlos. Este já havia pensado
em entrar em diplomacia mas depois refletiu sobre em que é que consistia a
diplomacia portuguesa: “Numa outra forma da ociosidade, passada no estrangeiro,
com o sentimento constante da própria insignificância.” Assim que lembra a
política, “ocupação dos inúteis”, Ega irrita-se: “A política! Isso tornara-se
moralmente e fisicamente nojento, desde que o negócio atacara o
constitucionalismo como uma filoxera!”
- Enquanto iam ao Ramalhete visitar o casarão dos Maias, Ega continua a barafustar
contra os políticos pois no fim, “esta nossa vidinha de Lisboa, simples,
pacata, corredia, é infinitamente preferível.”
- Assim que chegaram ao Loreto, Carlos para e conclui que com o passar
dos anos nada mudara: “- Isto é horrível quando se vem de fora! - exclamou
Carlos. Não é a cidade, é a gente. Uma gente feiíssima, encardida, molenga,
reles, amarelada, acabrunhada!...”.
- No entanto, Ega afirma que “Todavia Lisboa faz diferença” e Carlos
fica pasmado com aquilo que viu depois: “Pela sombra passeavam rapazes, aos
pares, devagar [...]. Era toda uma geração nova e miúda que Carlos não
conhecia. [...] O que atraia pois ali aquela mocidade pálida? E o que sobretudo
o espantava eram as botas desses cavalheiros, [...]”.
- “[...] essa simples forma de botas explicava todo o Portugal
contemporâneo.” Portugal modernizou-se mas, segundo Carlos, “sem originalidade,
sem força, sem carácter para criar um feitio seu”.
- De acordo com Carlos as únicas coisas genuínas que nos restam são as
que fazem parte da velha Lisboa fidalga e histórica, “- De modo que isto está
cada vez pior...”
- Carlos e Ega passam muito tempo a criticar o país mas, mesmo podendo,
nada fazem para o melhorar: “Ainda falavam de Portugal e dos seus males quando
a tipóia parou.”. Assim que Carlos avista a fachada do Ramalhete sente uma
grande emoção; no entanto, assim que atravessaram o peristilo começaram a
observar o quão vazia e “lúgubre” estava a propriedade, e posteriormente,
Carlos reflete sobre a sua vida: “- E aqui tens tu a vida, meu Ega! Neste
quarto, durante noites, sofri a certeza de que tudo no mundo acabara para
mim... Pensei em me matar. Pensei em ir para a Trapa. E tudo isto friamente,
com uma conclusão lógica. Por fim dez anos passaram, e aqui estou outra vez...”.
- Ega pergunta-lhe “se, nesses últimos anos, ele não tivera a ideia, o
vago desejo de voltar para Portugal...”. Carlos, surpreso, responde que não
pois a sua vida em Paris tinha muito maior qualidade. Depois de considerarem
tudo o que havia acontecido nas suas vidas, acabam por concluir que: “falha-se
sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação.”.
- Quando sai à rua e olha demoradamente o “sombrio casarão”, comenta com
Ega que: “- É curioso! Só vivi dois anos nesta casa, e é nela que me parece
estar metida a minha vida inteira!”. Ega não se admira pois segundo este: “Só
ali no Ramalhete ele vivera realmente daquilo que dá sabor e relevo à vida - a
paixão.”. Quando Carlos o contraria afirmando que isso não passa de uma velha
ideia de romântica, Ega replica dizendo: “- E que somos nós? [...] Românticos:
isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento e não
pela razão...”
- Refletem sobre o tema: razão vs. emoção, e acabam por concluir que “neste
lindo mundo ou tem de se ser insensato ou sem sabor...”
- Assim, Carlos expõe a sua teoria sobre a vida a Ega que acaba por concordar
com ele: ”Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se
abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e
o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias
agrestes e de dias suaves. [...] Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo,
não ter contrariedades.”
- Acabam por concluir que não vale a pena esforçarem-se para alcançar
alguma coisa na terra pois tudo se resolve. Assim, retardam o passo convencidos
“de só encontrar ao fim desilusão e poeira”. No entanto, como estavam
atrasados, assim que repararam que a lanterna vermelha do «Americano» parara,
contradizem-se através das suas ações, como podemos ver em: “E foi em Carlos e
em João da Ega uma esperança, outro esforço: - Ainda o apanhamos! - Ainda o
apanhamos! [...] Então, para apanhar o «Americano», os dois amigos romperam a
correr desesperadamente pela rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira
claridade do luar que subia.”
Semelhanças
com Gonçalo Mendes Ramires
- Estatuto social elevado e boas posses financeiras;
- Ambos seguiram com os estudos, formando-se, sendo homens inteligentes
e cultos;
- Cultivam amizades fortes
- Tal como Gonçalo, Carlos critica o país, sabendo tudo o que estava
errado e mesmo assim, ao contrário do primeiro, não toma nenhuma ação."
Autora: M. Richardo, 11ºC
Imagem: cena do filme Os Maias, de João Botelho. Nota - os cenários são integralmente pintados, para reproduzir o ambiente descrito na obra.
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